Capítulo 36

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Saio da casa do meu pai e encontro o Nic na calçada. Ele está vestindo uma calça jeans e uma camisa sem mangas. Acho que nunca vou me acostumar a vê-lo dessa maneira, longe de suas camisas e calças sociais.
- Onde está sua moto? - pergunto assim que o alcanço.
- Deixei em casa e vim de táxi. Achei que poderíamos dar uma volta - seus braços rodearam meu pescoço e seus lábios tocaram minha testa - Como foi na empresa?
- Tudo bem, vai dá tudo certo - digo acariciando seu maxilar tenso.

Seus olhos fixam-se nos meus e suas covinhas aparecem num sorriso de derreter calcinhas.
Ele era bom nesse tipo de coisa.

- Algum problema, dr. Delícia?
- Não - ele diz, colocando uma mecha solta do meu cabelo atrás da minha orelha - Só estou feliz por ter você aqui.

E mais uma vez meu coração parece ficar maior contra meu peito. Tão grande que até sinto minhas costelas doerem. É um sentimento tão profundo que tenho vontade de gritar, ali mesmo, no meio da rua, que amo este homem como jamais amei alguém.
Mas eu não o faço. Ao invés disso, respondo:

- Eu também - entrelaço nossos dedos e começo a suspeitar de que o sorriso em meu rosto, é capaz de partir minha face ao meio - Vamos dá uma volta, dr. Delícia.

*****

Caminhamos por oito quarteirões até minha casa, e durante todo esse trajeto, ficamos de mãos dadas.
As vezes, ele abraçava minha cintura, quando sentia que eu estremecia por causa da brisa fria. Mas nunca soltava minha mão.
Falamos sobre tudo, o problema do Hélio com a Léa e o que eu faria para acabar de uma vez por todas com isso. Ele me contou que viajaria daqui a alguns meses para fazer um curso na França e até planejamos que eu o acompanharia.
Mas eu ainda o sentia distante e pensativo. Estranho, eu diria.

Paramos em frente a portaria, e noto as nuvens escuras tomando todo o céu. O frio aumentou e começo a me xingar mentalmente por ter escolhido uma roupa de tecido tão leve.

- Você está bem? - pergunto apertando nossos dedos.
- Sim - responde e beija o nó de meus dedos - Só estou preocupado com algumas coisas no Hospital.
- É difícil, não é? Ter que lhe dá com certos casos.
- Você nem imagina.
- Quer subir? Podemos conversar a respeito.
- Não. Você tem que descansar - ele solta minha mão e me puxa pela cintura - Seu dia foi longo, amanhã vai ser bem mais e sua formatura está chegando...
- Como você sabe disso? - dou um leve empurrãozinho em seu ombro, fazendo-o sorrir.
- Eu sei tudo ao seu respeito, minha menina.

E então sua boca encontra a minha, a língua abrindo espaço e deslizando sobre o céu da minha boca, meus dentes e meus lábios. Deixo que meus dedos entrelaçem em seu cabelo e um gemido me escapa, como um som desesperado.
Creio que esse foi o beijo mais profundo que já trocamos e eu tinha a consciência de que estávamos fazendo isso no meio da rua. Mas eu não me importava, e acho que o Nicolas também não. E ele sabia tudo ao meu respeito.

*****

Girei a chave na fechadura e empurrei a porta de casa. Nicolas tinha acabado de ir embora e eu o deixei ir, mas fazendo-o prometer que ele iria me pegar na empresa logo mais. Olhei ao redor da sala escura, tirei minhas sapatilhas e corri para o quarto. Ao passar pelo corredor, ouvi uma risada alta, seguida de um gemido do outro lado da porta do quarto da Hanna.

- Consigo ouvir vocês dois do elevador! - digo bem alto, batendo duas vezes na porta de seu quarto.
O ruído abaixa até sumir, e isso me faz dar risada.
- Oh meu Deus, eu sei que vocês estão aí.
- Deixe-nos em paz, srta. Sandler - ouço a voz do John um pouco abafada.
- Sem problemas, mas não se desgastem muito. Ainda tem a lua de mel - digo e entro no meu quarto, fechando a porta logo atrás.
Ligo as luzes e me jogo na cama, olhando para o teto.
Sinto que amanhã será um dia e tanto, e por incrível que pareça não me sinto preparada para tudo o que está por vir.

Eu sou o arrepioOnde histórias criam vida. Descubra agora