Gabriel Barbosa
-Não posso acreditar no que eu tô vendo – O porteiro do prédio dela se espanta quando desço o vidro do carro.
-Boa noite, tudo bem? – Respondo com um sorriso e o homem permanece incrédulo – Eu vim visitar a Mariana.
-A. Claro, vou anunciar – Ele fechou a janela e entrou, voltando alguns minutos depois com uma camiseta do Flamengo e um celular na mão – Ela disse que você poderia entrar só se me desse um autografo e fizesse uma foto comigo.
-Mas é claro, só que assim, é segredo nosso viu? Ninguém pode saber que eu estive aqui – Ele me entrega a camiseta todo animado – Vou pedir pra te mandarem um manto novinho autografado por todo mundo.
-Nossa seu Gabigol, valeu demais. Fico até emocionado.
Eu nunca sei como reagir a essas coisas. E convivo a bastante tempo no meio dessas pessoas, de fãs, por onde eu vou eu encontro alguém assim e por não saber como reagir levei fama de antipático. Não sou, eu só não sei como reagir a tudo então muitas das vezes é assim.
E eu só deixo que falem, não me importo. Finjo muito bem não me importar.
Toco a campainha da casa da Mari e não demora muito pra ela abrir a porta. Ela tá abatida, não sei se pelo que houve hoje mais cedo com a mãe... enfim.
Mas tá tão linda com um pijama de seda, os cabelos soltos.
-Oi, eu trouxe japonês pro jantar. Combina bem com dias mais ou menos – Ela sorri com o meu comentário e acho tão, mas tão fofo a forma com que ela fica na ponta dos pés pra que seus lábios se encontrem com os meus.
- Vem, vamos entrar.
Caramba, tudo aqui é milimétricamente arrumado. A decoração minimalista de ótimo gosto. Não tem muitos móveis mas sabe quando tudo se conversa? Essa é a casa dela.
Jantamos enquanto eu contava a ela sobre o treino de hoje e ela prestava atenção em cada mínimo detalhe, me perguntava sobre as atividades, se todos os dias era o mesmo treino, em como nós nos preparávamos pro jogo.Até o assunto mais chato se torna altamente interessante com ela prestando atenção e me fazendo perguntas.
-Vamos assistir alguma coisa? – Ela sugere enquanto eu termino de lavar o que sujamos.
-Me parece uma boa ideia.
Nos acomodamos no sofá enorme dela, a apertei dentro de um abraço e estamos a longos minutos procurando por algo que seja interessante.
-Ai eu desisto sabe – Ela joga o controle e se vira pra me abraçar.
-Acho que passar o resto da noite assim não é uma má ideia.
- Hum. Não mesmo, acho que é melhor que o filme.
-Posso te fazer uma pergunta? Não quero quebrar o clima – Ela concorda – Como é a relação de vocês...
Ela respira fundo. A mão que rodeia minha cintura se aperta u pouco mais e seu olhar desencontra do meu. Parabéns Gabriel.
-Se não quiser dizer nada, não tem problema.
-Não, acho valido você saber. Eu e ela, bem. Sempre foi só nós duas, passamos por poucas e boas algum tempo atrás quando ela entrou em um relacionamento abusivo, eu a ajudei a sair de casa, sempre foi só nós duas e eu a amo com todas as minhas forças. Mas tem
Ela suspira, parece perto de explodir.
- Tem um lado dela que precisa me controlar, precisa sempre saber de tudo, onde, quando e com quem eu vou. Isso me sufoca porque quando eu saio do controle dela, ela surta.
É a necessidade de controle da mãe que a incomoda, o fato de ter sido sempre só as duas na vida fez com que a Mari sempre cedesse aos caprichos da mãe, fizesse o que ela queria, e caramba agora ela tá tão tristinha.
-Eu também não me dou tão bem com meus pais – Mesmo achando isso estranho me sinto na necessidade de compartilhar isso com ela.
- Como assim?
-Na verdade a gente se da bem, o meu pai depois que virou meu empresário eu sinto que perdi uma parte dele, entende? Ele não é mais o Valdemir só meu pai. As vezes queria ele assim, mas algumas decisões se sobressaem e nós dois nos afastamos muito.
-Não seria melhor se você tivesse outra pessoa que gerenciasse sua carreira? – A pergunta é tão genuína que não tenho vontade de sair daqui nunca mais.
-Acho que sim, mas são algumas coisas que são difíceis de confiar na mão de outras pessoas sabe? – Ela concorda – Tem dias que eu acordo querendo ser anônimo, só pra ter meus pais de volta, poder viver tranquilo. Não estou reclamando.
-Sei que não – Sorri enquanto acaricia meu rosto – É que na sua posição qualquer coisa que você diga te torna um ingrato quando na real você só é ser humano. Quando eu e minha mãe passamos por essas turbulências sempre tento lembrar que ela ta nessa vida pela primeira vez também.
-Mas Mari, isso não pode ser justificativa pra ela te controlar sempre. Eu vi como você ficou hoje mais cedo, não deixa. Não seja refém de situações só porque ela é sua mãe.
-Acho que ela já fez tanto pela gente que sei lá, eu só, prefiro ficar atônita - Ela respira fundo.
-Não deveria, ela é sua mãe. Exercer todo esse controle sobre você era responsabilidade dela enquanto você era mais nova, agora não é mais.
Caramba Gabriel, quando foi que você fez cinquenta anos?
-Não sei como fazer isso, na verdade não sei nem como tentar ou por onde começar.
-Eu tento te ajudar.
Mariana Rodrigues
-Mas e você e seu pai? — Eu procuro pelo olhar dele e encontro. Vazio. Vago. Entristecido.
-Bom, queria que fosse algo fácil de se resolver sabe. Sei lá queríamos que fosse só pai e filho as vezes, sem toda pressão sem ele misturar as coisas.
-Vocês já conversaram sobre isso alguma vez? — acaricio seu rosto com o máximo de carinho que posso oferecer.
-Uma vez, ele me disse que talvez seja coisa da minha cabeça então nunca mais insisti ou toquei no assunto. Minha mãe me entende melhor.
-Bom, baseado na minha experiência mínima com pais — Ele sorri — você se tornou provedor da sua família muito cedo, talvez tudo isso se resolva com muita terapia. Só. Sei lá, não se distancie dele.
-É meio difícil Mari.
-Eu não sei se te entendo quanto a isso, mas sou da opinião que tudo só se resolve conversando.
Nossa mas quanta hipocrisia, eu converso sobre meus problemas com todo mundo, acho soluções e quando ele (minha mãe) tá de frente comigo não sei dizer um a.
-E talvez você não esteja pronto pra isso ainda, mas sei que um dia vai estar. As coisas agora podem parecer confusas e obscuras mas no fim sempre dá certo. Isso soou mais clichê do que eu gostaria.
-Não, acho que faz sentido. Muito sentido. Na verdade depois que eu te conheci muita coisa começou a ter mais sentido — Ele me aperta um pouquinho mais dentro do abraço e de repente meus olhos brilham, toda aquela atmosfera estranha se vai e... somos só nós dois.
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O processo do Gabriel falar sobre algumas coisas começou mas será que a Mari vai tá preparada pra enfrentar algumas coisas?Não se esqueçam que ela cresceu sem a presença de pai, único exemplo de homem que ela teve em casa foi o do avô e vem aí um babado muito forte.
Pode ser que isso afete tudo o que ela pensa em relação aos homens, ao Gabriel e aos sentimentos dela.
É isso. Beijinhos.
Boa semana.
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Cartas para a minha garota | Gabriel Barbosa (EM PAUSA)
FanfictionE QUANDO tudo parece desmoronar, a quem você recorre? Gabriel se vê perdido em meio a uma fase que parece nunca ter fim, seu time passa por um ano ainda mais turbulento acarretando ainda mais tudo o que já está ruim. As críticas constantes e as cobr...