QUATRO

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Arquipélago das Fênix

O castelo carrega uma atmosfera mórbida sem o rei. Merlin sente como se tudo estivesse desabando novamente, e não pode deixar de culpar Toran, Syfer, Oriwest, Callia e seu grupo; mas se odiar ainda mais.

Se ele estivesse mais saudável, ele teria resistido.

Merlin sabia que este dia chegaria, cedo ou tarde. Berk foi poderoso o suficiente para suportar anos sem adoecer, mas nem mesmo o mais grandioso dos reis poderia escapar de algo inevitável. Ainda assim, estava cedo demais para perder o pai e ter de reconstruir um reino sem ninguém ao seu lado. Suas mãos cobrem o rosto e abafam o som de sua tristeza no quarto. O castelo ainda não havia sido reparado por completo, todavia, boa parte das cidades fora de Emeray foram. A população anseia por respostas, ela sabe disso. E não faz ideia de como dar a notícia ao público.

Ela não pode ser rainha, mal conseguiu fazer o pai odiá-la depois de tudo. Talvez ela tenha se acostumado com a arrogância, mas isto não anula o fato de que a população ainda carrega a chance de ir à ruína.

Os serviçais não ousaram entrar em seu quarto desde o funeral privado. Fazem quase dois meses e a princesa não foi à público, ou sequer marcou presença em um local a mais de cinco metros do quarto. Ela mesma estava adoecendo, por outros motivos além de sua maldição pessoal. Nenhum sinal do artefato, de qualquer outra pessoa. Ninguém ousou exigir coisas de Merlin durante o tempo que passou.

Ao menos Syfer não voltou. Ainda. A ideia, por si só, já lhe causava arrepios. Ela estava paranóica. Paranóica e devastada. Talvez seja de fato impossível imaginar um reino sem Berk, O Vitorioso. Outrossim, ela teria de fazer um esforço para tal.

Quando completaram-se dois meses e dois dias, Merlin saiu do quarto.

Até mesmo os funcionários do castelo, que já haviam se acostumado com sua ausência em nome do luto, estavam mais do que surpresos em vê-la caminhando com tanta determinação. Isso também lhes causava uma onda considerável de medo.

— Diga ao povo que farei um anúncio esta noite — Merlin direciona sua ordem à uma serviçal qualquer.

— Mas... vossa alteza... faltam quatro horas para o anoitecer... não acha cedo demais? — Questiona com a voz trêmula e medo de contrariar a princesa.

— Será tarde demais se você continuar na minha frente e não fazer o que estou mandando — a princesa replica. A pobre serviçal assente com pressa e dispara pelos corredores para enviar a notícia.

A verdade é que Merlin não sabe o que fazer. Já faz tempo demais que a família real não vai a público e é um desrespeito à honra de Keres esconder um marco que mudará o rumo da monarquia de seu povo. Ela pretende acabar com isso da forma mais rápida. Mas conforme ela ajeita seu vestido feito de seda branca com uma manga comprida, e outras serviçais retocam sua maquiagem, ela sente que mesmo da forma mais rápida, não conseguirá.

Quando observa o produto final no espelho, sua coroa levemente maior que as que costuma usar entre seus chifres — combinando com a cor neutra de seu novo vestido longo e como ele cai em seu corpo —, sozinha em seu quarto, ela parece adulta. Adulta demais. As coisas mudaram. O que Jasper pensaria sobre o que vê agora? Ele certamente não teria se apaixonado como se apaixonou há tanto tempo.

— Vossa alteza — chama um serviçal.

— Sim?

— Começaremos em trinta minutos.

Quebradora da MaldiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora