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Estou sozinha no andar de baixo quando a irmã dele chega. Ela entra, finge não notar minha presença, pega um copo d'água e sai.

Meio segundo depois volta.

- Sabe – Começa – Eu até gostei de você.

- Já é um avanço – Digo baixinho.

- É só, não é nada contra a sua pessoa. Só que eu já estive aqui nesse mesmo lugar, minha família também. Meu irmão tem sofrido muito e só pra te dar um toque, mais cedo ou mais tarde esse conto de fadas termina.

- Não to entendo onde você quer chegar.

- Bom, só to te dando um toque como irmã dele, não faz ele sofrer – Debocha – Na verdade acho que depois do fim disso você vai pro psicólogo.

E sai, como se absolutamente nada tivesse acontecido.

Caramba eu tô tão, em choque. Ela não deixa de ter razão, afinal é o irmão dela. Eles já mencionaram que ele gosta de trazer todas pra casa.

A sensação de ser esquecida na escola, ser esquecida por todos e abandonada toma conta de todo o meu ser. Tudo é bonito entre a gente, eu sempre estou penando no bem estar dele mas e se ele não me quiser mais?

E se eu acordar num belo dia e não tiver mais ele? Como eu fui idiota em ir me entregando assim sem colocar na balança tudo que poderia vir depois.

Tem um nó maior que o RJ na minha garganta agora e eu nem posso correr pro colo da minha mãe porque ela simplesmente não sabe nem pode sonhar que eu to envolvidíssima com um paciente dela.

Todos os meus passos agora são no automático.
Eu subo na ponta dos pés e observo o Gabriel dormindo como uma pedra no quarto, junto minhas coisas e saio.

Está todo mundo apagado após o almoço e sei lá, acho que é o momento perfeito pra eu só sumir daqui.

O Uber que eu pedi antes de sai me olha um pouco confuso quando me olha pelo retrovisor e me percebe chorando a ponto de soluçar. Eu só, sei lá queria dar certo, pensei que fosse ser diferente.

E eu sei que não tenho como controlar os sentimentos de todo mundo, não tenho como fazer e obrigar com que o Gabriel e a família dele tenham responsabilidade afetiva comigo. Ele não teve das outras vezes então porque vai ter agora, justo comigo.

Acho incrível a forma com que a irmã dele o defendeu e sei lá, no lugar dela talvez eu teria tido uma conversa mais decente com a minha suposta "cunhada". Mas é o irmão dela, o porto seguro deles.

Eu só chego em casa e ignoro tudo, tomo um banho e um remédio pra dormir e acordar amanhã cedo. Peço na portaria que só diga que estou em casa pra minha mãe e decido hibernar.

(...)
Tem alguém desesperadamente tentando derrubar a minha porta, mas assim, desesperadamente mesmo. Eu só desperto porque meu interfone ta tocando e pra isso acontecer ou é o porteiro ou o vizinho incomodado com algum barulho.

Dou uma espiada no olho mágico. É o Fabio.

- Quem te deixou subir? – Pergunto enquanto esfrego os olhos.

- Isso me custou dois ingressos pro próximo jogo Mari, maior trabalhão sabe.

- Nem sai do seu bolso, deixa de ser chorão planet – Reviro os olhos.

- Não vai me chamar pra entrar? – Ele passa por mim e entra no meu apartamento e não posso deixar de sorrir.

- Já entrou, vou chamar pra que.

- Caramba, tudo tão bonito aqui.

- Ta parecendo aquele meme da Carminha, Fabio. Senta aí.

- Eu vou direto ao ponto – Ele se joga no sofá – Saiu lá de casa fugida porque? Não atende ninguém o que foi?

Cartas para a minha garota | Gabriel Barbosa (EM PAUSA)Onde histórias criam vida. Descubra agora