Capítulo 19

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Depois que encerrei a ligação com o Gabe de forma silenciosa, bati com meu punho na mesa. Reprimi o grito de dor, quando minha mão atingiu com força o material duro.
Estava sendo chantageada por um cara que antes considerava babaca, mas agora era um doente mental. Senti a raiva borbulhar dentro de mim, como uma avalanche de lava deslizando pelo vulcão.
Mas eu estava sendo arrastada, para baixo. Para o inferno.

- Está tudo bem, Chloe? - Léa entrou avaliando meu rosto.
- Preciso de um copo de água e veneno. - Respondi massageando o punho dolorido.
- O que aconteceu? - Ela insistiu, sentando-se em minha frente.
- Nenhum daqueles telefones que o papai indicou funcionou, e aí o Gabriel Parker resolveu retornar ao projeto.
O rosto de Léa adquiriu uma expressão de alívio. Ah se ela soubesse...
- Que maravilha! Então o problema está resolvido.
- Ah sim, com certeza - falei revirando os olhos.
- Mas porque o veneno?
Encarei a Léa, pequenininha na cadeira, com a armação dos óculos destacando seus olhos grandes. Ela parecia imensamente inocente, quieta, compreensiva. Mas não podia contar o que de fato envolvia a ideia do veneno.
- Nada. Pensei alto. - juntei todos os papéis em um monte e entreguei o fax a ela - Por favor, poderia responder a eles e dizer que amanhã começaremos o trabalho?
- Mas é claro. - ela sorriu - Vou avisar ao Hélio que já temos tudo sob controle.

Balancei a cabeça sem olhá-la e levantei da cadeira, indo até o pequeno banheiro no fundo da sala. Entrei e fechei a porta atrás de mim.
O enorme espelho do lavabo me encarava de volta, notei a expressão em meu rosto. Raiva, muita raiva de mim e do Gabe.
Raiva de mim, por deixar tudo isso chegar a esse ponto. Namorar alguém por obrigação, puta que pariu! E a minha falta de profissionalismo também... E a falta de profissionalismo e de ética dele. Deus, o que eu estava fazendo?
O projeto duraria três meses, esse era o tempo estimado para o fim da obra. Três meses junto a alguém que nitidamente eu detestava com todas as minhas forças.
Eu poderia relevar?
E o Nicolas? Mas espera aí, porque estava preocupada com o Nicolas? Nós não tínhamos mais nada, na verdade nunca tivemos nada. Então, ele não se importaria em me ver por aí desfilando de mãos dadas com o Gabe. Seria divertido, considerando que eu havia mentido dizendo que nunca teria ficado com o Gabe.
Nossa como eu era terrível!
Lavei o rosto rapidamente, passando as mãos molhadas na nuca e respirando fundo.
Tinha que fazer aquilo. Pelo meu pai, pela empresa.

Voltei para sala e encontrei o Hélio parado, com as mãos nos bolsos da calça jeans, olhando a cidade através da enorme janela. Parecia relaxado.
Tossi chamando sua atenção.
- Parabéns, chefe! - ele disse virando-se em minha direção - Nem consigo imaginar como trouxe os Parker de volta, mas fez um ótimo trabalho.

Estreitei os olhos, e contraí o maxilar ao ouvir a mensagem escondida por trás do que ele havia dito. O que o Hélio sabia? Do que ele sabia? E como ele sabia?

Não perguntei nada, poderia só ser só mais uma piadinha de mau gosto, e eu poderia acabar entregando qualquer sinal de que tinha alguma coisa errada por trás da recontratação dos meninos.
- Eles são competentes. O projeto da escola é muito grande, o retorno que terão será maior ainda. Não poderiam jogar essa chance fora. Eu os convenci.
Atravessei a sala e encostei-me à mesa, cruzando as pernas e os braços, olhando fixamente para seu rosto.
- Claro que convenceu - sorriu com frieza, mas seu sorriso não chegou aos olhos. Aquilo me dava um frio horripilante na barriga. Não me deixei levar.
- Você tem os números do Gabe e do John. Pode ligar e marcar as devidas reuniões antes da obra começar.
- Amanhã. A obra vai começar amanhã. E o "Gabe" - ele fez aspas com os dedos - deve mandar algumas anotações para o meu email ainda hoje.
Revirei os olhos e soltei um suspiro exasperado. Não poderia imaginar o quanto essa situação estava custando todo o meu estoque de calma.
Descruzei as pernas e caminhei até a porta, abrindo-a num convite silencioso para que ele saísse.
Ouvi o som de sua risada um pouco baixa e seus passos seguiram para fora da sala. Antes de fechar a porta, encarei suas costas e disse:

Eu sou o arrepioOnde histórias criam vida. Descubra agora