CAPÍTULO 27

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— Isso só pode ser brincadeira. — Renato sussurra.

Horrorizados com a cena que acabam de presenciar. Já viram muitas coisas, eles mesmo já amontoaram pilhas e pilhas de cadáveres para em seguida queima-los. Mas o que viram ali foram corpos em decomposição totalmente desmembrados.

No centro da grande massa de carne podre os pálidos estavam deitados envoltos em sangue.

— Eles estão dormindo? — Felipe pergunta.

— Isso é algo novo pra mim. — Renato responde confuso.

— Mas falta um. — Felipe fala ao contar os pálidos dentro do ninho de carne em putrefação.

Com movimentos lentos e respiração contida eles observam atentamente tudo ao redor. Nesse momento sentem que estão sendo observados.

Quando olham para o alto conseguem ver o quarto pálido. Ele estava sobre um dos dutos de ar do armazém com aqueles olhos cegos amarelados. Mesmo não enxergando o ser parecia saber que haviam pessoas ali, os meninos haviam dito que não existiam ali pálidos caçadores mas estavam enganados.

Essas criaturas são inteligentes, verdadeiros caçadores que não agem até ter certeza de que as presas serão abatidas.

Marta não classifica os pálidos como mortos vivos, mas sim humanos com a genética modificada. Seus corpos mudaram, perderam algumas funções cerebrais mas são na verdade como animais irracionais.

Uma evolução em força física, porém com uma degeneração cognitiva.

Cegos, a claridade fere suas córneas os fazendo ficar longe da luz, o rosto é sua região de vulnerabilidade.

Adquiriram uma audição noventa por cento melhor que a dos humanos para compensar a falta de visão.

Poucos sobrevivem ao se deparar com alguma dessas criaturas.

— Um caçador aqui? - Renato sussurra.

— Ele está acompanhando nosso movimento todo esse tempo, não se engane. — Felipe responde.

— Pensou em alguma coisa?

— Não!

— Vamos nos dividir, precisamos de uma distração para fazer o caçador descer. Em seguida tentamos reestabelecer a iluminação do lugar. Caso consigamos será fácil nos livrar deles. Eles ficarão loucos e desnorteados com a luz.

Do lado de fora todos apreensivos, já se passaram quase uma hora e nenhum sinal dos dois. Lá dentro, cada passo era dado como se estivessem pisando em um campo minado. Se dessem um passo errado se fizessem um barulho qualquer que chamasse a atenção dos pálidos poderiam estar mortos.

Eles se dividem e vão a procura do painel de energia. Depois de um longo tempo procurando Renato o encontra. Alguns frios estão desconectados dos interruptores e queimados, ele acredita que é possível conectar novamente retirando os frios queimados. Por sorte os frios são longos e mesmo cortando a parte danificada seria possível concertar. Mas Felipe que entende dessa parte de elétrica.

Segue procurando Felipe para levá-lo até o painel, até que dá de cara com o pálido caçador.

Prende a respiração, qualquer movimento ou respiração profunda significaria sua morte.

A criatura range as presas causando um som incômodo nos ouvidos dele. Segura sua vontade de se queixar pelo barulho e se agacha lentamente para não ficar no mesmo plano que o pálido.

Segue agachado quando percebe que os demais pálidos saíram do ninho de cadáveres e estavam espalhados pelo corredor.

Em sua cabeça o único pensamento foi "Fudeu muito".

O barulho feito pelo caçador fez com que os outros ficassem em alerta. Renato se vê em um beco sem saída. Permanece parado sem se mover na esperança de que eles iriam se mover e seguir para outra direção, mas permaneciam inertes, apenas movimentando a cabeça tentando captar qualquer um tipo de som.

Renato olha e vê Felipe que está com uma lata na mão. Com os movimentos feitos com uma das mãos Renato entende o que Felipe irá fazer. Logo depois ele joga a lata para longe na direção do ninho de cadáveres. A lata bate em uma placa de ferro próxima fazendo um barulho muito alto.

Os pálidos seguem como animais famintos em direção ao som. Mas não pararam por lá. Começam a percorrer todo o lugar passando suas garras rasgando as coisas nas prateleiras. Batendo com força com o corpo nas paredes.

Os dois observam em silêncio o comportamento das criaturas. Se mover seria suicídio agora, estão torcendo pra que nenhuma das criaturas esbarre neles.

PRIMEIRO ASSENTAMENTO

— Contate os que estão no segundo assentamento sobre os cadáveres que estão se aproximando da cidade. Fale também com Marta e os outros que estão na clínica. — Brenda fala

— Claro, agora mesmo. — Allan fala e se retira para ir até o transmissor passar o informe.

— Vocês dois vão para casa, eu e Douglas daremos uma volta na região para ver se avistamos mortos vivos e tentaremos eliminar o máximo possível. — Brenda fala com Roberta e Matheus.

— Vamos Douglas!

— Todos os acessos estão bem fechados sem chance de invasão, eu já havia verificado mais cedo. — Ele fala.

Os dois saem do condomínio e andam pela região. As ruas estão vazias como sempre, prédios, lojas, casas todas saqueadas e quebradas. Eles mesmos foram responsáveis por roubar algumas delas. Se bem que a palavra roubo não se aplicava mas nesse novo mundo.

Avistam alguns cadáveres pelo caminha, apenas com uma faca eles deixaram os mortos no chão. Brenda percebe que os corpos em questão não estão em tão grande estado de composição. Supôs que estavam mortos por volta de oito meses.

— Eu queria entender como esses mortos ainda não apodreceram depois de todo esse tempo. — Douglas fala.

— Deve ser por causa do vírus. De alguma forma ele deve retardar a decomposição dos corpos.

— Pode ser. Um corpo em decomposição em oito meses já estaria totalmente decomposto.

— Acho que agora não é o momento apropriado para pensarmos sobre isso não acha? E outra, agora eles já estão por aí e não importa, mas o tempo que eles demoram para se desfazer na natureza.

— O bom é saber que em algum momento todos eles ficarão apenas em ossos.

— Mas enquanto esse dia não chega.

— A gente tem que eliminar de vez o máximo que der. Já que a natureza não está fazendo a parte dela, a gente ajuda e agiliza o processo.

Caminham por algumas horas eliminando os cadáveres que estão ao redor e se surpreendem com a quantidade de mortos que estão aglomerados no próximo quarteirão.

— Puta merda! Tem tempo que não vejo essa quantidade de mortos vivos reunidos.

— Espero que eles sigam uma direção oposta.

Doze - O Terror Continua - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora