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Não deveria me meter em assuntos familiares do Gabriel, mas acho que se eu não fizer isso logo não vou estar sendo 100% sincera com meus sentimentos, com nosso relacionamento.

Mas de repente enquanto dirijo de volta pra casa eu tenho a brilhante ideia de ir até a casa dele, já que ele viajou pra jogar e o pai dele ta aqui pelo RJ.

Entro no condomínio, estaciono na garagem e o homem parece que viu um fantasma assim que eu piso na área externa.

- Gabi viajou, ele não te contou?

- Contou sim, desculpa pelo susto e eu aparecer assim sem avisar mas acho que eu preciso ter essa conversa com o senhor.

- Vem, vamos ao meu escritório - Me convida sem muita cordialidade ou paciência.

De todas as vezes que estive aqui nunca pisei nesse cômodo. Parece aquelas bibliotecas de filmes antigos sabe? Antiquado, cisudo...

- Pode ficar a vontade, aceita um café?

- Não obrigada. Olha seu Valdemir, tenho muito respeito por você e pela dona Lindalva, não quero vir aqui ditar o que vocês tem que fazer ou não.

Ele se senta apreensivo na minha frente.

- Gosto do seu filho, gosto muito dele, genuinamente e deixaria de ser eu se não viesse aqui. O Gabriel precisa do pai dele.

- Mas eu sempre estive aqui Mari – Ele parece não acreditar no que ouve.

- Não. Quem está com ele ultimamente é o Valdemir empresário, ele precisa do Valdemir pai. A algumas semanas atrás vocês dois se desentenderam, eu já acalmei seu filho por diversas vezes sabe? Mas essa foi a vez que mais doeu em mim.

- Como assim? - A expressão surpresa me entrega que ele não faz a mínima ideia do que tá acontecendo.

- Eu não tive pai e ver o Gabriel em meio a uma crise de ansiedade por ter o dele presente mas ao mesmo tempo não ter foi dilacerador.

- O Gabriel ta tendo crises? – Seu olhar muda totalmente pra um misto de preocupação com tristeza – Niguém nunca me disse.

- Porque ele não quer que vocês o vejam fraco, não quer desapontar o pai que ele tanto ama então tem sofrido esse tempo todo em segredo.

- Isso é recorrente?

- Que eu estive com ele foram duas vezes mas sei de outras que ele ficou bem sozinho. Por isso eu te digo que agora ele precisa do pai, não de um empresário.

O homem fica totalmente calado, chocado, triste com o que acaba de ouvir.

- E não to te culpando por isso, vim aqui porque sei que o senhor não me aceita e pode até pensar que sou uma oportunista ou uma aproveitadora.

- Mas não penso assim.

- Só me deixa terminar. Eu disse antes que eu não tive pai e sempre tive muita dificuldade em me relacionar com outras pessoas justamente por eu ter medo de amar, de ser amada.

Um nó do tamanho do universo se forma na minha garganta. O homem sentado na minha frente me parece totalmente vulnerável, sem saber o que me dizer ou como me acalmar.

- Quando eu conheci o seu filho, senti que as coisas poderiam dar certo já que ele tem uma base familiar boa, é um homem bom apesar de estar confuso agora com algumas questões. Não quero nada do que é de vocês, eu só – Uma lágrima escapole pela minha bochecha – Só quero que nos tenhamos um bom convívio.

Ele dá a volta na mesa e se senta no sofá ao meu lado em completo silencio.

- Se o senhor não quiser fazer isso por mim, faz por ele. Eu sempre fui rejeitada então não seria novidade, mas o Gabriel precisa se sentir acolhido agora, por nós.

Cartas para a minha garota | Gabriel Barbosa (EM PAUSA)Onde histórias criam vida. Descubra agora