Capítulo 18

1.8K 145 16
                                    

Deixei a construtora sem saber exatamente para onde iria. Pensei em ligar para Hanna, mas ainda era cedo para tirá-la do trabalho, sem contar que ainda estávamos sem nos falar por conta da discussão de sábado, ou seja, estava sozinha nesse maldito momento de vida.
Dirigi até o Jardim Central e fiquei sentada em um dos bancos, olhando para o céu por algum tempo em busca de respostas que com certeza não iria encontrar ali. Voltei para o carro e fui até o mercado.
Comprei comida chinesa congelada e duas garrafas de vinho branco. Dirigi de volta pra casa como uma doida desnorteada.
Na portaria, fui informada que tinha visita, desejei com todas as minhas forças que fosse o Nicolas. Não esperei pelo elevador, a curiosidade e a pontinha de esperança que me restava, não deixaram.
Subi as escadas de emergência correndo com o saco do mercado em mãos, o som das garrafas tilintando uma na outra e a minha respiração ofegante, eram os únicos sons que disfarçavam as batidas pesadas do meu coração.

Por favor, que seja o Nicolas. Por favor, por favor. Pedia em silêncio.

Assim que virei o corredor, vi o John e o Gabe, ambos encostados ao lado da porta do meu apartamento. Meu coração despencou uns 300 metros até o chão no momento em que nossos olhares se encontraram.
O John estava calmo, mas algo em seu rosto denunciava desconforto. E o Gabe parecia ter fogo nos olhos, o que só aumentou a minha raiva fazendo-me explodir.
- Quem vocês pensam que são?
- Chloe, será que podemos conversar como pessoas civilizadas e profissionais?
John tinha a voz extremamente cheia de culpa. Quase acreditei.
- Profissionais? - uma risada debochada escapou dos meus lábios - Vocês foram tudo, menos profissionais. E você Gabe, - fui em sua direção e levantei o indicador na frente do seu rosto - poderia ao menos romper com o nosso acordo pessoalmente. Você foi uma criança!
Passei pelos dois e abri a porta com as mãos trêmulas. Coloquei as sacolas do supermercado em cima do balcão da cozinha, tirei o terninho e abaixei a cabeça entre as mãos, respirando fundo.
- Chloe, desculpe, mas não posso entrar nesse projeto sozinho. Tentei convencer o Gabe mas ele não quer...
Levantei o rosto e o interrompi:
- O Gabe é infantil!
- Parem de falar de mim como se eu não estivesse aqui.
Olhei para seu rosto contraído de raiva e de repente, me senti exausta e cansada demais para discutir.
- O que vocês vieram fazer aqui? - perguntei querendo acabar logo com aquilo.
- Colocar um fim em nosso contrato.
Gabe respondeu balançando um papel nas mãos.
- Você já fez isso por telefone.
- Viemos pagar o valor pela quebra do acordo.
John encostou no balcão e cruzou os braços. Consegui ver em seu rosto o quanto ele não queria fazer aquilo.
- Não precisa. - falei - Vou encontrar uma outra equipe de arquitetos logo. Posso fazer isso, agora podem ir embora.
Não precisei repetir. Gabe colocou uma cópia do contrato em cima do balcão e saiu atrás do John, batendo a porta com força.
Soltei a respiração que nem fazia ideia que estava segurando. Que droga!
Peguei o papel em cima do balcão e embrulhei jogando-o na lixeira. Guardei as garrafas de vinho na geladeira e sentei no chão da cozinha, dobrando os joelhos e colocando a cabeça sobre eles.
Estava perdida!
Nem tinha feito as provas finais da faculdade ou pegado um diploma quando recebi a proposta de administrar a empresa do meu pai. Prometi que daria meu melhor sempre e por falta de profissionalismo dos outros ou talvez meu, fracassei.
Poderia imaginar a decepção do meu pai quando soubesse de toda a história. E ainda havia as piadinhas talvez necessárias que o Hélio faria questão de me dizer.
Ele era um profissional competente, embora abusado. Mas teria razão em afirmar que o papel de "chefe" não me caía bem.
Tinha que arrumar essa bagunça o mais rápido possível.

Ouvi a porta abrir e levantei o rosto. A Hanna ajoelhou-se em minha frente.
- Oh meu Deus, Chloe. Você está bem?
- Sou uma péssima chefe, uma péssima filha e uma péssima amiga.
Falei segurando a mão que a Hanna me estendia e levantando do chão. Ela me acompanhou, observando meu rosto com cautela.
- Você deveria está no trabalho.
- O John ligou e disse que você precisava conversar.
- Que educado da parte dele. Acabei de perder os melhores arquitetos que a Sandler já contratou, antes mesmo de colocar o projeto em prática, por que tudo o que eu queria era sexo.
- Você já deveria saber que isso aconteceria, Chloe.
- Não achei que a falta de maturidade poderia interferir no trabalho.
Respondi indo até a bolsa no sofá, abrindo-a e pegando a caixinha branca.
- O Nicolas mandou isso pra mim e fez questão de reforçar que não queria nada que o lembrasse de mim.
Hanna pegou a caixinha e analisou o que havia dentro, vi a sombra de um sorriso brincar em seus lábios ao notar a renda da calcinha rasgada. Quando terminou de ler o bilhete, olhou pra mim e disse:
- Então acabou?
- E alguma vez já começou?
Deixei a sala e segui o corredor indo para o banheiro, com a mesma pergunta martelando em minha cabeça "E alguma vez já começou?"

Eu sou o arrepioOnde histórias criam vida. Descubra agora