vinte e cinco

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Peguei meu celular e fui no contato do meu pai. Liguei para o número, mesmo sabendo que ninguém atenderia. Disquei e esperei, comecei a desabafar de repente. A vida estava se tornando dolorosa. Eu não percebi mas por um momento algum barulho apareceu na chamada, alguém estava atendendo, fiquei surpresa, porque para mim esse número ainda não estava sendo usado. Estava ainda com a foto do meu pai...Então... Pensei nisso.

Olá...? Quem é? — uma voz masculina diz, eu não sei quem é, não faço ideia, mas precisava saber porque a foto ainda estava no perfil. Era uma foto do meu pai com eu, Isa e a minha mãe.

Leonor...A filha do Leonardo. — falei esperando algo, uma coisa boa se instalou no meu coração. Uma esperança de algo que eu não sei o que é.

Filha de Leonardo?

Aham... Ele...Está aí? — Eu sei, é ridículo, meu pai morreu. Na maior parte desses dois anos eu preferi esquecer meu pai para não doer tanto, mas esses últimos dias e meses, não deu. E então, a ideia de ligar para ele só me veio agora.

Está sim! — Meu coração parou por um instante, eu não poderia acreditar. Só poderia ser engano, de verdade.

Sério? Po...Poderia passar para ele?

Claro. Leonor, né?

Sim, sim!

Correto, espera um pouco. — com toda paciência eu esperei, e depois de dois anos, eu ouvi a voz que eu sentia tanto a falta. Era meu pai e eu tinha certeza, eu não poderia acreditar de forma alguma. — Leonor? É você? Filha?

Pai! — parecia que eu estava derramando litros de água pelos olhos. Talvez seja um engano, não é possível. Meu pai não pode ter ressuscitado, isso não existe. Ele é um ser humano, afinal, o que aconteceu? — Pai?  Como assim!? Eu...Eu...Pai, você tá bem?

Sim Leonor! Que saudades, minha filha. Como vocês estão?

Eu acho que nem...Pai, é você? Você está vivo??

Vivo? — ouço uma risada meio confusa — Por que a pergunta filha? Eu sempre estive vivo... Já estou voltando ao Brasil.

Voltando ao Brasil? Você não estava morto?

Morto? Leonor, eu fiz uma viagem a trabalho, para crescer... Não foi isso? O problema é que ainda não encontrei nada...Estou há meses aqui e ninguém me diz sobre o que a sua mãe disse. Creio que seja difícil assim mesmo.

Minha mãe...? Pai? Você já vai voltar para o Brasil mesmo?

É claro. Bom, quero que me conte as novidades!

Eu tenho que te contar muitas coisas, pai... Você nem vai acreditar.

Hm...Soou estranho minha filha. Creio eu que seja bom.

É ...

Até mais. E me desculpe por não te ligar. Eu não tinha seu número de telefone porque eu não lembrava. Incrívelmente não lembrava... Até estranhei. Mas você me ligou, eu não fiquei desesperado porque sua mãe disse para não ficar te ligando, se não voce iria sentir muita a nossa falta.

Pai, meu Deus...

O que?

Nada. Pai, eu te amo. Volte logo!

É claro, Nono. Eu te amo. Até mais!

Até! — chorei.

É claro que eu chorei! Ao mesmo tempo que minha vida está uma bagunça, ela está perfeita. Meu pai está vivo e eu não posso acreditar!

Eu não posso acreditar! Talvez seja por isso que minha mãe não se abala tanto com Isabela. Com o fato de que ela traiu, na verdade, ela preferiu acreditar que não. De novo, meu coração está em pedacinhos. Eu acho que já entendi tudo. Tirar meu pai na jogada por um ano, assim, a empresa já poderia ser dela. Até porque meu pai confiava muito na minha mãe. Minha mãe nunca foi o que estava sendo há semanas atrás...

Se eu não ligasse, talvez nunca soubesse disso. Obrigada Deus! Obrigadaaa! Eu estou sem saber o que fazer ou dizer. É óbvio, minha mãe mandou meu pai para outro país porque queria empresa dele? Talvez porque sem ele tudo ficaria mais fácil.

Eu deveria falar com alguém que eu chamo de mãe? Eu acho que deveria. Fui até seu quarto rápido, abri a porta sem permissão e encarei aquele ser.

— Por que forjou a morte do meu pai? por que mentiu a morte dele!?! — Esbravejei, de fato, eu não queria mais contato com minha mãe.

— Está maluca?

— Eu já sei de tudo. Parece que Deus me deu a intuição de ligar aleatoriamente para o número que pertencia, segundo você, a alguém morto! Por que mentiu? Eu passei dois anos com uma dor imensurável no peito só porque você queria a empresa do meu pai?

— Olha só...Sai daqui Leonor. — Ela me encostou me levando à porta, soltei-me dela rápido e encarei-a.

— Por que, mãe? Pra que?

— Sai Leonor! — Falou devagar.

— Diz logo. Eu já sei de tudo!

— Quer saber? Eu fiz isso mesmo. Seu pai nunca me deixou ficar com as finanças para eu fazer o que quiser. E pra acabar logo com seu coração e você virar a rainha do drama, digo-lhe; trai seu pai com um homem que se chama Norman. Por isso, tirei ele da jogada.

— Ah... Norman. Anormal, né? Mãe? Logo você? Mãe...Você mentiu a morte do meu pai! Eu era muito apegada a ele.

— Tá bom Leonor. Terminou seu discurso? Se quiser, eu saio daqui e vou até a casa do Norman pedir para morar com ele! — Riu — Aí você não me enche o saco!

— Se quiser, fica a vontade.

— Quer saber? Faz sentido, você é um saco. Tentei te tratar bem mais não deu, e eu não quero ficar dando explições! Que pena que seu pai não morreu. — Ela sai do quarto e vai para algum lugar do mundo, deixando o silêncio reinar na casa.

Dessa vez eu não vou chorar. Eu não quero mais chorar, é melhor pensar que meu pai já já está de volta.

Com amor, Vitor Guttiz.Onde histórias criam vida. Descubra agora