Capítulo 12

2.4K 150 17
                                    

Quando cheguei em casa depois daquele dia corrido de trabalho, encontrei a Hanna sentada no chão da sala vendo TV.
- Olá chefe! - Ela disse levantando-se e me abraçando.
Retribui o abraço e olhei ao redor. Tudo estava limpo e organizado. Com toda certeza, ela aproveitou que eu estive fora na noite anterior pra dá uma geral no apartamento.
- Fiquei sabendo que tem vinho, cerveja e champanhe... O que vamos comemorar?
Ela riu e caminhou para cozinha, pegou duas taças no armário e uma garrafa de Domaine Les Grands Bois, nosso vinho francês preferido.
- Vamos comemorar tudo! Principalmente sua noite com o Dr. Delícia.
Balancei a cabeça e dei uma gargalhada. Sentamos no sofá e a Hanna encheu nossas taças. Comecei a contar sobre como o dia havia sido longo e exaustivo na empresa e como marcamos o jantar de ultima hora. Contei nossa conversa sobre alcoolismo e sua pesquisa, da qual eu o ajudaria. Senti a Hanna ficar um pouco tensa. Falei também que ele me esclareceu tudo o que aconteceu no hospital, na sexta-feira passada. Hanna ouvia atentamente de vez em quando dando goles em seu vinho. Eu fazia o mesmo. Ela perguntou o que jantamos e eu respondi "pizza".
- Pizza? Sério? Ele me parecia ser tão sofisticado.
Ela disse fazendo cara de deboche. Dei risada.
- E é. Ou comia pizza, ou morreria de fome beliscando uma salada. Você sabe minha aversão a saladas.
Bebi mais vinho e falei sobre meu pai ter ligado no meio de um quase beijo. Ocultei o surto do Nicolas por eu ter bebido antes de encontrá-lo, a Hanna não iria gostar daquilo e é claro que iria ficar do seu lado. Ele parecia ser muito bom em ganhar as pessoas. Ele havia me ganhado.
Quando falei sobre ele ter me levado até a casa do meu pai, e nosso beijo na escada de emergência, Hanna deu gritinhos como uma adolescente.
- Isso foi sexy... Você ficou excitada?
Arregalei os olhos e passei o indicador na borda da taça. Eu tinha ficado excitada?
- Bastante. - respondi - Acho que minha calcinha ficou enxarcada. Não lembro bem.
Hanna estreitou os olhos. Continuei falando sobre ter apresentado o Nicolas como namorado de seu irmão, o Léo.
- Chloe, você fez isso? Oh meu Deus! Nem consigo imaginar a cara do Nicolas. E o seu pai?
- Ele adorou o "namorado" do Léo. Pediu pra que cuidasse muito bem do seu irmão. Já o Nicolas, quase teve um troço. Ficou branco como cera, mas entrou no jogo.
Rimos e eu enchi nossas taças novamente.
- Você é tão malvada.
- Eu sei. Mas ele tava merecendo. Bom, conversei com meu pai sobre a construtora e ele ficou muito feliz com meu desempenho. E aí nos despedimos. Pedi pro Nicolas me trazer de volta, mas acordei em sua cama.
- Vocês transaram?
- Não - falei um pouco alto - Eu estava muito cansada pra isso. Na verdade eu não me lembro de nada, Hanna. Voltamos para o carro e eu apaguei. Acho que ele tinha razão quando disse que eu estava sobrecarregada com a empresa.
Observei sua testa franzir.
- Não se lembra de nada? Nem de como saiu do carro e chegou até a cama dele?
- Não - falei, descalçando os sapatos e cruzando as pernas em cima do sofá - Ele deve ter me carregado... sei lá.
O apito do forno soou, indicando que algo estava pronto.
- Você cozinhou!
- Chloe, você não acha isso estranho?
Hanna perguntou me observando com atenção.
- Isso o que? Você cozinhar?
- Não! Você não lembrar de nada. Eu sei que o Nicolas é gentil, ele já provou isso muitas vezes, mas...
- Você acha que ele me deu algo pra... apagar?
Deixei a taça sobre a mesa de centro e coloquei as mãos no rosto. Pra que merda ele me daria algo pra dormir? Já tínhamos demonstrado que queríamos um ao outro, não precisava me dopar.
- Chloe, eu não acho nada. É uma possibilidade que eu espero está errada.
- Mas faz um pouco de sentido. Eu deveria ao menos lembrar de como tirei a roupa e me enfiei na cama dele.
Hanna levantou indo pra cozinha. Fui atrás dela e parei no balcão. Minha cabeça estava girando, e eu não sabia se era por causa do vinho ou da possibilidade do Nicolas ter me dado algo para dormir.
- Agora eu to preocupada.
Hanna tirou do forno o que parecia ser lasanha, minha barriga roncou.
- Porque não pergunta a ele?
- Acha mesmo que ele vai dizer? Trocamos mensagens pela tarde inteira de hoje e ficou tão claro que ele queria ir pra cama comigo, mas não achei que ele fosse tão baixo ao ponto de...
- Chloe - Hanna me interrompeu, colocando dois pratos sobre o balcão e servindo-os - Não fica imaginando coisas, eu disse que é uma possibilidade e não o que de fato ele tenha feito. Se eu fosse você, perguntava. Ele é muito sincero e direto, não vai mentir pra você.
Respirei fundo. Sentei em um dos banquinhos e tentei comer.
- Merda, enchi sua cabeça de minhocas. Desculpe, era pra ser uma comemoração pelo seu trabalho e o meu trabalho.
Dei um sorriso e comi a primeira garfada de massa. Estava mesmo deliciosa!
- Então você conseguiu o emprego?
- Sim, me ligaram pouco antes de você chegar. Começo quinta feira.
Procurei pelas taças para brindar, mas elas estavam na sala. Voltei até lá para pegá-las junto com a garrafa de vinho. Pus tudo em cima do balcão, completei com o restante do liquido e levantei-a num brinde. Hanna bateu sua taça na minha de leve.
- Ao nosso sucesso profissional!
Bebemos um gole e voltamos a comer. Minha cabeça não saía da noite anterior. Como eu não havia pensado nisso? É claro que ele poderia ter me dado alguma coisa naquela maldita água no jantar. Um calmante...
- Ele brincou comigo sobre não ter exagerado no calmante... - Falei sentindo um nó se instalar em minha garganta.
Hanna levantou os olhos de seu prato e me encarou.
- Pode ter sido só uma brincadeira mesmo, Chloe. Mas você é tão elétrica que não consigo acreditar que tenha apagado só por cansaço. Sei que pegou pesado na construtora e você também não se alimenta direito. Ele não tentou nada, esse é o importante, mas ainda acho que deveria procurá-lo para perguntar algumas coisas.
- Vou fazer isso amanhã.
Falei terminando de comer o que havia em meu prato. Bebi outro gole de vinho e suspirei.
- Por favor, não fique imaginando coisas ruins. Ele ficou preocupado de verdade, ou não teria me ligado para pedir que levasse suas roupas de trabalho até a casa dele. Foi um cavalheiro.
- Foi um filho da puta, isso sim. - consegui dizer me levantando - Tenho que descansar. Vou tomar um banho e pensar um pouco no quanto fui idiota há 24 horas atrás.
- Merda Chloe, eu e a minha boca grande. Deixa pra pensar e brigar por isso amanhã, quando for vê-lo. Você precisa dormir.
Assenti e fui para o quarto. Fechei a porta e desci o zíper do vestido ficando só de calcinha e sutiã. O celular estava dentro da bolsa, confesso que estava com medo de pegá-lo e ter alguma mensagem dele. Mas não resisti.

Eu sou o arrepioOnde histórias criam vida. Descubra agora