⁷Convite inesperado

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Capítulo 7: Convite inesperado

Karen encarou o teto por cerca de trinta minutos inteiros.

Sua mente, apesar de parecer focada no gesso branco e sem graça, em vez disso a levava por um mar traiçoeiro e tempestuoso de pensamentos. E, para variar, Rosalina Hartmann protagonizava cada um deles.

Desde que chegou em casa e se escondeu no quarto escuro, a Gaspar permitiu-se rever tudo que aconteceu na última semana, não deixando um mínimo detalhe para trás. Mas, independentemente do quanto tentasse, era um desafio perdido conseguir compreender o que lhe levava a tomar certas ações.

Aceitar sair com a Hartmann não havia sido uma decisão tomada por pura e espontânea vontade, e Karen sabia muito bem disso. Seus planos, até então, envolviam somente suas músicas e sua elevação de carreira, e a cantora entendia qualquer outra interferência como perda de tempo e atraso em seu cronograma. Porém ali estava ela, presa em uma armadilha idiota armada por si mesma, e desviando de sua rota mais do que nunca.

Quanto mais o tempo passava, mais a Gaspar se convencia que estar ao lado de Rosalina era uma sacrifício que valeria a pena, e por mais ridículo e sem noção que parecesse, ela deveria continuar com aquilo. Sempre fora uma vida solitária, e diante de uma oportunidade para mostrar um novo rosto aos fãs, Karen agarrou-a com as unhas fincadas. Mas por que a cada novo sorriso estampado no rosto da garota patricinha que presenciava, mais o seu peito apertava?

Por que, ao estar ao lado de Rosalina, a cantora forçava-se o auto convencimento de que era tudo por sua carreira? Por que sua irritação era elevada a pontos extremos com simples gestos da Hartmann? Por que parecia tão difícil apenas se manter sã ao lado dela? Haviam outras coisas que lhe fariam crescer, então por que insistia em um plano de relacionamento ridículo?

Karen estava irritada, incrédula e desesperada. Permanecer ao lado de Rosalina Hartmann estava lhe deixando insana, e por mais tentador que fosse aflorar aquele sentimento, a Gaspar previa que, pela primeira vez, o fato de sua sanidade esvair não era satisfatório.

— Eu só a vi três vezes. - Resmungou. - Por que depois de tão pouco tempo me sinto tão afetada?

Julieta havia dito que o fanatismo de um fandom por algo em específico durava cerca de três meses, e não tinha uma semana que Karen fez seu acordo. Imaginava-se um mês depois. Como ela estaria? No mínimo, em um estado irreversível de confusão mental.

- Certo, Karen Gaspar. Você apenas está se acostumando com algo novo. Irá voltar ao normal assim que digerir todas as novas informações. Convenceu-se. - No dia que eu for vencida por Rosalina Hartmann, irei preferir enfiar alfinetes em meus olhos a aceitar a derrota.

Karen levantou o braço na altura dos olhos, observando com atenção a pulseira rosa que se fazia presente no pulso. E, após alguns segundos de hesitação, retirou-a e colocou em cima da mesa de cabeceira. Não tinha sentido usá-la se não estava na presença de Rosalina, para começo de conversa.

Levantando-se, foi até o canto do quarto ao lado da porta, onde sempre guardava seu violão, pegou-o e dirigiu-se a varanda, sentando-se em uma das poltronas que a enfeitavam. Dali, a Gaspar tinha uma visão magnífica da cidade. Uma das vantagens de morar em um dos andares mais altos do prédio, com certeza.

Respirando fundo, Karen passou os dedos levemente pelas cordas do violão, ouvindo-as soar leve e confortável ao ouvido, e então começou a pensar em uma nova canção, uma que não só a representasse no momento, mas que também atingisse todos os seus fãs, envolvendo-se por completo na melodia que limpava sua consciência.

Kalina: Romance CaóticoOnde histórias criam vida. Descubra agora