Abro a porta do apartamento, me sentindo completamente vazia. Muito mais do que nos últimos dias.
No caminho de volta para casa, tentei ligar para Nicolas algumas vezes, mas seu celular estava desligado. O que me fez pensar em duas coisas: ou ele havia perdido a conexão por ainda estar no vôo ou já teria imaginado que eu ligaria e se apressou em desligar o aparelho.
Aquela situação toda era uma merda.Tirei os sapatos a caminho do corredor e coloquei o buquê de flores em cima do balcão. Fiquei olhando para ele por algum tempo, tentando realmente entender o que faria com que Nicolas mandasse aquilo para mim. Não havia nada escrito no cartão, o que realmente não fazia muito a cara dele. Nicolas gostava de ser notado, parece que seu ego insuportavelmente mandão dependia daquilo. E a prova disso teria sido aquele táxi, parado em frente ao cerimonial. Ele queria que eu o visse. Mas eu ainda queria descobrir se foi uma forma de mostrar que ele sentia minha falta ou se era na verdade uma despedida.
- Como foi? - Hanna diz se aproximando de mim, vestindo um robe preto - Uau, são lindas.
- Não foi - digo sem virar em sua direção - Eu estraguei tudo.
- Mas e essas flores? - ela para ao meu lado e passa os dedos pelas rosas.
- Não sei de quem são, e isso nem me interessa também.
Começo a me afastar, indo até o quarto, mas Hanna me puxa de volta.
- Chloe... - ela diz me encarando.
- Ele viajou, tudo bem? - as palavras saem em meio ao nó que ja começa a se formar em minha garganta - Para a França, e eu não sei quando volta. Ele não quer me ver, é claro que não quer. Seja lá o que ele esteja pensando sobre mim, deve ter razão. Eu sou uma egoísta do caralho.Quando acabo de falar, já estou soluçando novamente. Odiava aquela minha versão sensível.
Volto a caminhar para meu quarto e a dessa vez, Hanna deixa que eu vá. E eu agradeço silenciosamente por isso. Estou tão exausta que se o colchão me engolisse, eu juro que não iria reclamar.Depois do banho, vou até a cozinha preparar um café. Enquanto ponho água na cafeteira, reparo na caixa de convites de casamento em cima do balcão, ao lado das flores. Pego a mesma, passando os dedos pelas iniciais "J&H" escritos em uma tinta dourada, numa caligrafia muito bonita.
Sinto enfim, um sorriso aparecer em meus lábios, enquanto analiso detalhes da caixa. Quando estou quase conseguindo abri-la, ouço a porta do quarto da Hanna abrir e o John aparecer vestindo somente um short de seda.- Você não pode ver isso, ainda - ele diz, sentando-se em um dos bancos do outro lado do balcão.
- Eu sou a madrinha - digo, devolvendo a caixa de convites para o local de antes.
- Mas também é convidada e por isso não pode ver.
- Vocês não deveriam passar por um período de desintoxicação antes de finalmente casarem?
- É isso que estamos fazendo.
- Vocês estão transando feito dois coelhos!
- Não estamos, não.
Estreito meus olhos na direção do John e balanço a cabeça rindo.
Não importava o quanto esse casamento estava indo rápido demais, eu tinha a certeza de que o John era um bom sujeito e faria minha amiga feliz.- Onde está a Hanna? - pergunto, colocando os grãos de café na cafeteira.
- Dormindo - ele responde, brincando com as pétalas de rosas - Ela chegou numa pilha de nervos depois da degustação do buffet.
- É culpa minha. Eu não deveria tê-la deixado sozinha para resolver um caso já encerrado.Vi o interesse em perguntar do que se tratava o "caso encerrado", estampado na cara do John. Mas por algum motivo ele sorriu e continuou calado.
- E o que a mãe da Hanna achou de você? - perguntei deixando passar a estranha reação do John instantes atrás.
- Eu já tenho o meu pênis ameaçado de extinção - ele responde com um semblante sério que me faz rir.
- Então as bolas ficam comigo - coloco duas xícaras em cima do balcão e sento em um outro banco, de frente para o John - Falando sério, cara, você sabe de tudo o que aconteceu.
- Sei e não precisa se preocupar. Eu amo a Hanna, nunca vou fazer nada que possa magoá-la.
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Eu sou o arrepio
RomanceChloe Sandler é universitária e futura diretora da construtora de seu pai. Após a morte de sua mãe, nove anos atrás, Chloe tem enfrentado problemas familiares que a denominaram duas coisas: "o milagre" e "a culpa". Após uma noite de comemoração, Ch...