Cartas para a minha garota | Gabriel Barbosa (EM PAUSA)

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Mariana Rodrigues
📍Consultório

Já fazem algumas semanas que ele tem vindo as sessões e sempre do mesmo jeito: capuz na cabeça, silêncio total e o segurança de babá. Fizemos contato visual nessas semanas umas duas ou três vezes.

Eu me encarreguei também de pesquisar sobre a vida dele. Ele é um ídolo onde joga, não sei quantos gols em finais, títulos, fotos com o Zico e uma porrada de coisas.

É compreensível que com toda essa lista de coisas e conquistas ele precise de terapia.

— Filha, manda mensagem e verifica o que houve ele tá atrasado — Minha mãe fala da porta da sala.

Pego o contato no cadastro do sistema e mando mensagem do meu celular pessoal. Aqui na clínica não temos WhatsApp, os pacientes costumam ligar durante a madrugada e pra minha mãe ter um controle melhor usa o celular pessoal pra isso.

Boa tarde
Passando pra confirmar o horário
da sua sessão que é hoje às 14:30.

O contato não tem nenhuma foto. Aparece digitando por algumas vezes, para, digita outra vez e nada chega. Bloqueio a tela e o celular vibra.

Oi
Tem problema se eu atrasar?
Se tiver marcamos pra outra hora

Não tem não.
Estamos te esperando aqui
Obrigada.

A gente deixa a tarde toda disponível pra ele justamente por conta desse tipo de imprevisto.

Esse contato é da clínica?

Sim.

O sínico e a mentirosa. Tem uma foto minha enorme no perfil e nós dois sabemos a verdade sobre isso.

Ele chega. Sozinho. Um pouco mais animado e mais alinhado do que nas últimas semanas já que hoje usa uma calça oversized, um tênis e uma regata enormeeee.

— Boa tarde. A Suzana está em um telefonema com um paciente, pode ficar a vontade que ela já deve te atender — Sorrio.

Ele sorri pra mim pela primeira vez e começa a caminhar na minha direção. Meu coração dispara conforme ele se aproxima. Os cachinhos ainda estão molhados, a regata deixa as tatuagens do braço a mostra e hoje ele está, radiante.

Eu beijaria esse homem com toda certeza do mundo.

— Você trabalha aqui a muito tempo? — Puxa assunto escorando os braços sob o balcão.

— Não muito. Ela é minha mãe e tô aqui quebrando um galho.

— Poderia jurar que você era psicóloga também, tem maior jeito de nerd chatinha.

— Nerd chatinha? — É sério isso?

— É. O jeito com que tu fala com meu segurança, ou que curte as minhas fotos — Meu rosto cora.

Será que. Aí meu Deus não pode ser. Com toda certeza enquanto eu olhava o Instagram dele eu curti algo sem querer. Muito sem querer.

— Eu vi suas fotos Mariana — Ele abre um sorriso de canto e a forma com que me olha sentada na cadeira me deixa quente.

É possível alguém mexer tanto assim com o outro sem eles nunca terem ao menos se beijado?

— Eu tava só brincando, mas a julgar pela sua reação você andou me stalkeando não foi? — Ela arqueia a sobrancelha e eu solto a respiração que nem sabia que prendia.