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Mariana Rodrigues
(Ouçam 2 Much - Justin Bieber, escrevi ouvindo ela e é isso...)

Desço e ele tá no banco do carona. Coloco a mochila de roupas dele no banco de trás e entro no banco do motorista.

— Tá tudo bem? Quer dirigir você? — Pergunto antes de afivelar o cinto.

— Só não bate tá? Promete que vamos chegar vivos? — Ele sorri meio tímido.

— Tá achando que comprei minha habilitação?

Meu celular acende, o Fabinho me avisando que reservou uma fucking suíte no Copacabana Palace, com direito a hidro e tudo mais.

Dirijo até lá. Fazemos todo o trajeto em completo silêncio, a não ser pela sua mão entrelaçada com a minha me dizendo muito mais que palavras poderiam expressar.

Meu olhar de canto encontra com o dele em alguns momentos, ele ainda está abatido, não sei. Nunca conheci esse outro lado de alguém porque eu sempre vivi nele mas isso é assunto pra outra hora.

O único momento que ele solta da minha mão é quando eu passo na recepção pra fazer o checkin. O quarto é enorme, a hidro está cheia e acredito eu que o Fabio já tenha pedido pra deixar assim.

— Quer comer alguma coisa? Tá com fome? — Ele nega com a cabeça — Então vem, entra comigo aqui.

Ele está atônito. Sabe quando a gente parece estar parado e vendo a vida passando na nossa frente? Quando a gente não tem forças pra reagir a nada, não tem forças nem pra tirar nossa própria roupa?

E eu o ajudo, com um pouquinho de dificuldade o ajudo a tirar a regata branca, a descer o shorts de moletom e quando pego sua mão pra ajudar a entrar, é quando percebo que tem alguns cortes nos dedos.

Eu me sento de frente pra ele, seguro sua mão e beijo cada pedacinho dos seus dedos machucados, ele chora e eu me seguro pra não fazer o mesmo.

O olhar dele procura pelo meu, preocupado por eu estar o vendo assim. Antes eu estava com medo mas agora me sinto confiante o suficiente pra ajudá-lo a ficar bem, pelo menos hoje.

Eu escoro as costas na beirada da banheira e o aninho no meio das minhas pernas, meus braços mesmo que pequenos o envolvem outra vez num abraço e ele acomoda sua cabeça no meu peito.

E eu espero estar transmitindo aqui pra ele todo amor e clamaria que cabem dentro do meu peito. 

Eu acaricio cada centímetro que posso do seu corpo, meu coração está acelerado, batendo como uma escola de samba e sei que ele pode ouvir.

— Desculpa por você ter que ver e passar por tudo isso Mari, perdão — E aqui está sentimento de culpa após a crise.

— Não precisa se desculpar, todos nós temos dias ruins e quem ainda não surtou ainda vai chegar lá. Ninguém é perfeito — Acaricio seu cabelo e deixo um beijo no topo da sua cabeça.

— Mas acho que você não merece passar

Bi — O interrompo — eu já estive nesse mesmo lugar. Eu já fui essa pessoa aqui também e é por isso que eu te digo tá tudo bem, tá tudo bem ficar vulnerável às vezes, ter uma crise... o fundo do poço é mais bonito quando tem alguém pra enfeitar e jogar glitter nas paredes dele com a gente — Sinto um sorriso se formar contra o meu peito.

— Eu só não sabia que algum dia poderia me sentir tão mal, que eu poderia chegar onde estou e que nada do que eu fizesse faria sentido — Ele se senta e segura as minhas mãos — a discussão de mais cedo no vestiário, tudo o que eu tive que ler, o que aconteceu entre a gente. Acho que acumulou, eu tive medo Mari. Na verdade eu vivo com medo de tudo.

— Você sentiu que estava perdendo tudo o que tocava, tudo o que tentava fazer. Mas você não me perdeu, eu estou aqui não estou?

— Agora está, vendo um lado meu que ninguém nunca viu e não sei nem se consigo te encarar depois que tudo isso passar — Ele respira fundo.

— Gabriel, só quero que saiba que não somos perfeitos tá? Não precisa falar sobre nada agora, só quando você se sentir melhor, ok?

— E se esse dia nunca chegar Mari? Você gosta quando eu falo mas e se eu nunca conseguir? — A preocupação toma conta dele de novo.

— A gente vai tentar até você conseguir — Sorrio na tentativa de deixá-lo tranquilo — E se não der certo, eu só fico, mesmo em silêncio ou mesmo você não querendo me ter por perto.

Ele me abraça outra vez, forte. Acho que eu nunca fui tão sincera em toda a minha vida, nunca fui tão honesta com o que disse.

Eu não quero ir, não quero que isso tudo tenha um final diferente, só quero ficar aqui com ele mesmo estando assustada e com medo por já ter passado por isso algum dia. Por saber o quanto isso pode ser devastador, como pode destruir tudo em minutos...

Minha mãe costuma dizer que o nosso lado feio costuma causar medo e estranheza em boa parte das pessoas, por isso temos tendência a se afastar nos momentos de fraqueza.

— Vamos sair? Se secar, colocar outra roupa e tentar dormir? Mas se quiser a gente fica aqui mais um pouquinho.

Ele não responde, sinal de que quer que eu tome todas as decisões. Eu saio, pego a toalha e o ajudo a sair, a se secar e a trocar de roupa.

Vulnerabilidade o nome disso aqui. E pode até ser que ele não queira me encarar depois que essa maré abaixar mas por enquanto só quero ficar aqui, com ele. Mesmo que seja pra eu falar sozinha.

— Você não vai embora né? — Ele segura a minha mão quando ameaço me afastar da cama.

— Não vou a lugar nenhum, só vou ajeitar o quarto tá?

Ele concorda e observa cada passo que eu dou. Fecho as cortinas pra que a luz do sol não invada o quarto, pesco na minha bolsa a essência de lavanda que eu carrego e pingo algumas gotinhas perto da cama e no travesseiro dele.

— Pra você dormir melhor.

Os olhos dele estão inchados, muito inchados. Eu me deito do seu lado e como um imã nos aproximamos um do outro. Ele me abraça pela cintura e sua respiração quente no meu pescoço me faz arrepiar.

Meu olhar encontra com o dele, nossas bocas quase encostam uma na outra. Deixo um beijinho no canto da boca dele, de leve e ele entende que esse não é o momento.

Acho que transar agora só deixaria as coisas piores do que já estão.

Ele dorme deitado no meu peito, me segurando apertado. São sete e meia da manhã, aproveito pra responder o Fábio e dizer que tá tudo bem, pelo menos por enquanto.

Talvez quando ele acordar tudo possa desmoronar, a ficha cair... a gente nunca sabe.

___________

Último capítulo do dia e o último que eu tinha escrito kkkkk

Nada disso tava no roteiro e eu só segui uma intuição muito maluca de reconciliação.

Fiz essa pergunta no insta e vou fazer aqui agora pra vocês: como vocês acham que o Gabriel vai se sentir quando cair em si do que aconteceu?
Ele ainda tá anestesiado e a gente sabe que a crise de consciência vem forte...

Me contem tudo e não guardem nada!!

Beijos até qualquer hora.

Cartas para a minha garota | Gabriel Barbosa (EM PAUSA)Onde histórias criam vida. Descubra agora