três

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Leonor.

Eu quase esqueci a comida de Miguel, mas graças a Deus lembrei antes que queimasse. Eu não iria refazer. Me levantei correndo com o susto de me lembrar que havia algo no fogo.

— Nossa que horrível! — Ao chegar na cozinha vejo Isabela abanar sua mão demonstrando sentir um cheiro ruim.

— Quase esqueci. — Digo desligando o fogo aliviada. Que susto. Retirei a comida de Miguel e coloquei-a no prato. Ele provavelmente já sabe comer sozinho, não é possível. Levei a comida até Miguel, que ainda estava emburrado. Cheguei perto dele e respirei fundo antes de lidar com a criança. — Miguel, se senta no sofá por favor. Posso colocar desenho para você, se quiser.

Ele estava muito bem me ignorando e ele mal sabe que meu maior medo e o meu maior motivo de derramar lágrimas são as mais conhecidas "ignoradas" e trágicas "você não existe para mim". Bom, meu maior pesadelo desde pequena, quando meu amigo me ignorou por um dia todo. O silêncio dói MUITO.

— Vai Miguel...Por favor. — Ele ainda não respondeu, mas de repente deu um pico de energia. O pequeno meninos subiu as escadas correndo, desviando-se dos meus braços que corriam atrás dele. — Ei! Miguel! — Falei cansada, sem fôlego para correr. Ele subia e descia aquela escada sem cansar.

— Que barulho é esse? — Isabela gritou da cozinha.

— Miguel... — Respondi — Ah, Miguel! Para! — Tentei soar mais rígida, porém, não adiantou nada.

De repente sinto uma falta de ar gigante invadir meu peito, talvez eu esteja muito sedentária, mas meu Deus, que horror! É totalmente ruim o que eu sinto agora. Me sento na escada tentando relaxar meu pulmão. E talvez fazê-lo se acalmar também, meu coração está acelerado e Miguel continua correndo. O que deu nele? Sinceramente!

Fecho os olhos e solto um ar, sinto uma melhora. Me levanto e continuo correndo atrás de Miguel. Quando ele vai parar? Meu Deus do céu.

— Miguel! Para, por favor! — Repito já sem forças. Ele tenta correr para a cozinha, mas bate de frente com Vitor, que o segura com os braços fortes. Pelo menos tem alguém mais forte que eu aqui. Ele pega o garoto pelos braços e o leva até onde estou. Respiro aliviada, não aguentava mais. Encaro o rosto de Vitor que manteve um sorriso de sastifação ao finalmente agarrar o menino. — Obrigada. — Falei mostrando minha eterna gratidão a ele. E nem é uma metáfora.

— Por nada, se precisar de ajuda pode me chamar... — Ele diz. Eu até precisaria quando quisesse descansar, mas o mais correto seria minha irmã me ajudar, não ele.

— Ah...Valeu, mas não vou precisar. — Minto. Ao mesmo tempo seguro Miguel com minha força total. — Ei, menos! Vamos comer... — Faço uma careta, eu já estava cansada, não passou nem uma hora com ele. Credo, preciso me exercitar.

Coloco Miguel sentado e ele sorri para a comida definitivamente como uma criança. Ele estava faminto, comeu tudo em menos de quinze minutos. Digo, por ele ser uma criança demora mais, porém, nem chegou aos quatorze minutos e ele já havia devorado tudo.

— Parabéns. Comeu tudo! — Falei recolhendo as coisas e sorrindo. Deixei na cozinha, iria lavar depois, eu queria dar atenção para ele.. — Quer fazer o que?

— Brincar de carrinho, tem algum carrinho, Nono? — Agora é a pior hora. Negar um brinquedo para minha criança favorita.

— Não, Gueguel. Infelizmente não tenho, só tenho coisas de menina. Barbie, algumas casinhas... — Ele me interrompeu.

Com amor, Vitor Guttiz.Onde histórias criam vida. Descubra agora