Cartas para a minha garota | Gabriel Barbosa (EM PAUSA)

8

Mariana Rodrigues
📍Consultório/Maracanã

— Ele não tem vindo mais as sessões Mariana, nem lá no clube e muito menos aqui — Mimja mãe fala comigo em tom sério.

— Ué, pensei que agora os atendimentos era lá.

Preciso me fazer de boba e mentir pra ela o que eu odeio fazer. Essa história do Gabriel ter abandonado a terapia me atinge de surpresa já que tenho visto ele todos os dias nem que seja só pra dar um oi.

Claro que ele não ia mencionar eu sou filha da terapeuta, ele quase não fala nada particular sobre a vida dele, sei pouquíssimas coisas e o que descobri de mais íntimo foi fuçando a internet de madrugada.

Nossos conversas são sobre tudo, sobre cafés, jogos, flores, músicas, fofocas mas nunca são sobre sentimentos.

— Ele mencionou na última sessão em que esteve aqui que conheceu uma garota, pode ser isso talvez. Mas preciso que ele saiba que ela não é a cura e ele tá fazendo tudo errado — Ok, agora me sinto como se tivesse sido atropelada por um trem.

Ele falou de uma garota, sou eu? Ou será que tem outra além de mim.

— Já experimentou procurar ele no CT mãe? — Sugiro tentando tirar o foco máximo da garota mencionada.

— Já, mas lá eles tem a rotina corrida filha. Posso te pedir uma coisa.

— Aí mãe quando você me vem com essa, já até sei que é bomba — Respiro fundo ja imaginando o que vem por aí.

— Vai no jogo hoje e tenta falar com ele? Por favorzinho, na última vez que ele esteve aqui eu vi vocês conversando, vai que ele te ouve — Eu já ia mesmo.

— Tá, mas a primeira e última vez — Reviro os olhos.

Eu tenho até uma credencial já com o meu nome de acesso. Continuo indo aos jogos sem ela sonhar com o que tá acontecendo e continuo não entendo nada, nadinha de futebol.

No caminho enquanto dirijo pra casa o assunto "mencionou uma garota" volta a minha mente e me perturba por todo o trajeto. Ele mal consegue falar duas palavras comigo sobre a família dele mas tomou coragem de falar sobre mim, pra minha mãe? Poxa, ia curtir muito mais se tivesse me dito.

No caminho pro jogo os pensamentos ainda me perseguem.

Vou pro jogo com um croped, calça de shopping e um Nike pra ficar sentada aqui os 90 minutos fazendo absolutamente nada.

Assim que entro no camarote observo alguém diferente que nunca esteve aqui. Ele me encara e começa a andar na minha direção enquanto eu checo o número da credencial com o da plaquinha na parede.

— Você é mais baixinha e muito mais bonita do que o Gabriel me contou — O homem sorri.

— É. Obrigada? — Olho desconfiada, poxa, o Gabriel contou? Pelo visto ele conta tudo pra todo mundo menos pra mim.

E eu sou baixinha mesmo, pareço aquelas formigas com nome de saúva? Pequenina da cintura fina e da bunda enorme. O meu cabelo cacheado todo armado e esvoaçante completa toda a minha skin.

— Vem, vamos sentar. Ele me pediu pra eu te fazer companhia, a propósito sou o Fábio, Fabinho — Ele me beija na bochecha — Assessor e parente dele.

— Sou a Mariana, Fabio Fabinho — Sorrio — Muita gentileza da parte dele te deixar de castigo com alguém que não entende bulhufas de futebol.

— Essa parte ele me disse também e graças a Deus por isso. Deixa pra aprender quando o Flamengo e o Gabriel estiverem no auge, até pra quem é torcedor tá sendo difícil de ver — Ele arregala os olhos e arqueia as sobrancelhas.