VINTE E SEIS

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Callia

LYDIA CONTINUA EM COMA. A chegada em Oriwest é longa e cansativa. Já sabia que seríamos bombardeados por perguntas sobre o que aconteceu, porque voltamos com uma pessoa a menos.

Não sei porquê Lowan fez o que fez. Certamente não foi por mim como alegou. Ele sabe que nunca quis que fizesse isso; que nunca o pedi para sacrificar o que restou de sua sanidade.

Sempre que me pergunto se estou exagerando, me lembro de Lowan contando-me sobre sua mãe e as sessões de tortura; de seu corpo completamente desfigurado, fruto de suas últimas semanas em Syfer. Isso é o símbolo da importância que a política tem para estes seres. Joah torturava Lowan para que ele não fosse mais poderoso — porque tinha medo; inveja de seu próprio filho. Porque precisava descontar sua frustração política em alguém para que os danos não fossem coletivos. Ser parte disso o destruirá.

Talvez seja isso que ele queira.

Quem sabe, no fundo, Peter esteja certo. Ele é um Hawlett, e a destruição está no seu sangue. Destruição de vidas, de sua própria vida, e de anos tentando fugir de seus instintos. Para os Hawlett, não importa se você esteja destruindo a si mesmo contanto que haja destruição.

Não duvido que se um dia nos encontrarmos novamente seremos pessoas completamente diferentes. Mas ainda não sei dizer se isso é uma coisa boa.

Os deuses estavam há dias na adega do palácio degustando vinhos que não os pertenciam. Lay e Lótus sumiram. Aos poucos, o senso de esperança que deveríamos ter ganhado começa a se esvair e dar lugar a decadência novamente.

— Vermes, parem de beber e façam-se úteis — esbraveja Emma, empurrando o ombro de Ameer, que por sua vez revira os olhos com os braços cruzados.

Quando me viro para Peter, percebo que está mais pálido do que o normal. Sua respiração se entrega em seus ombros que sobem e descem irregularmente. Franzo o cenho, ele segura meu pulso com força, como se estivesse prestes a dizer algo. Antes que pudesse o fazer, meu irmão cai em meus braços.

— PETER! — exclamo apavorada. Imediatamente, Maara e Emma correm para ajudar, seguidas pelos deuses.

Nós levem à curandeira — Norvell alerta com fragilidade antes de ser sua vez de perder a consciência.

...E lá se vão os amantes...

— O que é isso? Eles também foram envenenados?! — reclama Ameer.

Com o coração à mil, sou incapaz de responder. Maara checa os sinais vitais dos dois antes de dispararmos adega afora em direção à ala hospitalar. Eles estavam vivos, mas certamente não estavam bem. Nossa capacidade de fazer as coisas piorarem está começando a se tornar crítica. Mal chegamos em Oriwest e já perdemos mais duas pessoas.

Esta não foi a primeira vez que Peter perdeu a consciência. Quando Ara e Norvell foram capturados, Lydia disse que meu irmão sofreu as consequências. Foi como ele revelou na Prisão de Corais.

"...contato físico entre nós torna as sensações boas melhores, mas também torna a dor quatro vezes mais intensa e nos enfraquece; um dia vai nos matar."

Peter e Norvell estão caminhando para a morte. Eles estão ficando fracos.

Mesmo depois de terem seus estados estabilizados, as curandeiras não foram capazes de acordá-los. Peter e Norvell dividem um quarto de enfermaria em duas macas separadas. Eu me sento no canto da sala ao lado de Emma, que corre as mãos pelo rosto enquanto encaro meu irmão incessantemente, pensando que talvez, se eu continuasse observando, eles acordem e tudo ficará bem.

Quebradora da MaldiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora