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Tudo o que aconteceu entre eu e o Gabriel a uma semana atrás foi intenso. O fato dele ter sumido não me assusta, era nitido que aconteceria.

Eu entendo o lado dele. Entendo tudo que aconteceu e entendo mais ainda que este homem precisa de ajuda, não sei se da minha.

No dia pós ocorrido no hotel, acho que ele ainda tava anestesiado, visto que sua interação comigo foi normal e o medo de eu deixa-lo sozinho era grande.

Quando eu o deixei em casa fiquei por cerca de uns vinte minutos parada em frente a casa dele, tentando assimilar, digerir tudo e não deixar que isso se torne um gatilho pra mim.

Em um passado não muito distante eu precisei de intervenção psiquiatrica. Eu simplesmente surtei.

Minha mãe sempre me criou para que eu fosse perfeita, suas expectativas, seus sonhos, seus amores, todos recaíram sob mim ainda quando eu era criança. Eu sempre fui a filha maravilhosa, que nunca deu trabalho, que sempre resolveu tudo sozinha, que sempre foi bem na escola e não tinha margem para erros.

Cresci me cobrando demais, querendo abraçar o mundo, sempre pensando no bem estar dela, no que ela poderia achar, no que ela iria desaprovar e acabei esquecendo do que eu queria. 

Foi então que um dia eu parei pra me questionar onde eu iria chegar e me vi perdida. Não sabia quem eu era, não me reconhecia, perdi a vontade de trabalhar, de estudar, de sair de casa.

Coisas minimas pra mim como se alimentar por exemplo, se tornaram as mais dificieis.

Meu cabelo tinha tanto nó que eu precisei cortar algumas partes, a minha casa irreconhecivel. Eu não era mais eu.

E eu simplesmente surtei. Sai andando pela rua sem rumo nenhum, sem celular, sem documento, sem nada. Só fui. Fiquei dois dias nessa situação, vagando pela orla da praia correndo todo o risco de vida possível.

Quando minha mãe finalmente me encontrou eu não tinha reação nenhuma. Estava exausta, desidratada, em todo esse processo no fundo do poço eu perdi 15kg, não conseguia pronunciar nem meu nome direito. Dormi por quase quatro dias seguidos.

Até hoje o meu corpo não entende muito bem o que foi que aconteceu. E nem eu também.

Agradeço por todo cuidado que Deus teve comigo e com a minha vida em todo esse tempo que eu tive no fundo do poço, pela minha mãe ter me entendido perfeitamente.

O que mais acontece nesses casos é a vergonha. Grande parte de quem enfrenta depressão ou ansiedade tem medo e se sente envergonhado por externar isso, tem medo de pedir ajuda e ser um fardo ainda maior na vida das pessoas.

Ser um fardo. É exatamente isso que sentimentos a todo momento. "A mas não vou falar, vai que eu atrapalho" ou "não vou pedir porque não tenho certeza o suficiente se ela gosta de mim, não quero incomodar". Ser fardo é o pior pesadelo do depressivo/ansioso.

E hoje, eu sei que quem me rodeia só quer o meu bem, só queria me ajudar nem que fosse desembaraçando o meu cabelo, me levando comida ou só ficando sentadinho na sala da minha casa pra poder ficar de olho ou com uma mensagem de bom dia que no fundo queria dizer estou aqui com você, por você e pra você.

Qualquer coisa nessas fases se tornam gatilho, pode ser que pareça dificil mas vai passar, a gente só não pode deixar de procurar ajuda, de ir atrás de consolo, de ajuda, não pode se fechar pro mundo.

Foi mais dificil do que eu pensei ver o Gabriel naquele estado, foi doloroso, foi cruel. Eu compartilho da mesma dor que ele, sei o que foi tudo aquilo assim como sei que se ele não se sentir apoiado vai se afundar mais.

Se passaram exatos sete dias desde então.

Hoje tem jogo, não falei mais com a minha mãe e nem sei se ele procurou ajuda nesse meio tempo. Precisei desses dias pra ficar bem, pra ficar bem por ele e também não queria que ele sentisse que eu estava invadindo a sua privacidade.

Não recebi nenhuma mensagem e as vezes minha mente fica só aquele verso de uma musica que diz que não receber mensagem também é mensagem.

Vou ao jogo, mesmo ainda não entendendo nada do que acontece lá preciso sair dessa caverna que eu chamo de casa pra não me afundar.

Quando eu abro o guarda-roupas pra escolher uma camiseta automaticamente me vem o Gabriel na cabeça dizendo que eu preciso de uma camiseta dele para ir aos jogos, meu coração aperta um pouquinho porque no fundo tenho medo de tudo isso. Sei lá.

As vezes fico insegura de estar mergulhando demais, dividida entre mergulhgar ou permanecer vagando na areia da praia, caminhando pela orla sem rumo.

Malditos pensamentos!

[...]

Chegando no estádio me pergunto se sempre é essa loucura, se essa torcida não deixa de cantar nunca. Caramba o time ta treinando e os torcedores nas arquibancadas atrás do gol comemoram a cada gol feito. A gente até arrepia.

Na real nunca vivi esse mundo, lembro poucas coisas do meu avô falando sobre futebol e afins. Ele era vascaíno e até onde me lembro tinha uma simpatia muito grande pelo flamengo. No fim, acho que todos tem.

Acho incrível como o Gabriel se destaca no meio dos demais. Lindo com todos os melhores elogios do mundo, poderia ficar por horas aqui só falando sobre isso.

— Deu pra conversar sozinha agora Mariana? — Fabinho se joga na cadeira do meu lado.

— É o meu jeitinho equizofrênica de ser — Sorrio.

— Porque não me disse que viria? Você sumiu — Cemicerra os olhos como quem está prestes a me dar uma bronca.

— Vocês também sumiram. Eu não iria vir, decidi de ultima hora.

— Não se afasta não, Gabi tava preocupado e é orgulhoso — Ele faz uma pausa — Inseguro demais pra ir atrás de você.

— Então nós dois estamos no mesmo barco Fabio. Eu sei la, queria dar um espaço, como ele tá?

— Fingindo que nada ta acontecendo, empurrando tudo com a barriga. Dificil sabe. A gente tenta de tudo mas ele não se importa com mais nada, acho que essa semana foi a pior de todas.

— Pra todos nós Fabio — Aperto os lábios.

— Ele queria que eu tivesse te ligado mas achei melhor deixar ele tomar coragem. Pelo visto não funcionou.

— Não mesmo — Sorrio — Mas é um processo, a gente precisa de paciencia pra segurar na mão dele. Eu ainda não sei se é o momento certo pra eu ir falar com ele sabe.

— Se a gente ficar esperando o momento certo nunca vai fazer nada.

— Vou anotar essa frase pra justificar todas as merdas que eu fizer de agora pra frente.

— Cola lá em casa depois do jogo.

— Não sei se é uma boa ideia.

— É sim menina, deixa de bobeira — Ele cutuca minha costela.

— Preciso passar em casa tirar essa roupa então, não posso ir igual uma avó.

— Gabriel não vai se importar, você sabe.

— Isso me preocupa um pouco, será que ele vai gostar de me ver?

— Viajou nessa Mari, vai sim, vou dar tempo de você passar em casa e se não aparecer até meia noite vou te buscar.

Agora que eu arrumei pra minha cabeça de vez.

_______\
Eu sumi né gente, me perdoem!

Eu comecei a trabalhar não tô tendo tempo nem pra ir no banheiro direito e não quero entregar nada pela metade aqui pra vocês.

Eu amo essa história, amo os dois e tudo o que o Gabriel representa.

Me digam agora: o que gostariam de ver por aqui?

Aliás essa semana eu vi a Joyce postando extra da história incrível dela e eu decidi soltar os de minha cura que estão presos no rascunhos... preparados pra ver a Júlia e o Gabriel um tempinho depois?

Cartas para a minha garota | Gabriel Barbosa (EM PAUSA)Onde histórias criam vida. Descubra agora