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Mariana Rodrigues
📍Consultório

Estou vivendo a fase dos vinte e poucos anos que você se sente perdida. Sou formada em jornalismo, fiz moda e nada mais faz sentido pra mim, então decidi cobrir a secretaria no consultório de psicologia da minha mãe durante a licença dela.

Estou tentando me descobrir. Vai que eu quero ser psicóloga, apesar de ser uma tremenda maluquice eu não saber lidar com os meus sentimentos e querer ajudar outras pessoas.

Aparentemente hoje o atendimento é pra alguém importante e que quer sigilo porque tem um segurança cinco vezes maior que eu checando o corredor.

Qual a vergonha em estar na terapia? Até os mais evoluídos precisam de algum lugar pra se sentirem vulneráveis e eles mesmos. Coisa antiga sentir vergonha e pedir sigilo pra uma consulta.

O VIP finalmente sai do elevador.

Acho uma afronta tremenda a forma com que o segurança me encara e confirma pra que o protegido possa entrar.

Minha expressão muda de deboche pra surpresa. Gabriel Barbosa entra pela porta. Ele mesmo, o Gabigol que acho que ainda joga pelo Flamengo.

Agora entendi todo o rolê de não querer ser flagrado aqui.

— Boa tarde. Só aguarda um minuto que vou informar sua chegada — Tento ser o mais empática possível enquanto ele não faz o mínimo de contato visual.

Parece impaciente batendo os dedos de forma descompassada em cima do balcão e me deixando um tanto irritada.

O perfume amadeirado fica por todo o ambiente, ele usa um moletom preto do Flamengo com o capuz na cabeça, um shorts na mesma cor é um chinelo branco. Me parece um pouco largado.

Aprendi com minha mãe que a forma com que nos vestimos, a arrumação do nosso guarda roupas e da nossa casa diz muito sobre como nos sentimos e isso tem todo sentido.

É comum o paciente que se sente pra baixo, depressivo, ansioso ou com algum transtorno mesmo sendo vaidoso se torne "desleixado". São fases, processos e momentos que precisam ser respeitados com o máximo de empatia e compaixão.

— Pode me acompanhar. Pode vir só você — Aponto pro jogador — Não tem mais ninguém lá dentro não moço além da terapeuta — Eu peito o segurança e, péssima ideia. Ele se levanta e eu fico quase na canela dele de tão pequenininha.

Eu ando sendo seguida pelo jogador e o segurança.

— Fique a vontade. Ele só quer conferir se não tem a torcida do Flamengo aqui — Reviro os olhos enquanto o segurança passa o olho pela sala — Satisfeito?

Fecho a porta e volto ao meu local habitual. O segurança fica em pé no corredor.

A sessão deve ter em torno de cinquenta minutos, decido dar um Google no que trás um jogador de alto nível até aqui.

Jogadores geralmente recorrem a ajuda psicológica por conta própria em últimos casos, casos quase perdidos e de dificílimo progresso.

Gabriel Barbosa. O Google me dá um milhão de manchetes, manchetes falando do tempo que ele tá sem marcar gols, provocações, críticas absurdas da torcida do próprio time contra ele, fala-se sobre uma possível lesão, os títulos que o Flamengo perdeu, que ele caiu de rendimento...

É muita coisa pra minha cabeça, imagina pra dele.

Não acompanho futebol. Sei muito pouco sobre e que o Rio de Janeiro fica um inferno em dias de jogos no Maracanã.

Algumas notícias mais antigas falam sobre sua fama de debochado, sobre como ele provoca tudo e todos com uma simples frase e enfatizam sua vida noturna agitada.

Abro o Instagram dele, tudo preto e branco. Aí credo.

— A, ele é ex da Neymara — Eu penso alto e olho pros lados pra ter certeza que mais ninguém ouviu.

Pelos vídeos e as fotos ele não aparenta ser uma pessoa que da muita importância sobre o que falam ou deixam de falar a seu respeito.

Geralmente são os que mais sofrem.

Convivendo anos com a minha mãe aprendi que isso é só um mecanismo de defesa, que no fundo somos todos humanos e precisamos de algum cantinho pra sermos nós mesmos.

Esse rapaz aqui parece ainda não ter encontrado o dele.

Ele é bonito, a barba bem feita, as tatuagens por todo o corpo o deixam ainda mais atraente. Mas não é como se fosse o mesmo homem que chegou aqui, está abatido, não sei explicar.

A sessão finalmente termina e ele sai como entrou, sem dizer nada. Quando chega no elevador meu olhar se encontra com o dele que parece perdido e as portas se fecham.

— Filha? — Minha mãe me desperta — Tá pensando na morte da bezerra?

— A. Oi. Não, tava prestando atenção nele. Rapaz bonito né?

— Mas não pro seu bico mocinha, esse aí tem fama de ter pego o RJ todo.

— Uma pena não ter me encontrado nessas pegações aí — Reviro os olhos — É brincadeira mãe.

— Agenda pra ele próxima terça no mesmo horário. A partir de hoje quando ele tiver sessão precisa desmarcar toda a minha agenda.

— Ele deve tá pagando muito bem por isso né mãe? — Pergunto.

— Muito filha, mais do que qualquer um pagaria.

Ela arregala os olhos me confirmando o que eu já sabia. Sempre tivemos boas condições, mamãe herdou uma caralhada de dinheiro dos meus avós fora todos os imóveis pelo Leblon, pela barra que eles tinham de aluguel.

Meu avô sempre me contava que quis ter uma única filha pra ter só um neto e pra que ninguém ficasse brigando pelo dinheiro dele.

— A coisa é muito difícil? — Pergunto.

— Ele até me lembra você, o jeitinho meio perdido ao tentar me contar sobre os problemas — Ela aperta minha bochecha.

— Vamos ir tomar um café? Não tem mais ninguém hoje mesmo.

— Mudando de assunto né mocinha, sabe que adiar conversas só piora tudo — Ela cruza os braços na frente do corpo.

— E você me deixa esquecer?

— Bem que dizem que em casa de ferreiro o espeto é de pau.

— E não é? — Sorrimos — Filha de terapeuta toda remendada por dentro e lelé das ideias.

— Se passa em frente a clínica psiquiátrica é sugada pra dentro — Ela brinca.

A real é que odeio falar sobre meus traumas, problemas, odeio ficar vulnerável. Acho muito mais fácil guardar tudo pra mim e ficar recolhida em silêncio.

O fato de fazer piadinhas com isso é o meu mecanismo de defesa. Sorrio dos problemas pra não ter que falar sobre eles.

Funciona, na maioria das vezes. Quando dá errado eu choro no banho e tá tudo bem.

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Oieeee!
Meu novo surto nasceu e eu conto muito com o apoio de vocês. Tenho certeza que vão adorar os dois e conhecer um outro lado do Gabriel que vejo muito pouco por aqui 🫶🏼

Cartas para a minha garota | Gabriel Barbosa (EM PAUSA)Onde histórias criam vida. Descubra agora