VINTE E TRÊS

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Callia

— VENHO LHES OFERECER UM ACORDO em nome da coroa das Fênix. Não posso ser rainha, e você é o próximo da linhagem. Todos sabemos que Oriwest não ganhará esta guerra sem aliados. Claro, não pretendemos o obrigar a criar uma aliança entre Keres e Oriwest, esta decisão será completamente sua. Mas sairemos daqui exclusivamente com você de uma forma ou de outra.

Não — intervenho, voltando-me para Lowan, que por sua vez, mal presta atenção em minhas palavras. Seus olhos brilham com confusão.

— Sinto muito, mas isto deve ser um engano — balbucia. Consigo sentir a fúria em suas palavras.

— Você é capaz de controlar o fogo? — a princesa retruca. Lowan observa suas mãos, entregando a resposta para sua pergunta. — Nenhum Hawlett até hoje foi capaz de controlar o fogo. Isso não está no sangue deles.

— Dons não são necessariamente definidos por sangue — ele responde com rapidez, acalmando seu tom.

— Ninguém além dos Hawletts até hoje foi capaz de destruir com o olhar. Ninguém além de nós é capaz de controlar o fogo sem limites; sem nos queimar no processo. Portanto, alguns são. Você deve nos acompanhar até o palácio.

— Sinto muito, vossa alteza — Emma interrompe com frieza —, mas sinto que sua revelação não seja nada apropriada para o momento. Esse tipo de assunto não deve ser revolvido em alto mar com tamanha informalidade. Talvez você aceite nos acompanhar até Oriwest para que possamos negociar?

— Não vamos a lugar algum — ela a corta, sem se dar ao trabalho de desviar os olhos de Lowan. A angústia por trás de seu olhar me diz que ela não parece apreciar a exstência de Lowan. Por que ela o quer então? — Vejam, estamos aqui, nos humilhando para nossos mais recentes inimigos, prometendo fidelidade por um preço simples. Vocês terão vitória na guerra e mais chances de sobreviver ao nosso lado se Lowan assim desejar. Mas é necessário que ele volte conosco o quanto antes. Se Lowan vier conosco, nossa dívida com o artefato será anulada em meu nome independente de tudo. O mais importante, estamos lhes oferecendo paz.

Lowan arrisca um olhar de relance para mim. Tão célere quanto um piscar de olhos, eu mal teria percebido se já não estivesse o observando com tanta necessidade. Ainda assim, sua resposta a minha urgência era, todavia, terrivelmente calma; catastroficamente decidida. Ele desvia o olhar até chegar no outro lado do barco e para lá repousa a mente. Por mais rápido que o momento possa ter sido, foi sentido como horas. Um calafrio percorre minha espinha no mesmo segundo em que Lowan dá a pior das respostas possíveis:

— Certo.

Não! — Emma e eu o cortamos em uníssono, quebrando enfim meu transe.

— Nosso ódio por Oriwest é mútuo — ele continua, nos ignorando. — Mas se Callia deseja quebrar a maldição ao lado de Oriwest, então eu devo ajudar.

Não! — esbravejo, agora sozinha, colocando-me entre a princesa e Lowan. Me sinto pequena, e mesmo assim continuo como se a vida não fosse importante para valer meu silêncio: — Lowan, pelos Deuses, eu nunca pedi isso, você está equivocado. Ele não deve acompanhar vocês — imponho, sentindo meu sangue esquentar. Merlin me observa com indiferença.

— Callia...

— Não.

— Callia, vamos conversar — ele impõe.

— Não conversamos há semanas, Lowan — esbravejei, descendo as escadas da caravela até adentrarmos em um dos cômodos. — O que diabos você quer? Você não vai me convencer de que aceitar uma coroa não é uma decisão inconsequente.

Quebradora da MaldiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora