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(Ouçam Quando Bate Aquela
Saudade -Rubel no repeat e aproveitem)

Gabriel Barbosa

Tá chovendo pra caramba hoje aqui no Rio.

Em dias assim costumo me sentir mais solitário que o normal. Saudades da Mariana, de estar com ela.

A última tempestade ficamos ilhados no CT. Abraçados sentados próximo a porta de vidro olhávamos as gotinhas que escorriam no blindex, o clarão dos relâmpagos me permitiam ver os olhinhos dela assustados com tantos trovões.

Não sei se entendo a decisão que ela tomou. Tento na verdade me acostumar com o fato de que talvez ela possa não voltar.

Tá tudo muito recente, a ferida exposta.

Sempre foi ela e a mãe, fomos imaturos em esconder tudo isso, eu em continuar sendo paciente dela e não ter tido a coragem de ajudar a Mari a contar pra ela.

E descobrir como ela descobriu não é legal. Minha mãe mesmo teria ficado uma fera.

Mas tem muito mais coisas em jogo... a carreira da mãe dela, a credibilidade do trabalho dela, a confiança dela na filha. Enfim, problemas.

Pra completar a luz acabou.

Abro a conversa com a Mari várias vezes na esperança de que sei lá, tenha um boa noite ou uma respostas pra todas as mensagens que eu deixei na caixa dela, mas nada... não tem nada.

Sabe quando você tira aquele cochilo e acorda com uma sensação muito real de alguém que você gosta te chamando? E muito essa sensação que eu tenho.

Tô deitado no sofá da varanda. E não é meu subconsciente. Tem alguém chamando na porta e é a voz da Mariana.

Dou um pulo do sofá, ligo a lanterna e corro até o portão, na chuva.

Ela tá aqui, paradinha. É ela e não é um sonho. O cabelo escorrido molhado pela chuva e com o clarão dos relâmpagos posso ver que ela tá chorando.

— Gabriel — ela diz com a voz fraca.

Não digo nada, só a puxo para dentro do meu abraço, ando com ela pra dentro.

A gente tá encharcado.

No instinto eu subo com ela pro andar de cima, com cuidado com a escada. Abro as janelas pro quarto se iluminar com raios e relâmpagos, ando até o closet e pego uma roupa quentinha pra ela.

Ajudo ela a se livrar das que veste, coloco nela minha blusa de moletom da viagem, penteio seu cabelo, troco minha roupa.

Ela não parou ainda de chorar, não me disse nada, eu não disse nada...

Pego as cobertas e me acomodo com ela na cama, bem pertinho, juntinhos, e eu a seguro tão apertado, seu rosto encaixado na dobra do meu pescoço me faz arrepiar.

Como eu senti saudade dela aqui dentro do meu abraço.

— Tá mais calma? — Pergunto baixo assim que sinto sua respiração se normalizar e ela assente com a cabeça — Quer me contar o que houve?

— Eu tô aqui — Diz — Da última vez eu disse que voltaria ou pra por um ponto final em tudo ou pra gente seguir.

Meu coração para quando lembro da última conversa que tivemos.

Ela se solta do meu abraço e se senta na cama, eu me sento de frente pra ela. É como se estivesse revivendo a cena da chuva do CT.

— Eu vim aqui, tinha um discurso pronto mas esqueci tudo Bi, não dá — Ela segura minhas mãos e entrelaça nossos dedos — Eu te amo tanto, tanto, tanto, que quando essa tempestade toda começou pensei que você não iria querer estar sozinho.

Cartas para a minha garota | Gabriel Barbosa (EM PAUSA)Onde histórias criam vida. Descubra agora