vinte e nove.

83 6 5
                                    

— Pai...Me perdoa. — Parecia que iria se ajoelhar novamente.

— "Pai". Nem parece que esse nome lhe pesou, seu pai sempre disse o quanto dói ser traído...Mas você esqueceu.

— Você pode só me perdoar? Eu vou tentar mudar... — Os olhos dela começaram a marejar, é uma situação complicada.

— Não sei. Leonor, e quanto ao seu namorado... — Mudar de assunto assim, deve ter doído nela. — Você não quer trazer ele aqui em casa? Queria conhecer ele.

— Ele não é meu namorado... Bom, até agora não. — Sorri — Mas eu acho que posso. Vou falar com ele... Não estamos tão bem quanto antes porque aconteceu tudo isso e enfim... Ele ficou muito mal com a situação.

— Certo, espero que vocês se resolvam para que eu conheça ele. — Sorriu para mim — E talvez concorde com o relacionamento de vocês! Irei te apoiar se ele for um rapaz bom.

— Sério? Obrigada... — Eu queria dizer mais coisas, mas a situação com a Isabela não me permitia. Ela estava abatida e chorando baixo. — Eu vou subir para o meu quarto. — Talvez eles possam se resolver agora.

 — Talvez eles possam se resolver agora

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.


— Pai, eu tô indo pra escola. — Olho no espelho esperando a resposta dele.

— Ah...Faz muito tempo que eu não vou na sua escola!

— Pai...Minha mãe me mudou de escola.

— E por que? Você fez algo lá? — Faço uma careta de saudades e me sento ao lado dele.

— Ela queria me afastar de Vitor...Eu sinto falta dele e dos meus amigos.

— Não acredito. Você gostava daquela escola apesar de tudo, não é?

— Bem, eu passei a gostar depois que fiz amigos de verdade. E depois que me apaixonei.

— Acha necessário voltar? O ano já está acabando e bem...Daria un trabalho.

— Não vou mentir, está sendo um tédio, horrível ficar nessa escola nova, ainda mais com meu ex, mas...Acho que vai atrapalhar muito e o ano está acabando. Tudo bem, eu faço um esforço.

— Então tudo bem filha. Boa sorte lá. — Dou um beijo na bochecha dele e me retiro.

Quando a hora passava eu ficava mais feliz, mas parecia por um momento que o último tempo nunca acabava. E finalmente, o sinal tocou. Era hora de ir embora, eu pego minha mochila rapidamente e saio da sala, não vejo a hora de chegar em casa.

Enquanto ando, de repente sinto uma mão tocar meu ombro. Tomo um susto, não posso conter.

— Ei! — Viro-me e vejo que é Guilherme. Solto um ar de alívio e de desgosto. — O que foi?

— Posso te acompanhar até em casa? — Ele diz com as mãos na alça, parecendo...Tímido?

— Não, obrigada.

— Ah fala sério. Somos amigos agora, Leonor! Não precisa ficar se fazendo de durona.

— Eu só não quero. Por acaso tenho que ficar vinte e quatro horas com você?

— Tá estressadinha, em! Parece que algum bicho de mordeu mesmo. — Ele diz sorrindo e sem perceber já estávamos andando juntos até o meu destino. — E então, como foi a sua aula?

— Normal.

— Não vai perguntar como foi a minha? Que grosseria... — Sorriu ironizando como sempre.

— Eu não quero saber como foi seu dia. — Olhei para o céu pedindo para que ele sumisse do meu lado. E o céu, na verdade, estava com o tempo fechado. — Preciso andar rápido, parece que vai chover.

— Por isso quero te acompanhar, tenho um guarda-chuva aqui. — Se aproximou mostrando.

— Eu gosto de chuva, acredita!? — Forcei um breve sorriso.

— Hm... — Ele olhou para frente com aqueles lábios mostrando um sorriso sarcástico que eu particularmente não suporto mais. — Nossa, não é o obssecado que quase me fuzilou com os olhos na sua casa? — Não entendi a sua referência, levanto meu olhar e direciono até ele.

— Que?

— Ali. — Ele apontou debochando. No caso, era Vitor. Nossa, bendita hora que eu deixo Guilherme sair da escola comigo. Às vezes eu preciso ter paciência para negar as coisas. Eu espero que o Vitor não pense merda.

— Ah... — Vitor não percebeu, estava comprando alguns doces e olhando para o céu, parecendo perceber o clima chuvoso que estava vindo sobre o bairro.

Ele termina de comprar suas coisas e caminha em nossa direção, sem perceber Guilherme e eu ali. Eu queria que não percebesse, ou que ele não ficasse mal... Mas acho que era inevitável.

— E aí garoto fuzil! — Guilherme parecia querer complicar as coisas, mas ao mesmo tempo parecia muito ingênuo. Vitor levantou a cabeca e nos analisou sem demonstrar algo que eu possa decifrar. Eu não queria ficar mais distante dele.

— Você? — Olhou para Guilherme com total desdém.

— Vitor. — Acenei para ele.

Ele ergueu as sobrancelhas para mim, mas não disse absolutamente nada.

— Tchau Guilherme. — O mesmo me olhou sem entender, empurrei ele.

— Por que Leonor? Como assim? E o guarda chuva, Nono? — Guilherme nunca quis só ser meu amigo, parece que quer me prejudicar de verdade.

— Nono? Desde quando... — Vitor ia falar algo, mas ele guardou isso para ele mesmo.

Guilherme gargalhou e foi embora.

— Vitor, você quer ir lá em casa...? Eu tenho muita coisa para te contar. — olhei para ele esperançosa.

— Acho que não. — Tudo bem, não vou mentir que me senti um pouco mal.

— Ah...Entendi. — O barulho da chuva no céu nos avisou que ela estava perto.  — Você está bem, então?

— Sim. — Finalmente me olhou. Eu estava esperando ele me perguntar se eu estou bem, mas parece que nada vai sair daqueles lábios.

— Eu mudei de escola, sinto falta de lá. Como vão as coisas?

— Normal. Nada mudou. — Ele mudou. Mas logo ele?

Mordi meus lábios em um sentido de apreensão, nervosismo, eu sinto muito a falta de abraçar ele e beijá-lo.

— Você me desculpa? — Perguntei com toda sinceridade que há em mim.

— Por que?

— Por tudo. Eu acho que eu não fui um tipo de amor que te fez bem, eu só venho te fazendo mal. Agora tudo melhorou e eu acho que poderíamos ficar juntos, mas parece que você já está bem e eu não quero que você fique mal novamente por causa de mim. Eu só quero que me desculpe por te machucar tanto.

Com amor, Vitor Guttiz.Onde histórias criam vida. Descubra agora