³¹ Errar é humano

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Capítulo 31: Errar é humano

Quando os raios de sol fizeram-se incômodos aos olhos fechados de Rosalina, ela levantou-se da cama ainda sentindo a exaustão da última noite pesar-lhe os ombros. Mal tendo dormido, a Hartamnn sabia que, caso tivesse se passado três horas desde que deitou, seria muito.

Diferentemente de antes, que usava o tempo para fazer postagens, lives, divertir-se com os amigos e stalkear Karen em todas as redes sociais, as madrugadas de Rosalina serviam para que, depois de um dia inteiro tentando se manter viva, ela recapitular tudo que aconteceu e encher-se de culpa, ansiedade e remorso. A insônia tornou-se frequente, e quando dormia, pesadelos a assombravam. Passar as horas em silêncio, sozinha e pensando mais do que deveria, prejudicou não só seu psicológico, mas seu estado físico.

Rosalina mal comia, e caso fosse se alimentar ela optava por comida industrializada. Com o auxílio de Alex e Romeu, vez ou outra a Hartmann conseguia ser um pouco mais saudável, mas isso não impediu que seu estado piorasse cada vez mais. A mercê dos amigos, Rosalina jogou-se nos braços do desespero, e a cada novo amanhecer sentia-se mais cansada.

Ela levantou-se na manhã que seu término com Karen completaria dois meses, e presentando-a, sua cabeça doía o suficiente para que franzisse as sobrancelhas. O resultado de noites mal dormidas e pensamentos incessantes era ruim, e ela sabia disso. Levantou-se, foi até o banheiro e lavou o rosto. Rosalina encarou o espelho e as grandes olheiras abaixo de seus olhos tornaram-se evidentes. Não havia brilho em suas íris, e sua expressão, murcha, assustaria a Rosalina de três meses atrás.

Como alguém que era cheia de esperança, confiança e determinação tornou-se tão fragilizada? Rosalina tinha noção que deveria reagir, e tentava ao máximo investir em seu futuro. Fazia um mês que tentou voltar as redes sociais. De pouco a pouco ela recuperava fãs, mas a frequência de comentários odiosos e ofensivos não diminuía. Manter a positividade era difícil, fazer lives era difícil e existir por si só era difícil.

Ela tentava, todos os dias, reerguer-se. Haviam pessoas esperando por ela, torcendo por ela e prezando por sua alegria, e eram por causa dessas pessoas que a Hartmann não desistiu. Mas era extremamente complicado conviver com a ideia de que, depois de anos acompanhando Karen, depois de mais de um mês ao lado dela e depois de apaixonar-se por ela, Rosalina foi traída de forma tão cruel.

Era doloroso, era mortal, era torturante.

Rosalina, ao mesmo tempo que sentia raiva da Gaspar, considerava-se idiota por ter caído em seus truques por tanto tempo. Ela chegou a pensar, inclusive, que tinha errado com Karen ao não escutá-la, mas já havia dado tantas oportunidades para que ela confessasse que, se fizesse de novo, seria o mesmo que se humilhar por alguém que nunca fez questão de confiar totalmente em quem amava.

A Hartmann sabia que parte do que viveu com Karen foi genuíno, mas por mais que isso fosse verdade, a Gaspar usava sua imagem para elevar a própria carreira, e essa simples informação corroeu Rosalina. Ela não conseguia mais ver Karen da mesma forma, e todas as vezes que tentava sentia uma gastura em cada pedaço de seu ser.

A cantora explorava o mundo fazendo shows, agradando milhares de shows e sorrindo para pessoas que não eram Rosalina. Ela sabia que isso acontecia, a internet fazia questão de mostrar, afinal. Acontece que era para a Hartmann estar lá, junto de Karen, vendo-a cantar e aplaudindo-a de pé. Seriam seis meses mágicos, mas que foram totalmente destruídos por uma estúpida mentira.

Rosalina suspirou fundo, seguiu até a cozinha e alimentou-se de cereal. Notando-a, Winnie veio correndo pular em seu colo. O animal havia crescido, mas continuou a mesma bola de pelos animada. Ela aconchegou-se no colo da dona, transmitindo o amor e calor necessário para fazer um sorriso mínimo brotar no canto dos lábios da Hartmann.

Kalina: Romance CaóticoOnde histórias criam vida. Descubra agora