PRÓLOGO

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Dez anos antes...

Sentia todo meu corpo doer, diante da surra que tomei em cima do octógono, onde estou caído há alguns minutos, por não está conseguindo me concentrar em nada ultimamente. Meu primo Lukas, que decidiu passar alguns dias em Portugal, a fim de acompanhar Ana sua irmã que escolheu passar seu aniversário aqui, acertou meu rosto tão forte que me cortou o supercílio, fazendo o sangue escorrer por meu rosto, deixando-me tonto. 

Ele leva muito a sério os treinos que temos na organização. 

— O que está havendo com você, moleque? — Indaga-me. 

— Estou bem, não precisa se preocupar comigo. — Declaro. 

— Não estou preocupado com você. Apenas não quero perder tempo num treino ridículo, sem expressão e que não me trará nenhum proveito. — Comenta, me fazendo olhá-lo irritado.

Lukas e eu sabemos que estamos prestes a assumir uma responsabilidade muito grande na vida, mas parece que meu primo e amigo está muito mais preparado que eu. Com seus vinte e dois anos, nos anos finais de seu curso de cardiologista, vive ansioso e focado para assumir o lugar do meu tio no comando geral da máfia. 

Empolgação essa que pouco tenho. Apesar de saber que será quase impossível fugir disso, ainda penso que me tornar um líder mafioso, cheio de responsabilidades e incumbências, não está escrito na história da minha vida. Sinto, e já até pude contemplar certa vez em um sonho, uma vida mais amena, com meus filhos e ela, a mulher a quem meu coração escolheu amar. 

Contudo, não aceitar isso, é tirar a chance de meus pais, que muito sacrificaram as suas vidas para nos dar, a mim a minha irmã Pietra, tranquilidade e segurança que hoje temos, nos permitindo viver no mínimo normal, viverem o casamento que já passou por muitos tormentos. Não acho justo. 

— Vamos outra vez! — Declaro ficando de pé, mas meu primo retira as luvas de suas mãos. 

— Não! Chega por hoje. — Ele se aproxima de mim, parando em minha frente. — Conte para ela de uma vez, Gabriel. Diga logo o que sente e decida o que fará de sua vida. — Fitei os olhos claros como um cristal do meu primo, pensando em suas palavras. 

— Do que está falando, Luk? Não existe ela. — Gargalhou alto, indo para o canto do tatame onde estão as garrafas de água. Ele pega uma, joga em minha direção, tomando outra para si. — Qual é a graça? 

— Você achar que não percebi sua paixão pela irmãzinha gostosa é muita inocência sua, já que burro você não é. — Declarou. Noto que me encara e é impossível conseguir negar algo. E por odiar mentiras, não posso negar

— Ela não é a minha irmã, Luk.  

— Eu sei que não. Então por que não assume logo, toma ela para si e se casa? Sabe que no nosso meio isso não seria um problema. — Prático e cirúrgico como sempre, diz. 

— Não sei se achariam normal algo assim. Afinal, crescemos juntos, fazendo praticamente as mesmas coisas e chamando Inácia de avó. O que será que ela pensaria de nós dois?

— Se ela for a mulher sensata que penso, pensará que são perfeitos um para o outro. Já são amigos, se conhecem bem e são amados por todos. Inácia te conhece, sabe de sua índole e confia em você. Qual seria o problema? 

Meu primo tem razão. Não há nada que impeça eu me relacione com Beatriz, já que tudo que Lukas falou faz total sentido. Eu jamais brincaria com o sentimento dela e acredito que Inácia, assim como a minha família, saiba disso. O maior problema, nesta história toda, é ela me aceitar, já que a mulher por quem meu coração tem batido aceleradamente, tem uma visão de si diferente da minha. 

OS MARINOS III - DUALIDADE Onde histórias criam vida. Descubra agora