20 - Lembranças esquecidas - a dignidade de ser um homem de verdade!

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- Cara, me explica o que está acontecendo - pediu Natsuno. - Não estou entendendo nada.

- É simples, Natsuno. Acabei de descobrir que, antes de me mudar para Honorário, encontrei um vampiro.

Natsuno coçou a cabeça em confusão. Foi Hebert quem perguntou:

- Então você está dizendo que o Miguel já tinha usado seu poder em você?

Eu confirmei com cabeça. Aquilo explicava muitas confusões que me envolveram durante tanto tempo, na época em que eu desconhecia sobre os vampiros. Sempre que via os olhos vermelhos daqueles que estavam infiltrados no colégio Martins, eu meio que sabia que já os havia visto antes em algum lugar. E nunca desconfiei que havia sofrido uma lavagem cerebral.

- Eu tive alguns pesadelos estranhos nos meus primeiros dias na cidade, antes de saber sobre os vampiros – expliquei com mais calma, ainda observando o amontoado de homens de terno na imagem do computador do meu pai. – Nesses pesadelos, apareciam sombras com olhos vermelhos que me perseguiam. E isso tornou-se um cotidiano, sabe? E os olhos vermelhos... bom, eu sabia que já tinha os visto antes, apesar de na época não saber sobre os vampiros ainda. Eu não entendia o porquê desse sentimento. Mas agora eu entendo. – Fiquei pensativo, com o cenho franzido enquanto não tirava os olhos do homem negro da imagem, que possuía verdadeiros olhos esverdeados, que eram um grande destaque distante da escuridão de sua pele. Chegavam a ser mais impressionantes do que os olhos dos meus amigos místicos, talvez por conta do contraste.

- Dio? - Natsuno chamou, um pouco preocupado.

Decidi compartilhar a minha lembrança.

- Num dos pesadelos, eu corria desesperado pela escola de um vulto de olhos vermelhos. Mas sabe, alguém gritava pra mim correr. E... quando eu saía da escola, eu meio que esbarrava em alguém de corpo pesado. E quando pensava que estava a salvo, esse alguém virava para mim com olhos verdes e colocava a mão na minha cabeça.

- E o que isso tem a ver, maninho? Você só está me deixando confuso!

- Isso realmente aconteceu, Natsuno – eu disse o olhando, sério. – Eu só não lembrava. Foi durante um dia de aula em Belém, pouco antes de me mudar para Honorário. Eu e os meus amigos fomos atacados por um professor novo – ou melhor, um vampiro. O grito do meu pesadelo... eu tenho certeza que era o grito do Caio. E lá fora, a pessoa de olhos verdes na qual eu esbarrei colocou a mão na minha cabeça, e desde então eu não me lembrava de nada que acontecera nesse dia. Até hoje.

- Era o Miguel - Hebert chegou à conclusão como se fosse algo fácil de deduzir. – Ele provavelmente apagou a sua memória a pedido do seu pai, que na época ainda não queria que você soubesse sobre o nosso mundo. Interessante.

- Ou seja – eu disse –, os pesadelos eram parte da minha memória voltando. Pelo menos algum deles.

- Falando assim, parece que você teve um monte de pesadelos – Natsuno ironizou.

- E essas memórias voltavam porque você via vampiros na escola – Hebert continuou o raciocínio, ignorando a piada do filho.

- E talvez o motivo de eu lembrar do Miguel foi o fato de ver de perto os olhos verdes da Zoe – falei me lembrando de quando a conheci, e de como a evitei também, por medo dos seus olhos.

- Imagino que você tenha sentido os sintomas também, na época – disse Hebert. – As dores de cabeça, eu digo.

Acabei me lembrando de outra coisa. Uma lembrança que ainda me causava dor.

Caçador Herdeiro (3) - Relâmpago Vingativo | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora