vinte

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— Leonor, preciso conversar com você. — Minha mãe diz com seriedade em seu rosto. Havia começado a chover quando eu cheguei da escola.

— Sim, mãe. — Me sentei de frente para ela.

— Eu estava conversando com sua irmã, que por sinal está muito triste... — Ela deu uma pausa rápida e eu já pensei o que poderia ter acontecido. — E ela falou para mim sobre o Vitor. A mesma confessou que gosta dele ainda e...Por isso, eu acho que você deve se afastar dele. — Fiquei sem acreditar. Eu até passaria dos limites que Isabela fosse propôr para mim, tanto é, que não me afastei de Vitor. Mas, quando é minha mãe, eu não posso ultrapassar suas regras.

— Mãe? Por que? Mãe...Ela me disse isso muito depois, não faz isso comigo, por favor! — Pedi quase implorando, eu não queria demonstrar tamanha dor mas... Não tem como eu me conter. Eu sinto meu coração se partir em pedacinhos.

— Sua irmã já namorou ele e sabe o que sente...Filha, eu acho que você ainda não se apaixonou por ele, certo?

— Não. Eu tô apaixonada por ele, mãe.

— Eu sei que é complicado, mas por favor, não volte a falar com ele... — Ela se levantou parecendo querer cessar o assunto.

— Mãe...Não faz isso comigo. — Pedi com meus olhos quase marejados.

— Desculpa, mas sua irmã parece o amar de verdade, filha.  — Ela diz e vai para algum lugar que eu não quero saber.

Mais uma noite em claro, chorando na cama. Eu não quero acreditar. Eu não quero sentir de novo a dor de ficar sem o Vitor, eu acho que me apaixonei na hora errada. Não é possível.

Subir para o meu quarto e me afundar em lágrimas mais uma vez, é a melhor solução. Não deu tempo de chegar em meu quarto, as lágrimas pareciam estar apressadas, não é mesmo? Abro a porta do meu quarto e me jogo na cama. A chuva só faz o clima ficar pior e os relâmpagos aparecendo e clareando tudo me faz ter uma sensação horrível.

Meu celular começa a tocar, eu penso em não responder, mas queria ver quem era. Olho por cima e era Vitor. Me levanto rapidamente, eu precisava falar com ele pela última vez. Pelo menos isso.

Vitor?

Leonor... Como você está? A chuva não dá uma trégua! — Ele estava rindo. Isso só me fazia ficar com o coração mais apertado, então, eu simplesmente derramei lágrimas, mas não deixei ele ouvir.

Vitor...Minha mãe pediu para nos afastarmos, pois minha irmã ama você. — O silêncio tomou conta. Ele não dizia nada — Vitor? Você tá aí?

Não Leonor, por favor, eu não aguento ficar sem você...Demorou tanto para que eu pudesse sentir você de vez, ter contato com você, poder te amar. Não faz isso...

É minha mãe Vitor... — Não pude conter lágrima alguma. — Eu deixei a Isabela de lado, mas eu não quero conviver como se fosse uma traidora aqui em casa. Eu acho que...Minha mãe me trataria com diferença. Minha mãe sempre foi carinhosa mas às vezes já preferiu Isabela. Vitor, eu gosto muito de você...

Leonor, eu gosto muito mais. Leonor, eu te amo. Por favor, não...

Eu te amo... Eu não queria fazer isso, de verdade, mas...

A chamada caiu. Ou melhor, Vitor desligou. Eu não quero nem imaginar como ele está se sentindo agora. Eu sempre faço ele sofrer. Agora, minha mãe não me trata tão bem como antes e os poucos dias que ela preferiu me dar atenção do que dar atenção à Isabela acabaram. É. A mãe que prefere a irmã mais velha voltou. Infelizmente.

Joguei o celular na cama, eu tinha raiva, porque novamente eu não vou poder amar alguém com a minha vida. Desde pequena minha mãe preferiu Isabela, mas, agora ela tinha dado uma trégua, porém, eu havia esquecido que eu não sou a favorita dela.

Me joguei na cama e deixei a tristeza tomar conta de mim, afinal, o que mais eu poderia fazer, não é mesmo? Ela prefere me deixar deprimida do que deixar Isabela um pouquinho triste. Então, tudo bem. Já era de se esperar.

A chuva não parava de jeito nenhum, e a chuva me lembra Vitor. Meus olhos doem de tanto chorar, sinto que já estão avermelhados. O pior, eu não poderia fazer barulho algum. De repente, eu ouço um barulho na janela, mas não havia nada ali. Eu fico com medo. Tristeza e medo fazem a combinação perfeita. Eu não sei se aguento os dois juntos. Vejo uma mão bater ali e tomo um susto; logo, um rosto aparece, e é o rosto que me faz delirar de paixão.

Me levanto em um pulo e vou até a janela, tentando não fazer muito barulho. Abro a mesma e vejo Vitor com os olhos vermelhos, tão vermelhos quanto os meus. Sinto meu coração se despedaçar de novo, odeio vê-lo assim. Involuntariamente, minha mão se dirige ao seu rosto, acaricio seu lado esquerdo e ele me olha com aqueles olhos de angústia.

— Leonor, eu preciso pela última vez te amar. — Suas palavras foram como facadas, porque provavelmente, é a última vez verdadeiramente.  Mas eu amo Vitor e não quero isso.

— Vitor... — Ele não me deixou dizer algo, simplesmente entrou pela janela no meu quarto, tentando fazer menos barulho possível. Dei espaço e quando ele entrou, o mesmo apenas chega perto de mim me envolvendo contra seu corpo e me beija. E realmente parece que vamos morrer depois disso. Morrer por dentro. Porque não é justo separar quem se ama. Ele faz os movimentos que ele mais ama, colocar sua mão sobre meu pescoço e me beijar lentamente. Ele acaricia meus fios de cabelos me fazendo sentir a melhor sensação do mundo. Sem pressa, eu abraço ele com todo meu amor do mundo, acaricio suas costas e ele faz o mesmo comigo. Sinto seu coração bater lentamente, é como se ele fosse morrer? Ele estava molhado; molhado por causa da chuva. Ele veio me ver em meio à chuva.

Ele acaba com o abraço, dando início a um novo beijo, um beijo longo e com muito amor. Para não acabar com o fôlego, damos um mínimo espaço entre nossos rostos, mas ele não se cansa, ele me dá pequenos beijos sobre meu rosto todo, ele me olha com toda dor do mundo em suas pupilas dilatas, eu sinto vontade de chorar. Um trovão aparece, fazendo um barulho imenso, mas parece que nada faz ele e eu nos assustar, ele continua me olhando profundamente. Mas desvia o olhar, porque parece não aceitar o que temos que fazer diante de tanto amor e paixão.  Ele me abraça com os braços envolvendo meu pescoço. O mesmo inclina a cabeça para baixo para beijar meu pescoço, com muito carinho e delicadeza.

Eu abraço ele enquanto isso. Agora, eu preciso fazer isso, pela última vez mas preciso. Eu tomo a iniciativa de beijá-lo, ele parece surpreso, mas eu não. Seguro seu rosto e selo nossos lábios de novo. Eu não queria acabasse nunca. Demoramos nesse beijo, talvez seja o último de muitas noites planejadas que não serão colocadas em prática. Ele me beija de volta e aí caímos na cama. Não é como se fosse acontecer algo, mas só teria paixão ali. Ele me abraça e fica ali, parado. Eu aproveito. Ainda deitados, ele parece querer mais, me beija novamente. Mas não trocamos nenhuma palavra. Até porque, não precisa, os olhares falavam tudo.

Ele passa a mão por todos meus braços, como se fosse me aquecer. E sem parar, me analisa cada vez mais. Mas, parece que tudo acaba, e essa hora. Chegou.

— Até algum dia, Leonor. — Ele diz ainda em cima de mim, para cessar, me dá mais um beijo desejado por ambos. Um beijo um tanto demorado, o que nos separa é o fôlego se acabando. — Eu te amo.

— Vitor...Eu te amo. — Ele vai pela janela, mesmo com uma chuva forte. Porém, parece não ligar. E quando aquela janela se fecha, parece que a felicidade também vai atrás dele, ou melhor, é ele.

Com amor, Vitor Guttiz.Onde histórias criam vida. Descubra agora