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(Ouçam Cardigan - Taylor Swift)


Gabriel está em viagem. Acredito que seja uma das últimas do ano.

Estou esperando que ele volte e possamos ir juntos na obstetra. O exame de sangue confirmou o positivo do teste de farmácia, então é real oficial a gravidez.

Pensei estar sozinha em casa mas tô ouvindo conversas no andar dos quartos. Fabinho disse que ia sair resolver algumas coisas na loja do Gabriel e a Rose foi ao mercado. Ainda não estou maluca.

Abro a porta no corredor e a voz se transforma em gritos.

Caminho pelo corredor e os gritos vem do quarto que a Dhiovanna fica quando tá por aqui, e são dela. Não entendo muito bem o contexto e baseado em tudo que já me contaram sobre a fase que ela vive, a forma com que conversa com alguém no telefone assusta.

Eu não sei muito o que fazer, visto que nossa relação é horrível e eu não quero me intrometer na vida dela.

As coisas ficam mais intensas, pego meu celular e tento falar com o Fabio, sem sucesso.

De repente tudo fica em silêncio. Ouço barulho de alguma coisa quebrando e é como se eu vivesse um filme. O mesmo que eu já assisti com o Gabriel assim que nos conhecemos.

Eu só entro no quarto sem muitos rodeios.

É crise.

Meu coração gela. Observo a situação imóvel, não sei exatamente o que fazer e o jeito que ela me olha como quem pedisse socorro me parte o coração.

Meus hormônios aflorados gritam, imploram pra saírem junto com as lágrimas mas eu os contenho. Isso aqui é sobre ela, deixo tudo de lado e me sento no chão de frente pra ela.

- Dhio? Consegue me ouvir? – Pergunto e ela concorda – Tenta respirar comigo.

Eu aplico com ela uma respiração que é muito eficaz, a 4-7-8. Inspira por quatro segundos, prende por sete e expira por mais oito.

Faço isso com ela repetidas vezes. Ela aperta minha mão de forma desesperada e assim que vê suas unhas cravadas no meu pulso se apavora.

- Ta tudo bem ok? A gente passa um remédio aqui e fica tudo bem. Se concentra em você e respira comigo.

Não sei por quanto tempo fazemos isso, o olhar dela é fixo ao meu.

Sou pega totalmente de surpresa quando ela solta minhas mãos e me abraça, abraça apertado como quem precisa de um conforto e de alguém que a entenda agora.

Uso a técnica da língua no céu da minha boca pra afastar a vontade de chorar que tenho, mas nada parece funcionar. Enquanto afago seu cabelo seco as lágrimas que deixei escapar.

- Quer me contar o que houve? Se não quiser tudo bem, vou entender - Escuto fazer a mesma pergunta que eu fiz pro Gabriel meses atrás.

Mas aqui é um pouco mais complicado, é a irmã dele. A irmã dele que não foi muito com a minha cara e que eu não sei até quando essa crise vai durar, que eu não sei se tudo isso não vai se transformar em ódio já já e ela vai gritar pra eu sumir daqui.

-Tô exausta, do mundo, de todo mundo - A resposta dela me surpreende e assusta - Queria que uma vez na vida as pessoas entendessem que eu e o meu irmão somos pessoas diferentes, que não me usassem pra chegar até ele.

Certo Mariana, agora vai falar o que pra garota em? Que entende ela?

-A vida toda foi assim, com amizades, com relacionamentos, com tudo. Não sou a Dhiovanna, sou só a irmã mais nova de um jogador famoso, e o mais engraçado é me cobrarem pelas atitudes do Gabriel.

Ok. Isso aqui eu sei que pesa pra família toda e mais ainda para ela. Imagina que inferno deve ser ter passado a vida toda ouvindo das suas amigas que querem pegar seu irmão, não saber quem está realmente sendo sincero contigo... imagina.

-Dhio, o que vou te dizer vai soar bem clichê mas um dia quando você se sentir desolada vai fazer sentido. No final de todos os dias, é você e você. Então você precisa se esforçar em prol de você, em prol da Dhiovanna.

-Ai meus pais pensam que eu sou uma suicida, porra, eu só quero ter o direito de ficar mal as vezes, não sair de casa e não fazer as coisas de mulher sabe?

-Claro que sei e isso precisa ser conversado. Nesse ponto você precisa conversar com eles e explicar que às vezes é normal a gente se sentir assim... a gente tem dias e dias, só se lembra sempre que eles estão nessa pela primeira vez também.

Silêncio. ela volta a me abraçar apertado porém ela ta completamente calma. Acho que às vezes é falta de um pouco de carinho também.

Gabi sempre foi o centro das atenções em casa e ela não pediu pra ter essa vida. Imagina o inferno não poder andar na rua direito porque o seu irmão tá em má fase.

Mas eu to falando o que também, se eu acabei de entrar pra esse inferno e no combo ainda tem uma criança.

Os dois precisam de uma conversa muito franca com os pais para que eles possam entender o lado dos filhos, sou da opinião que a conversa resolve tudo.

Todo esse problema eu resolveria em minutos.

Minha mãe e meus avós sempre me ensinaram que poderíamos ser melhores uns com os outros se tivéssemos diálogo, se olhassem no olho uns dos outros e disséssemos onde dói, onde machuca, onde pode remediar para que tudo fique bem.

-É. Muito obrigada por isso aqui e me desculpa por ter sido escrota com você - Ela me olhou nos olhos e segurou minhas mãos.

-Sua reação é compreensível e tá tudo bem, já esqueci. Posso te contar uma coisa e você me promete guardar segredo? - Ela me olha apreensiva, talvez receosa com o que vou dizer.

-Claro que sim.

-Eu tô grávida - Ela ameaça dar um grito quando eu faço sinal para ela ficar em silêncio e tento conter a empolgação dela - Ninguém sabe disso, ainda é segredo e vamos manter assim por segurança, tudo bem?

Ela não me diz nada mas os olhinhos marejados enquanto me puxa pra um abraço indicam que ela também precisava de alguma coisa boa, que essa família em geral precisava de alguma luz.

-Eu espero que você seja uma menininha pra tia te vestir com vários tênis e vestidinhos - Ela conversa com a barriga que ainda nem existe - Acho que eu me sinto bem melhor, as coisas boas vem pra gente no tempo certo.

-Nem eu sabia que eu ia precisar de uma família tanto assim Dhio, sempre foi eu minha mãe e meus avós. Essa casa sempre barulhenta, churrasco aos domingos com amigos e música não fizeram muita parte da minha realidade, sabe?

-Pois seja bem vinda a essa loucura Mari, você e essa criança vão ser muito amados pela gente, sério. Acho que minha mãe vai passar mal quando descobrir.

-A gente trabalha com essa possibilidade desde o princípio - Sorrio.

-Obrigada universo por ter me mandado um sobrinho e por sempre me guiar.

E de alguma forma eu tenho o mesmo agradecimento que ela. Ao universo por todas as vezes que eu me senti perdida ele ter me colocado nos eixos e me mostrado que meu caminho sempre esteve certo.


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amo esse capítulo assim como amo todos os outros

e vamos de perrengue chique?

Cartas para a minha garota | Gabriel Barbosa (EM PAUSA)Onde histórias criam vida. Descubra agora