Capítulo 26

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Passei a manhã inteira pensando num jeito de dizer ao meu pai que eu deixaria o cargo de diretora da empresa. Teria que ser uma desculpa muito boa. O Sr. Sandler me conhecia muito bem. Era esperto.

Às quatro da tarde, depois de um breve almoço com a Léa, contando tudo o que havia acontecido nos últimos três dias, o Henry entrou em minha sala vestindo um blazer azul marinho, enquanto a chave do meu carro brincava entre seus dedos. Meu pai transpirava jovialidade.
Era nítido que ainda estava cabisbaixo e triste pela morte da vovó. Meu coração apertou com a lembrança.
Suas sobrancelhas franziram-se ao notar algo estranho em meu rosto.

- Chloe.
- Pai - levantei, caminhando em sua direção.
Seus braços envolveram meu corpo num abraço apertado.
Adorava abraçá-lo.

- Como foi de viagem?
- Bem - respondeu se afastando só um pouco para olhar meu rosto - Poderíamos trocar seu carro por um modelo mais atual. O que acha?

Meu pai e seu jeito exagerado de sempre querer me agradar.
- Gosto desse modelo. É econômico - respondi forçando um sorriso.

Sua cabeça ponderou de lado, e seus olhos escureceram-se de preocupação.
Viu só? Ele me conhecia bem. Por mais que tentasse parecer normal, ele sempre sabia que não estava.
Por mais que não tivéssemos nenhuma ligação de sangue, posso jurar que temos alguma ligação de alma.

- O que aconteceu? - perguntou cruzando os braços na frente do corpo.

Dei a volta na mesa e sentei novamente, apoiando meu queixo entre as mãos, enquanto esperava o Henry sentar-se à minha frente.
Respirei fundo e controlei o nervosismo na voz, antes de dizer:
- Minhas provas finais vão começar.
-Em breve nossa diretora terá um diploma? Que fantástico, filha! Mas você sabe que isso não importa, não é?
- Não posso continuar. Não quero mais o cargo de presidente da construtora, pai.

Fiquei surpresa por minha voz não ter vacilado.
O rosto do Henry ficou pálido por um instante, ele parecia perdido. Desnorteado.
Eu sinto muito, pai.

- Sei que pedi pra que ficasse só por um tempo, mas você se saiu muito bem aqui, Chloe. Não pretendo mais voltar a trabalhar, achei que seria minha herdeira nos negócios.

- Desculpe - dessa vez o tom de minha voz estava cheio de culpa - Preciso estudar para as provas. Ausentar-me por três ou quatro semanas seria algo ruim, principalmente com o tamanho desse projeto que temos em mãos.

- Projeto que você conquistou, Chloe. - disse buscando por minhas mãos em cima da mesa.

- Nem tenho um diploma, pai.
- Não é necessário. Você é competente, isso que importa.

Odiava decepcionar o Henry, mas se eu ficasse, seria muito pior.
Ah pai... Facilite para mim também. Por favor.

- O Hélio é bastante competente, também. - espero que meu pai não tenha notado o tom de desprezo em minha voz, ao pronunciar o nome daquele verme.

- O que você está sugerindo, Chloe? - seus olhos estreitaram-se.
- Ele seria bom para o cargo.
- O Hélio? - balancei a cabeça confirmando - Mas ele não tem nenhum conhecimento em administração. Ele é engenheiro, um dos melhores que temos.
- Por isso mesmo - falei sentindo todo meu corpo tenso - Tenho visto que ele é melhor que eu no quesito "mandar".

Observei que o Henry estudava minhas reações com cautela. Droga. Não poderia falhar agora e deixar uma brecha, fazendo-o perceber que tudo não passava de uma mentira.
Apertei suas mãos e abri um sorriso largo.

- Esse é o maior projeto que já tivemos. Estamos tão empenhados em finalizá-lo com sucesso, não pare tudo por minha causa, pai. Por favor.

- Hélio como diretor - meu pai testava as palavras, como se tentasse convencer-se da ideia - Tem certeza que está tudo bem? Alguém aqui te faltou com respeito?

Eu sou o arrepioOnde histórias criam vida. Descubra agora