FRIENDS [Harry J. Potter]

09

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VOLTAR para Hogwarts depois de um Natal era um alívio. Eu estava maluquinha para encontrar Remus e contar para ele sobre os presentes que eu tinha recebido no Natal, também queria agradecer a Potter pelo presente que ele me mandara.
O castelo não estava mais com a decoração natalina que tinha antes de viajarmos, agora era a velha e adorada Hogwarts de sempre. Depois de deixar minhas coisas de volta no dormitório e colocar roupas mais confortáveis, decido ir atrás de Remus.

Quando chego a sala dele, escuto vozes vindo de dentro e bato na porta antes de abri-la. Harry Potter estava lá caído ao chão, ele sorriu ao me ver e eu abri um sorriso sem perceber.

- Desculpem interromper. - peço.

- Tudo bem, Ella. - Remus sorri também - Como foi seu feriado?

- Esplêndido, pelo menos parte dele. - afirmo.

Remus dá a volta pela mesa dele.

- Vou fazer um chá para nós, já volto.

O homem vai até o canto mais afastado da sala, me deixando sozinha com Potter. Me aproximo do garoto, estendendo a mão para ajudá-lo a se levantar.

- Remus está pegando pesado com você?

- Na verdade, não. - o garoto dá de ombros, então seus olhos param no meu pescoço e ele abre um sorriso maior do que o inicial - Ficou bonito em você.

- Obrigada. Normalmente uso ouro, mas prata ficou muito bonito.

- Acho que prata combina mais com você. - ele afirma.

Potter ergue os olhos e me encara, nós dois ainda segurávamos as mãos.

- Eu adorei o presente. - digo, soltando a mão dele.

- É, eu... Eu estava comprando os presentes para os meus amigos e vi isso numa vitrine, lembrei de você na hora.

- Soube que você ganhou uma firebolt. - comento.

Potter suspira, apoiando-se no armário, eu me coloco ao lado dele.

- McGonagall confiscou. - ele conta - Estão com medo de que Sirius Black tenha mandado.

- É um medo válido, mas é seu presente, ela não devia ter pego. Também recebi um presente misterioso esse Natal.

Harry me olha curiosamente.
Pego minha câmera mágica dentro da bolsa que eu tinha arranjado especialmente para ela e mostro para Potter.

- Uau. Ela tira fotos mágicas?

- Acho que sim. - digo - Vamos testar.

Ergo meu braço, apontando a câmera para mim e para Harry Potter.

- Diga "xis"!

Pisco com um olho e mostro a língua enquanto tiro a foto e puxo a câmera de volta. A foto é impressa na hora e demoram alguns segundos para aparecer a imagem.
Nela, enquanto eu fazia uma careta, Potter me olhava de cima a baixo com um sorriso. Era uma foto legal para inaugurar a câmera.

- Aqui o chá. - Remus se aproxima de nós, me entregando uma xícara.

- É melhor eu ir. - diz Potter - Até depois, professor Lupin. Black.

Potter sai da sala, me lançando um último olhar, e fico sozinha com Remus. Meu padrinho me olhava com uma sobrancelha erguida.

- O que? - pergunto.

- O que foi isso?

- Isso o que?

- Você tirando uma fotinha com Harry. São amigos agora?

- Ele me deu um presente de Natal.

Remus se senta na mesa do professor, dando tapinhas ao seu lado, então vou até ele e me sento ao seu lado.

- Qual é o problema?

- Meu pai que me deu essa câmera. - confesso - Ele mandou isso e uma carta.

Remus aperta os lábios.

- É, ele me mandou algo também.

Franzo o cenho.
Remus pega um pacote dentro do bolso e estende em minha direção, era um pacote de chocolate meio amargo.

- É possível sentir falta de algo que nunca teve? - pergunto, abrindo o chocolate e comendo uma barrinha.

Remus sorri de leve, guardando o chocolate.

- Emma era uma artista. - ele conta - Dessas que vê beleza nas coisas mais feias. Ela tinha um temperamento enorme, seu pai e James Potter a tiravam do sério toda hora. Ela adorava tirar fotos de tudo. Nunca a vi se relacionando com ninguém, sempre apreciou a própria companhia. Ela te amou muito, quando a visitamos no hospital, ela não queria te soltar, não deixou nem mesmo Sirius segura-la pelas próximas duas horas, até cair em sono de exaustão. Sabia que seu nome vem do grego? Significa presente enviado do céu, e seus pais acreditam nisso com convicção. Eu sei que pode parecer que estou falando isso só por falar, mas o amor que Emma tem por você é de se invejar.

Há uma pausa na fala de Remus.
Era tanta coisa para processar, tantos pensamentos e sentimentos.

- Onde ela está? - pergunto, receosa.

Remus balança a cabeça.

- Não sei. Não acho que ela saiba também. Seu pai... Sirius é um rebelde, acho que você já percebeu isso. Quando estudávamos aqui, ele era um tanto mulherengo, mas nunca se comprometia com ninguém, exceto quando ele engravidou sua mãe e a pediu em casamento. Emma riu na cara dele e mandou ele ir dormir porque amanhã era um outro dia. Sirius era muito leal, sabe? E corajoso, e bonito — tão bonito — ele...

Remus para de falar e engole em seco, como se as palavras fossem dolorosas demais.

- Você e meu pai. - eu reparo - Vocês não eram só amigos.

Meu padrinho não responde.

- Você o amava. - continuo - Provavelmente ainda o ama.

O homem respira fundo, passando a mão pelos olhos. Eu estico minha mão e coloco sobre a dele.

- Eu sinto falta dele. - confessa por fim - De todos eles. Éramos tão unidos, como uma família. Você e Harry mereciam ter essa experiência de família. Vocês não deveriam morar com pessoas tão terríveis como os Malfoy e os Dursley por tanto tempo. Você iria adorar nossa família, Ella, e eles iriam te amar incondicionalmente.

Abraço Remus, mesmo não ficando tão confortável com isso, e deixo ele chorar no meu ombro. Eu não sabia que ele se sentia assim, como eu poderia? Nós quase não conversamos sobre ele.

Percebo o quão egoísta eu estava sendo com minha família. Sirius estava a beira da loucura. Remus estava suprimindo toda sua dor. Emma estava perdida.
Todos nós lidávamos com coisas diferentes, todos nós estávamos sofrendo. Só eu tinha o direito de sentir?