dezoito

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Entrei no quarto e acendi a luz. Meu quarto não estava tão arrumado, mas dá para o gasto.

— Pode se sentar na minha cama. Quando formos escrever eu vou para a escravania. — Falei e me sentei na minha cama, pegando as coisas que vamos usar.

— Tá. Você quer fazer quantas linhas? — Ele parecia querer terminar isso logo, não vou negar que também quero o mesmo.

— Não sei, vamos fazer sessenta, cada um fica com metade. — Sugeri.

— Tudo bem. — Ele começou a pegar as coisas e o livro. Logo começou a arrumar a folha, enquanto eu lia algumas páginas. O silêncio dominava o lugar, estávamos sob o controle do silêncio.

Já estava anoitecendo, o vento estava entrando no meu quarto, o que deixou tudo mais fresco. As estrelas estavam aparecendo e nós estávamos ainda sem dizer nada um com o outro. Por cima do livro, pude observá-lo, o pássaro cantava e meu coração apertava. Eu não gosto do silêncio, ainda mais quando se trata de colocá-lo em prática com alguém que eu tenho carinho. Ele estava bem concentrado no trabalho, não parava de escrever por nem um segundo se quer.

O céu já havia feito uma mistura de roxo com azul, o que deixava o clima mais intenso e bom de sentir. Olhei para as estrelas, pedindo com que elas mudassem o clima que ficou entre a gente. Ele não parava de olhar para os livros e nem nada. Eu tive vontade de chorar, mas óbvio que não faria isso aqui.

Engoli seco, tentando processar tudo com calma. Voltei a ler e decidi começar a escrever. Peguei meu caderno e meu lápis, tentei pegar inspirado e comecei a escrever. Eram trinta linhas para escrever, eu nunca tinha feito algo tão grande antes.

Alguém bateu na porta e só assim Vitor desviou o olhar dos livros. Me levantei rápido e fui até a porta.

— Isa?

— Vitor já está no seu quarto?

— Aham, estamos fazendo o trabalho...

Ela espionou ele um pouco, que já voltou a se concentrar no trabalho.

— Tá um gatinho mesmo.

— O que?

— Até mais. — Ela foi embora e eu fecho a porta fazendo um barulho imenso. Eu acho que ouvi certo. E isso não me fez ficar sem me importar. Ela sempre elogia ele.

— Vai quebrar a porta. — Ele diz enquanto copia.

— Eu que vou pagar. — Revirei os olhos e fui para o lugar de antes.

— É, não é problema meu mesmo. — Deu ombros.

Isso tá tão estranho, porque ele nunca me tratou assim, mas eu acho que entendo ele. Na verdade, nunca iremos entender ninguém se não sentirmos na pele a dor do outro.

Fiquei copiando ali, já tinha feito umas dez linhas, minha mão já estava doendo, eu não posso parar, não agora. Ela já estava vermelha, eu não conseguia mexer muito. Larguei o lápis e joguei minha cabeça para trás, tentando relaxar.

— Já terminou? — Ele perguntou largando o seu lápis na cama.

— Não... — Mexi meu pescoço tentando relaxar mais. Olhei para ele e o vi desviar o olhar meio estranho.

— Você demora muito. — Bufou.

— Minha mão está doendo. — Olhei ela que ficou vermelha.

— Me dá logo. — Ele tomou o caderno de mim.

— Não! É minha parte.

— Eu só quero terminar isso. —  Eu não queria que ele fizesse, e também pelo fato de que eu não iria ganhar pontos. Me aproximei dele e sentei ao seu lado pegando o caderno de volta. — Larga isso!

Com amor, Vitor Guttiz.Onde histórias criam vida. Descubra agora