Era grande o suficiente para cobrir nós dois e nos engolir entre seus tentáculos se quisesse. Assemelhava-se a uma água viva translúcida gigante, dançando entre as cores escuras das algas. Ainda assim, seu corpo era em formato cilíndrico e sua boca possuía camadas estranhas. Seu interior era brilhante como as luzes que nos rodeiam e estava tão próxima que sua luminosidade fazia meus olhos doerem.
Engulo o grito que ameaça sair dos meus pulmões ao me deparar com aquilo. Peter segura meu pulso com rapidez e nos afasta da criatura na medida do possível.
— A luminosidade vem delas. Tem um grupo grande dessas coisas no lado de fora — sussurra, ofegante. Sinto outro calafrio.
— O que faremos?
— Estaríamos arriscando menos passando por cima — Peter conclui enquanto já efetua movimentos para cima, segurando-me pelo pulso para que pudesse acompanhá-lo.
Era fácil concluir que o complexo de águas vivas naquela área se estendia por quilômetros em mar aberto e escuro, onde o único barulho que preenchia o silêncio das águas eram as próprias criaturas, chocando-se umas com as outras. Mesmo quando o conjunto de algas pelo qual passamos já era invisível em nosso campo de visão, ainda havia águas vivas à frente.
O problema começou quando elas começaram a se mover.
Elas deslocavam-se para baixo, para frente e para cima, indo em todas as direções possíveis em uma luta contra se afastar umas das outras mas ainda manter certa proximidade. Tentáculos perigosamente longos e dispersos como grandes pedaços de tecido chocavam-se e ameaçavam nos ferir, passando a centímetros de nossos corpos. A energia do artefato aumentava ainda mais conforme seguíamos em frente, e meus batimentos cardíacos eram tão frenéticos quanto os movimentos ligeiros de Peter, desviando-nos de cada um dos tentáculos. Cada puxão era uma surpresa; quando eu olhava de relance para onde estávamos antes, via águas vivas ainda maiores tomando todo o espaço. Era quase como se fôssemos ficar presos entre elas eternamente.
Nós não temos tempo para isso.
O limitado espaço que tínhamos para esquivar das criaturas ficava menor a cada minuto. Minha esperança se diminuía completamente tomada pelo medo sobre a situação em que nos encontramos. De repente, respirar parece difícil, e isso não é um bom sinal.
Não posso me descontrolar. O artefato está perto.
A água parecia esquentar com o calor de seus tentáculos e me pergunto se estas criaturas são mesmo águas vivas ou apenas uma versão semelhante em formato. Estas eram certamente vinte vezes maiores do que qualquer água viva.
Peter começa a nos guiar com mais rapidez à medida que nosso caminho livre das criaturas passa a se fechar. Todavia, o fim ainda está longe demais para que fosse fisicamente possível de ser alcançado.
Nós vamos morrer.
Abaixo de nós uma delas sobe com toda a força, atingindo-nos com seu corpo pegajoso e tirando nosso equilíbrio. Somos completamente projetados em direção aos tentáculos de sua companheira, com tanta rapidez que quase não consigo raciocinar. Quase.
APAREÇAM!
As trevas envolvem seus tentáculos e corpo e a perfura em todos os lugares. Partes dos seu corpo se fundem com partes de matéria escura que produzi. Porém ambos nos atingem sem perigo; ela está morta — eu a matei. O corpo de Peter está encolhido, de modo que o meu assumiu uma posição completamente alerta. Por um segundo, eu sinto que ele perdeu seu controle sobre a água e ela faz cócegas perigosas em minhas narinas que me incentivam a prender a respiração. Meu irmão me encara, completamente estupefato. Olho para os lados.
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Quebradora da Maldição
FantasyLIVRO TRÊS DA TRILOGIA "PRINCESA DAS TREVAS" "Que a última Governanta de pé, triunfe." Com o início de uma Guerra, Callia e seu grupo terão que unir forças e reconstruir sua confiança no intuito de impedir que os últimos artefatos caiam nas mãos do...