OITO

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O sangue que a banhava naquela noite não caia mais sobre seu corpo. Suas vestes são limpas e claras; um vestido sem mangas feito de tecido barato e cortes grosseiros. Ela sorri, me encarando em silêncio. Seus dentes são cimétricos e seu cabelo loiro levemente ondulado e brilhante. Ela estava magra, mas não parecia mal. Os olhos que me encaram são azuis celeste, tão claros que na iluminação da caverna pareciam brancos como os de Ara, e também estava tão pálida que talvez não fosse confundida como uma Pontiac apenas porque as púpilas de Maara eram negras como as de qualquer outros olhos. Apesar de tudo, maara continua linda. Ela coloca as mãos na cintura e me olha de cima à baixo. No início com entusiasmo, mas quando termina sua expressão perdeu o brilho. Depois, Maara engole em seco. Meu rosto queima.

— À que lhe devo a honra?

— Delroy disse que eu deveria te buscar.

Delroy?

— Sim.

— Mas não é só isso — ronrona com tédio. Sua voz soa diferente de quando era um fantasma. Ela desvia sua atenção para trás de mim, de onde uma sombra fina e sorrateira, menor do que uma cobra de pequeno porte, passa por mim e termina seu percurso nos ombros de Maara. — Lembra de Ray?

— O governo de Oriwest é fraco e está ainda mais fraco agora — continuo. — Nós precisamos de aliados fortes. Myliand está em guerra.

— Eu matei Toran, sabia?

O pai de Lowan. Um arrepio corre por minha espinha.

— Syfer não está tão forte quanto você imagina — desdenha, enigmática.

— Maara...

— Agora vá.

Por mais que fosse uma ordem, seu tom era brando. Depois, ela vira as costas para mim.

Ela quer negociar, Escolhida...

— Eu te dei metade da minha alma — argumento, seguindo-a.

— Aquilo foi antes. Não sou ingrata, óbvio, mas eu te dei exatamente o que queria. E portanto, aquele acordo foi concluído!

— O que você quer em troca? — questiono com rapidez.

Com isso, a Feiticeira para de andar. Ray, a sombrinha, vira-se subitamente para mim. Seus olhos são amendoados e completamente dourados. Maara, por sua vez, mantém a postura e encara um ponto entre uma das celas ao seu lado. Ela sorri.

Vingança. De Joah Hewlett, desta vez.

Não consigo me impedir de sorrir de volta. Vingança.

Pessoas demais odeiam essa mulher e seus feitos.

— Se nós vencermos, e você se mostrar eficiente durante a guerra, você terá vingança. Todos nós teremos.

Finalmente, ela se vira aos pulos, deixando as formalidades completamente de lado. Ela ri, corre até uma das celas e junta uma quantidade exorbitante de frascos de vidro, pequenos pedaços de corpos de diversas criaturas e ervas secas em um saco de batatas gasto que então é depoisitado em uma mala com um grande pilão de madeira e um soquete do mesmo material. Ela fecha a mala com desleixo e a levanta sem dificuldade, olhando para mim eufórica.. Ray gira em círculos em volta de seu pescoço.

— Para onde vamos, então?

Maara caminhava lentamente por Powal. Seus pés estavam descalços e ela não usava nada mais do que seu vestido. Não sei como ela não estava morrendo de frio. A chuva a beijava de uma forma deferente de como me amaldiçoava.

Quebradora da MaldiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora