DEZESSETE

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Callia

PRISÃO? — indaguei baixinho, endireitando a postura e aproximando-me de sua cela.

— Veja, a concha te trancou no interior com o artefato. Eu tentei abrir com tudo que consegui, era quase como se fosse indestrutível e tive medo de usar meus dons e te matar. A guarda deles chegou rápido como se já estivessem à espreita. Sorte a nossa que não me apagaram, caso contrário nós teríamos morrido afogados.

— Onde está o artefato?

— Eles levaram.

Não.

Aproximo-me dos corais amarelos vibrantes que servem como as barras desta prisão. Com cuidado, tento tocá-los. Em resposta, os corais queimam minhas mãos antes que Peter pudesse abrir a boca e me avisar deste importuno. Agora, a palma da minha mão pulsa e arde e mordo o lábio inferior para evitar fazer algum barulho.

— Onde... — começo, tentando me recompor — onde fica esta prisão?

— Debaixo do meu castelo! — exclamou uma voz, provocando eco pelo local. Nós nos viramos imediatamente em sua direção.

Nadando graciosamente pelo corredor da prisão de corais, uma mulher com cauda de peixe se revela para nós. Seu sorriso tem dentes afiados, seus olhos e cabelos longos e lisos são roxos vibrantes e completamente desconcertantes. Sua cauda também é roxa. Seus seios estão completamente à mostra, suas orelhas são como caudas de peixe e suas unhas são afiadas.

Talvez as sereias fossem mais convidativas em minha mente.

Ela usa uma coroa com conchas e adornos prateados que caem sobre sua testa e bochechas discretamente escamosas. Não tenho palavras para usar perante aquilo, meu queixo fica caído por um tempo. Que parecem ser guardas a seguem, desconfortavelmente perto. Todos eles se movem demais de forma extravagante.

— Agora que estamos todos acordados, alguém poderia fazer o favor de explicar por que diabos vocês decidiram nos roubar?

Levanto-me da forma mais desleixada possível ao perceber que esta pergunta foi feita para que eu pudesse responder. Minha visão perde o foco por alguns segundos, mas começo a falar mesmo assim:

— Vossa majestade, eu sou a Quebradora da Maldição — apresento-me, fazendo uma reverência que me desequilibra para frente e perder a pouca credibilidade que ainda me restava. — Presumo que você tenha ciência de que temos uma maldição assombrando nossas terras e uma profecia foi criada para que um dia alguém fosse capaz de acabar com ela. Eu sou capaz de quebrar a maldição. Para manter a estabilidade até meu nascimento, os mais poderosos Feiticeiros Zarvos se sacrificaram para criar artefatos e manter o excesso de poder de Myliand concentrado em um único objeto. Agora que estou aqui, preciso coletar estes artefatos para quebrar a maldição. Espero que você possa entender que isso não passa de um mal entendido e...

— Eu já conheci lunáticos piores — murmura para um dos guardas. Todos caem na gargalhada, mas suas risadas soam completamente ensaiadas.

Parece que as pessoas tiraram o dia para me chamar de lunática.

A verdade machuca...

Calem-se.

Ela se vira para Peter, ignorando minha existência como a de alguém que acabou de sair de um manicômio. Sua expressão muda completamente de desgosto para o sorriso mais largo que já vi, e depois choque.

— Você...

— Seu feitiço não funciona em alguém que já está enfeitiçado, rainha.

Ela bufa, enfurecida. Recuo dois passos.

Quebradora da MaldiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora