— Mais uma vez você me desobedeceu e olha o que aconteceu, Jiwoo! Você é uma inconsequente!
Aquela "conversa" estava mais para um monólogo de gritos de meu pai me repreendendo, e era surreal como isso ainda acontecia mesmo que eu já fosse uma adulta que tem consciência de todos os seus atos. Odeio que ele me trate dessa forma. Minha maior vontade era de ir embora dessa casa e viver minha própria vida, mas enquanto não tenho um trabalho, não posso nem me dar o luxo de fazer isso. Infelizmente, ainda vivo do dinheiro desse homem.
— Cansei das suas brincadeiras, Kim Jiwoo. Você vai crescer e assumir suas responsabilidades, você querendo ou não.
— O que quer dizer com isso? — finalmente abri minha boca. Senti o corte do pescoço doer, mas contive minha expressão, não queria demonstrar fraqueza em sua frente.
— O que eu quero dizer? Já te deixei brincar demais, é hora agir seriamente e cumprir o que deve — ele estava sentado na poltrona em minha frente, segurava um papel — Assine isso, agora.
Olhei para a folha, era a mesma que ele tinha me dado no meu aniversário. Eu ficaria com uma boa parte das ações da empresa, mas só quando me casasse com Henry.
— Não está esperando que eu realmente faça isso, né?
— Assine agora, eu tô mandando! — sua voz se elevou novamente. Senti minha boca amarga.
Peguei a caneta com a mão trêmula de ódio. Ele quer que eu assine essa porcaria? Ótimo! Mas esse casamento nunca vai acontecer. Rabisquei minha assinatura e joguei o objeto com raiva na mesa em minha frente. Ele tinha um semblante vencedor no rosto que me deu náuseas. Me levantei sem dizer mais nada e dei as costas ao mais velho, quando ouvi sua fala arrastada:
— Vou me reunir com o Sr. Green e decidiremos a data do casamento. Depois de casar você vai morar no exterior com o Henry até as coisas se resolverem por aqui. Esteja preparada.
Eu queria fugir dele. Na verdade, queria que ele sumisse da minha vida para sempre. Estou cansada do seu controle e manipulação, ele não é meu dono. Às vezes me pergunto como minha mãe acabou casada com alguém assim, ela nunca foi como ele.
Me tranquei no quarto e deitei na cama, deixando finalmente minhas lágrimas caírem. Cheguei a soluçar de tão desesperada que me sentia, era como se na minha frente existisse unicamente um túnel escuro sem nenhum sinal de luz ao final.
Escutei meu celular vibrar em cima do colchão, sequer me lembrava de como ele tinha ido parar ali. Peguei o aparelho, era uma mensagem de Han pedindo desculpas por não estar aqui depois de ter prometido que ficaria o tempo inteiro ao meu lado. No hospital, enquanto meu pai praticamente me arrastava para casa, o secretário Cho dispensou Jisung, disse que eram ordens do meu pai. Eu não duvido que ele queira demitir Han depois do que aconteceu hoje. Por algum motivo, pensar nisso me fez chorar ainda mais.
Sequei as lágrimas rapidamente quando ouvi batidas na porta, fiquei em silêncio para que quem quer que fosse desse meia volta e saísse dali.
— Jiwoo, você tá aí? Tá tudo bem? — era a voz inquieta de Henry. Permaneci calada por mais dois segundos — Não precisa me deixar entrar se não quiser, só me diga se você tá bem.
Eu devia respondê-lo. Henry ficou dormindo no quarto do hospital depois de minha saída apressada, claro que não fiz de propósito, meu pai me arrancou de lá em menos de um minuto, mas ele deve ter ficado muito preocupado quando acordou e não me encontrou lá. Devo pelo menos uma explicação ao rapaz.
— Tudo bem, Henry, pode entrar.
Ele obedeceu, passando devagar pela porta e me encarando com um semblante de pena, e eu não podia nem achar ruim, porque no estado deplorável em que estou, até eu mesma sinto pena de mim. Talvez ele tivesse percebido que chorei, mas não disse nada, eu me senti grata por isso. O Green apenas puxou a cadeira da escrivaninha e colocou ao lado de minha cama, sentando-se nela em seguida e colocando a sacola que segurava em seu colo.
— Peguei a receita com o seu médico e trouxe tudo que você vai precisar — ele tirou primeiro uma caixinha organizadora da sacola e colocou em cima da mesa de cabeceira. Em seguida, tirou remédios e itens de primeiros socorros, colocando tudo bem arrumado dentro da caixa — Imaginei que não conseguiria ir até a farmácia, então passei lá e peguei pra você.
Meus olhos acompanhavam seus movimentos e eu estava completamente surpresa com o jeito atencioso de Henry, não esperava que ele fosse esse tipo de homem.
— Muito obrigada — sorri fechado, evitando olhar diretamente para ele.
— Olha só, primeira vez que você sorri comigo — o Green brincou, me fazendo rir largo dessa vez.
— Eu não fui muito legal com você até agora, né? — eu sabia que a resposta era sim, mas ele negou de um jeito fofo e educado — Depois que eu melhorar, vou te levar pra conhecer uns lugares legais aqui em Seul. Você precisa melhorar seu coreano!
Henry e eu conversamos quase que inteiramente em inglês, como não faz muito tempo que ele chegou, ainda não sabe nem o nosso alfabeto, mas pelo menos graças a todas as escolas caras e aulas em que meu pai me colocou, hoje eu falo outros três idiomas além do coreano. Não custa nada ajudar o Green quando ele está sendo tão legal comigo.
— Tem razão, eu sou horrível — gargalhou, finalmente terminando de organizar os remédios na caixa — Deixei os horários que você precisa tomar cada um desses anotado aqui — e me estendeu um papel. Sua caligrafia era bonita também.
Agradeci pelo gesto. Depois disso, nós ficamos em silêncio por um bom tempo, foi um pouco estranho, pra falar a verdade.
— Jiwoo — ele me chamou, minha atenção foi capturada e murmurei um 'hum' em resposta — Essa coisa toda sobre o casamento…
— Não é bem um casamento, né, Henry? É um negócio entre dois empresários, e eles não estão nem aí pro que a gente sente ou quer.
— Eu sei que você não quer isso, Jiwoo, e eu também não quero que case comigo forçada, apesar de te achar uma mulher incrível e... nossa… você é muito linda — ele sorriu de um jeito extremamente fofo e envergonhado — Posso ser sincero?
— Claro, pode falar — minhas bochechas estavam levemente coradas pelo elogio, mas fingi que nada havia acontecido e segui com a conversa.
— Te achei extraordinária desde a primeira vez que te vi, Jiwoo. Sabe, esse seu jeito decidido e como não abre mão de seguir os seus princípios e vontades, eu acho isso muito admirável mesmo — não sabia que alguém podia pensar isso de mim, confesso que sua fala me tocou — Eu adoraria me casar com você, de verdade, mas sei que não é isso que você quer, pelo menos nesse momento.
Talvez o Green estivesse esperando que eu falasse algo, mas nada saiu de minha boca. Muita coisa passava pela minha cabeça enquanto conversávamos. Se eu tivesse conhecido Henry sob outras circunstâncias, eu poderia até ter gostado dele, é um rapaz bonito, gentil e inteligente, mas o problema aqui não é ele. Nunca foi. Eu não vou viver a minha vida inteira da forma que meu pai quer, ainda mais quando tudo isso se trata apenas da ganância exorbitante dele.
Percebendo que eu não diria nada, o Green continuou:
— Sei que não tenho poder suficiente pra ir contra nossos pais, mas, Jiwoo, quero que saiba que respeito totalmente as suas decisões. E quem sabe... talvez possamos ser amigos em meio a essa situação toda?
Meu coração se aqueceu ouvindo aquilo. Pelo menos sentia que Henry não seria mais uma pessoa a querer comandar a minha vida como meu pai faz. Sorri e balancei a cabeça assentindo.
— Parece uma boa ideia.
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Dear Bodyguard ♡ Han Jisung
FanfictionSeria mentira dizer que Kim Jiwoo tinha uma vida fácil mesmo sendo a filha do dono da maior empresa de cosméticos da Coreia do Sul. A mansão milionária, embora fosse extremamente luxuosa, não parecia um lar para Jiwoo desde o falecimento de sua mãe...