quatorze

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Vitor deixou o presente em cima do bebedouro e me olhou. Também olhei para ele, estranhando seu ato.

— Não vai abrir? — Até eu estava curiosa sobre o que poderia estar ali dentro.

— Não... Estávamos conversando, então, meu foco é você. — Senti meu coração pular como se tivesse uma festa aqui dentro. Ninguém nunca tinha me dito palavras tão...Legais? Eu não tenho elogios, pode ser um "estou prestando atenção" mas nunca um "estou com foco no seu assunto", "estávamos falando sobre você, então continue, estou interessado(a)". É, além de minha mãe, ninguém. E às vezes minha mãe saía tão apressada de casa para trabalhar, que nem isso ela conseguia dizer.

Respirei fundo e tentei caçar palavras para respondê-lo. Não achei boas palavras, mas achei algo.

— Obrigada...Mas não precisava. Acho que já expliquei tudo. — Relaxei meus ombros que estavam tensos. Não sei o porque.

— Tem certeza? — Ele se aproximou, parecia estar prestando atenção em algo no meu rosto, isso só me fez pensar que talvez eu esteja um pouco vermelha. Eu espero realmente que não.

— Sim, vou indo. Preciso encontrar Morgan. — Saí sem deixá-lo dizer algo.

Fingi estar indo atrás de Morgan e gesticulando coisas para parecer que realmente estava atrás dela. Quando ele saiu da minha vista, pude relaxar.

E quando deu o horário de ir para casa, peguei minha mochila rápido e fui para casa.

— Oi filha. Como foi na escola? — Minha mãe já estava em casa. Que estranho.

— Acho que bem mãe... — Deixei a mochila no sofá e me aproximei dela — Saiu cedo do trabalho hoje?

— Sim. Amanhã vou ficar mais tempo, então... Deixaram eu sair mais cedo hoje.

— Por que? Poxa, pensei que ficaríamos juntas...Amanhã não tenho aula porque o professor vai faltar. Ele está passando mal.

— Filha...Pior que pensei o mesmo. Me desculpa, mas tenho que trabalhar...Ou não teremos comida. — Ela disse terminando de fazer algo e me entregou o prato. — Aqui, coma com moderação. — Riu — Sua irmã não desceu até agora, estava em casa mesmo?

— Ah...Ela...Estava. — Me lembrei do ocorrido, mas preferi me calar. Minha mãe também é sensível ao meu problema.

— Eu quero muito descansar, chamei ela para comer mas não respondeu. Caso ela queira depois, fale para a mesma que deixei a comida na geladeira para ela. Tchau. Qualquer coisa me chama. — Me deu um beijo na testa e subiu para o seu quarto.

Era uma salada de frutas deliciosa. Uma das minhas comidas favoritas, sem dúvidas. Isabela também gosta, mas acho que ela está irritada por algum motivo.

Já estou há alguns minutos comendo, mas lá de cima ouço gritos e alguém descendo a escada com raiva. Minha mãe provavelmente dormiu, se não estaria já aqui em baixo preocupada.

— Que droga! Saudades é uma droga! — Ela desceu e ficou parada olhando para o celular, parecia esperar por algo. Talvez alguma mensagem.

Eu queria perguntar o que houve, mas eu não consigo mais trocar palavras com ela depois do ocorrido. Ela se mostrou o contrário do que eu imaginava.

— Ai Vitor...Maldita hora que te deixei pelo loiro falsificado! — De primeira pensei em Henry, mas ela estava falando do Lorenzo. Ela estava sentindo falta do Vitor.

Subiu a escada de novo, sem deixar nenhuma explicação. Sinto que ela fez isso para me provocar, mas não conseguiu. Segui plena no sofá, assistindo desenho enquanto comia.

Com amor, Vitor Guttiz.Onde histórias criam vida. Descubra agora