Quando cheguei em casa depois do jantar com Hyunjin, tudo que consegui fazer foi capotar na cama. Somente quando acordei me dei conta de que não tinha trocado de roupa, tirado a maquiagem e tampouco escovado os dentes. Resumindo, minha aparência estava um lixo e minhas lembranças sobre a noite anterior começaram a ficar cada vez mais claras.
No banho, uma enxurrada de vergonha me atingiu em cheio. Enquanto a água caía em minhas costas, me lembrei das palavras de Han para mim.
"Meu trabalho é cuidar de você, e eu sou muito bom no que faço, Srta. Kim"
Senti meu rosto esquentar e o tampei com as mãos imediatamente, desejei que a água do chuveiro levasse essa sensação embora pelo ralo com ela. Eu devia estar muito bêbada para essa simples frase ter me atingido tanto, afinal, ele não disse nenhuma mentira. Cuidar de mim é o trabalho dele como guarda-costas, e se tem algo que Han Jisung parece ser, é bom no que faz. De qualquer forma, eu não deveria me meter em uma situação como a de ontem outra vez. Pra isso, é melhor que eu fique bem longe de qualquer coisa que envolva álcool. Está decidido: você vai parar de beber, Kim Jiwoo.
Terminei meu banho e vesti uma roupa confortável. Meu sábado inteiro seria ocupado por trabalhos da faculdade e leituras obrigatórias para as próximas aulas. Pra ser sincera, é melhor assim. Devo ocupar minha mente com coisas que realmente importam para mim, e arquitetura com certeza é uma delas.
Coloquei uma playlist para tocar enquanto estudava, e talvez tenha sido coisa da minha cabeça, mas jurei que escutei uma voz doce cantarolá-la por perto. Será que Han também foi pago para ficar na porta do meu quarto ou estou tão louca a ponto de ouvir coisas? Balancei a cabeça tirando esses pensamentos de dentro dela. Estava lendo um livro sobre a história da arquitetura coreana e suas principais características; para muitos isso poderia parecer um porre, mas para mim é realmente divertido conhecer os tipos de construções do nosso país e como tudo foi evoluindo com o passar do tempo.
Conforme a manhã passava, comecei a sentir fome. Geralmente não como nada de manhã, só saio por aí com um copo de café na mão enquanto corro para os lugares, mas hoje nem isso fiz. Apenas acordei, senti vergonha pelo que aconteceu ontem e comecei a estudar. Acho que estou com medo de abrir a porta do quarto e me deparar com Han. Seria constrangedor. Bem que a Sra. Jeon poderia vir até o quarto com meu almoço em uma bandeja, assim eu não precisaria sair, mas provavelmente ela esteja pensando que eu ainda nem acordei.
Eu me segurei o máximo que pude, já eram quase quatro da tarde quando decidi sair do quarto para comer. Pelo menos, consegui adiantar todas as tarefas da faculdade que tinha pendentes. Respirei fundo, abrindo a porta branca do quarto e não precisei dar sequer um passo para fora para identificar a presença de Jisung ali; minhas suspeitas estavam certas. Quer dizer que além de guarda-costas, ele ainda canta bem.
Coloquei o máximo de cabelo para frente, cobrindo meu rosto e passei por ele de cabeça baixa, como se aquilo fosse me fazer ficar invisível. Parei de repente quando sua voz chegou aos meus ouvidos.
— Hum…? — pigarreou, talvez estivesse ponderando sua decisão de falar algo — Você demorou pra sair do quarto, já estava indo bater na porta pra saber se estava bem.
Enchi os pulmões antes de responder.
— Você é um um guarda-costas ou um stalker doentio?
Meus olhos se arregalaram com o que saiu da minha própria boca, não sabia porquê falei dessa forma. Pelo menos estava de costas para ele, o que o impediu de ver que eu mesma estava me repreendendo por ter dito aquilo. Eu estava congelada no lugar, e como Han não respondeu, tentei amenizar o clima:
— Quer dizer, eu tô dentro de casa, não tem nenhum bandido aqui. Não precisa se preocupar tanto e… essa coisa de ficar me seguindo pra lá e pra cá, eu realmente não gosto disso.
Tá, isso só piorou tudo. Eu definitivamente preciso aprender a hora certa de parar de falar.
— Desculpe, Srta. Kim.
Minha boca se abriu quando lembrei que pedi a ele para me chamar pelo primeiro nome; eu ainda escondia meu rosto com o cabelo mesmo que estivesse de costas para ele. Talvez ele não tenha gostado do que eu disse, já que não acatou o meu pedido. Era mais uma coisa da qual precisava me arrepender da noite anterior. Finalmente me virei de frente para ele.
— Me desculpe também, Han.
Mais tarde, naquele mesmo dia, eu estava sentada com as pernas cruzadas em cima do sofá assistindo um programa de comédia com idols de k-pop enquanto comia um salgadinho quando escutei a porta de entrada sendo aberta, pela voz que conversava com a Sra. Jeon, sabia que meu pai estava de volta do trabalho, era por volta das oito. Mesmo aos sábados ele sempre vai pra empresa e só volta depois de terminar todos os assuntos pendentes. Eu no lugar dele, se fosse a dona, iria designar todas as funções pra outras pessoas e sairia para viajar ao redor do mundo.
— Jiwoo está em casa? — escutei o mais velho perguntar, e já sabia que nada de bom viria a partir disso.
— Está sim, senhor — a governanta respondeu, caminhando logo atrás dele.
— E por que ela não atende a porcaria do celular?
Arregalei os olhos, pegando o aparelho no bolso do moletom e olhando rapidamente, mas as ligações perdidas e as mensagens não lidas não eram dele, eram de…
— Tudo bem, Sr. Kim, sua filha deve estar ocupada, não tem problema — não demorou muito para Henry surgir na sala junto de meu pai.
— Jiwoo! Não viu as mensagens do Henry?! — esbravejou, eu logo me levantei do sofá, deixando o pacote de salgadinho de lado.
Meu coração estava acelerado com os gritos, senti como se eu fosse uma criança que tinha sido pega depois de aprontar alguma coisa.
— Eu não vi, pai, meu celular estava no silencioso — me curvei, esperando que ele parasse de me dar bronca, mas o mais velho continuou brigando comigo por um bom tempo.
— Han, nos deixe a sós um minuto, preciso ter uma conversa séria com a minha filha.
O guarda-costas, que até então estava parado em silêncio no canto do cômodo, enfim se mexeu, obedecendo a ordem dada.
— O Han fica! — falei firme. Ele parou bruscamente no lugar, sem saber se ia ou ficava.
— Certo, quer que ele esteja aqui pra escutar como você é uma inconsequente? — meu pai me olhou com raiva. Eu engoli seco, dando alguns passos para trás — É assim que você trata o seu futuro marido?
Fechei os punhos involuntariamente quando a palavra marido saiu de sua boca, eu estava prestes a explodir quando Henry finalmente falou algo.
— Jiwoo, na verdade eu vim te convidar pra jantar comigo, sabe, amanhã é um dia muito especial e eu não vou estar na cidade, então queria comemorar com você hoje.
O Green me estendeu um buquê de tulipas rosas que até então eu nem tinha me dado conta que estava segurando. Eu as peguei, encarando as flores confusa, sem entender.
— Dia especial? — franzi as sobrancelhas esperando por uma explicação.
— É o seu aniversário, Jiwoo. Não me diga que esqueceu?
Henry sorriu de um jeito fofo, caminhando até ficar bem perto de mim; eu desbloqueei o celular para confirmar a data na tela de bloqueio. Amanhã é 3 de maio, meu aniversário. Como pude me esquecer completamente disso?
— Ah… é mesmo — sorri sem graça, evitando todos os olhares que sabia estarem em cima de mim — Obrigada pelas flores, Green, mas não estou com vontade de sair.
— Jiwoo — senti a repreensão de meu pai apenas pelo tom de voz que usou para chamar meu nome. Era óbvio que ele não me deixaria recusar.
O clima na sala estava mais pesado que uma âncora me puxando para o fundo do oceano. Eu suspirei derrotada, pensando sobre até quando ficaria refém das ordens e das vontades de meu pai sem conseguir viver a minha própria vida da forma que eu quero. Viver nessa casa é como ser uma prisioneira dele, e eu definitivamente não aguento mais isso.
Encarei o chão, sem conseguir me impor dessa vez, Kim Taesoo tinha conseguido o que queria novamente, eu apenas me encolhi e murmurei:
— Certo… estou indo me arrumar.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Dear Bodyguard ♡ Han Jisung
FanficSeria mentira dizer que Kim Jiwoo tinha uma vida fácil mesmo sendo a filha do dono da maior empresa de cosméticos da Coreia do Sul. A mansão milionária, embora fosse extremamente luxuosa, não parecia um lar para Jiwoo desde o falecimento de sua mãe...