Capítulo 39

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Existe um ditado que fala assim "Mantenha seus amigos perto e seus inimigos mais perto ainda".
De uma coisa eu tinha certeza, a Tessália não era a minha amiga, mas isso também não a tornava minha inimiga. O que ela havia feito, invadido minha vida, meus problemas, meu relacionamento, foi realmente algo imprevisível de um jeito totalmente ruim, mas vê-la ali, parada em minha frente, exalando auto confiança e uma fisionomia cansada, poderia mesmo representar uma ameaça. Mas não.
Se ela imaginou que vindo até aqui me faria cuspir fogo, estava totalmente enganada.
Eu faria o que fosse preciso para que se sentisse tão mal, quanto eu estava me sentindo nas últimas semanas.

- Prometo não tomar muito do seu tempo - ela disse sem tirar os olhos do meu rosto - Só preciso esclarecer algumas coisas.

Olhei para o Gabriel que parecia ainda mais assustado que eu, e num gesto de cabeça, pedi para que ele nos deixasse sozinhas.
Antes que pudesse abandonar o estacionamento, senti sua mão apertar meu ombro. Eu sorri em sua direção e me encostei no carro, cruzando os braços em frente ao peito.

Vi os olhos da Tessália ganharem um pouco de divertimento e eu deixei meus braços caírem ao lado do corpo. Eu não estava tensa, muito menos nervosa. Não queria que aquele gesto denunciasse que eu queria me proteger de algo. Afinal, ela estava num lugar que era meu. Quem deveria se sentir mal por estar ali era ela e não eu.

- Eu acho sinceramente que você está perdendo o seu tempo - digo impassível, controlando o nó que se forma em minha garganta. Por algum motivo, tê-la ali me lembrava da parte mais bonita que existiu em minha vida. Ele.

- Você só precisa me ouvir, Chloe.
- É o que estou fazendo.
- Podemos ir até sua sala, seria mais confortável.

Olhei ao redor no estacionamento notando o mínimo de movimento e soltei uma respiração exasperada. Obriguei meus pés darem alguns passos até o elevador e ouvi o som dos sapatos da Tessália tilintarem atrás de mim. A quem eu queria negar? A presença dela me incomodava tanto quanto a dor no peito que estava sentindo no último mês.

Entramos naquele cubículo de aço e tomamos lugares opostos. Senti todo meu corpo ficar tenso ao notar pelo canto do olho que ela me encarava fixamente. Essa não era a hora de recuar. Desviei meus olhos da porta à minha frente e a encarei da mesma forma, tensionando o maxilar, torcendo para que adquirisse uma forma ameaçadora, pra tentar disfarçar o que estava destruído em mim.

O barulho no painel mostrou que o andar já havia chegado. As portas abriram-se e eu segui o caminho da minha sala. Alisei minha saia preta antes de girar a maçaneta da porta e entrar naquele lugar que me pertencia.

Quando ouço os ruídos do corredor cessarem, viro na direção da mulher e abro um sorriso sarcástico.
- Tenha bom senso e não gaste muito do meu tempo - eu digo sem piscar.
- É uma bela sala, Chloe. Eu tenho certeza de que iria adorar trabalhar aqui.

Que? Onde ela estava querendo chegar com aquele papinho furado? Eu devo ter feito mesmo uma cara de muito desprezo, porque ela logo se recompôs e voltou a me olhar com aquele semblante calmo.

- Faz tempo que não falo com o Nicolas - ela começa e logo depois solta um suspiro profundo - tempo demais se quer saber.
- Continue - eu ainda tentava acompanhar a linha de raciocínio dela.
- Não falo com o Nicolas desde que ele admitiu estar apaixonado por você, Chloe. E se quer saber, foi mesmo algo que eu odiei ficar sabendo.

Revirei os olhos, porque estava realmente começando a ficar entediada.
Ela riu de um jeito triste e continuou:

- Fui eu quem criou o projeto de pesquisa baseado em jovens alcoólatras. Fui eu quem pediu pra que ele procurasse vítimas dessa doença.
- Eu não sou doente - digo entre dentes.
- Eu não disse isso - fala arqueando uma das suas belíssimas sobrancelhas e pela primeira vez noto os círculos escuros ao redor de seus olhos - Mas você apareceu embriagada, um alvo fácil demais para uma pesquisa tão complicada.

Eu sou o arrepioOnde histórias criam vida. Descubra agora