Gabriel Barbosa
(Ouçam Iguaria - Luísa Sonsa no repeat)A Mariana subiu já tem umas duas horas e eu simplesmente não consigo sair do lugar. Acho que daqui a pouco o porteiro liga pra polícia.
Não consigo dirigir, não consigo me movimentar, eu só... não sei. Não consigo mais ser eu.
Sei que todas as preocupações dela são válidas, tudo o que ela me disse aqui foi válido e não fico chateado, no lugar dela eu pensaria o mesmo.
Como se relacionar com uma pessoa que mal consegue falar o que sente? Que não sabe se o que faz da vida é o que ainda quer? Que vive com um constante medo de errar, de se machucar ainda mais, vive sob pressão, vive... perdido.
Eu tento, tenho tentando de tudo e quanto mais eu tento mais eu me decepciono comigo mesmo, mais eu me frustro por não chegar a lugar nenhum.
E não, não são só pensamentos intrusivos. Sou eu.
Eu larguei a terapia por não suportar sentar mais naquele sofá e não conseguir dizer nada. Dizem que com o tempo fica mais fácil, mas pra mim só fica pior.
Hoje após o final do jogo eu fui cobrado, eu tive uma discussão no vestiário que em outras épocas jamais teria acontecido e eu nunca tive tanta vontade de desistir de tudo como eu tive hoje, como eu tive quando sai de lá.
Quando a Mariana me perguntou sobre tudo eu não me abalei, eu apenas fui o Gabriel que eu me tornei com as circunstâncias da vida e nada mais que isso.
Sei que se eu falasse de tudo isso com ela, ela me ajudaria, entenderia tudo. Mas e se não entendesse? E se eu só a machucasse mais com tudo o que tá acontecendo comigo? E se ela descobrisse que eu já não sou mais a pessoa incrível que está com ela e que eu já fui um dia?
E se?
Porra, é uma merda querer falar do que sente mas se sentir frágil, ter medo de que tudo esteja no ventilador.
Eu costumava me abrir com a minha ex, costumava a compartilhar meus sentimentos com quem eu gostava mas isso acabou sendo exposto demais. Acabaram usando tudo isso contra mim um dia.
E eu me sinto muito pior depois de tudo o que aconteceu aqui. Eu gosto dela, gosto do que nós dois temos, ela me deixa leve, desde que eu a vi sentadinha na recepção do consultório eu me encantei.
Ela me olhou diferente de todo mundo e ainda é assim toda vez que ela me olha, ela não se importa por eu ser um jogador renomado, por eu ser de um time grande, por eu ter grana e usar roupas de grife, nada disso muda quem eu sou pra ela.
Ela me vê agora, me olha como quem entende que todos nós temos dias ruins, passamos pelas tempestades, pelos raios e os trovões, ela quer conhecer esse Gabriel calejado, não me julga, ela só fica.
E eu queria muito, muito, mais do que tudo nesse mundo conseguir dizer tudo isso pra ela, olhar nos olhinhos pequenos dela, passar a mão pelo seu rosto bem desenhado e dizer o quanto ela é incrível pra mim, dizer como eu me sinto quando estou junto dela, de como os dias que passamos juntos são incríveis.
Queria poder dizer como eu gosto de ter ela comigo, de como gosto de como ela fala sem parar enquanto dorme, de como ela conversa e sorri de tudo, de como as coisas são leves com ela.
Pode parecer repentino, rápido demais, mas eu gosto do rumo que as coisas tomaram. Eu preciso desse tempo e ela também e eu espero do fundo do meu coração que até que eu fique bem pra não machucá-la ela não encontre outra pessoa disposta a dar o que eu não pude.
Sei que eu preciso melhorar muito, em muitas coisas a propósito. O medo anda lado a lado comigo, estou jogando lesionado, sinto dor em todos os jogos, ouço os gritos e as vaias as vezes e isso me deixa ainda pior.
Tenho medo de não ser mais quem meus pais esperam, medo de nunca mais voltar a jogar como antes, tenho medo de que o Gabriel Barbosa que já fui não aparecer mais.
Eu não sou uma pessoa ruim apesar de me pintarem assim, eu não sou um vilão, eu não sou mal.
Eu estou mal.
Eu tenho tido crises constantes de ansiedade, insônia e um milhão de outras coisas e não quero aceitar o diagnóstico que eu sei que vou ter assim que eu vomitar toda esta merda que eu carrego no meu peito.
Eu desconto tudo em álcool, jogando poker até tarde e enchendo minha casa de pessoas que eu nem sequer sei de onde vieram. Bom, pelo menos eu fazia isso antes da Mariana aparecer.
Gosto de dormir com a Mari porque ela me acalma, as noites com ela mesmo cada um de um canto da cama são boas, eu durmo, eu descanso, eu fico leve porque ela me trás essa leveza.
Claro, isso me assusta um pouco. O novo assusta todo mundo.
Depois de hoje eu só quero ficar bem, por ela, pela minha família, os meus pais e todo mundo que ainda acredita em mim.
E que merda a porra do meu celular não para de tocar.
Vinte ligações do Fabio e mensagens da Mariana.
Gabi, fica bem ok?
Quando chegar em casa me fala
E se precisar de alguma coisa
qualquer coisa que seja, pode me procurar
Sei lá, bater um papo ou só ficar na
mesma sala juntos.Meu coração acelera quando eu vejo o digitando aparecer. É muito louco me sentir assim, mesmo eu estando desse jeito ela ainda se importa, qualquer pessoa no lugar dela depois do que aconteceu hoje não iria querer me ver nunca mais.
Chegou?
Tem gente atrás de você Gabriel
Não some por favor
Não faz nada
Só da um sinal de vida aí pra eu saber
se tá tudo bem
????Oi
Estou bem
Parei pra comer aquiCusta responder?
Poxa, mó preocupada GabrielO ambiente com ela é esse aqui, descontraído. É sempre é assim, mesmo ela tendo saído chorando daqui e levando meu coração junto com ela.
E eu vou ficar bem, prometo tentar melhorar, prometo voltar a escrever pra ela no caderninho da Suzana e prometo que serei a melhor pessoa do mundo pra minha família, pra quem eu amo e principalmente pra ela. Minha garota.
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Voltei rápido demais
Mas é que eu tô ansiosa pra vocês lerem o próximo capítulo, tem muito sentimento e muito tudo!Explorar esse lado de um personagem que está sempre do lado que nunca sofre é desafiador.
Espero que, vocês sabem, estejam gostando 🫶🏼
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Cartas para a minha garota | Gabriel Barbosa (EM PAUSA)
FanficE QUANDO tudo parece desmoronar, a quem você recorre? Gabriel se vê perdido em meio a uma fase que parece nunca ter fim, seu time passa por um ano ainda mais turbulento acarretando ainda mais tudo o que já está ruim. As críticas constantes e as cobr...