40 - Às Vésperas da Partida

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Acordei péssimo, pensativo e preocupado.

Jake estaria bem?

Todos sabem o que aconteceu no dia anterior, onde Riku e eu descobrimos que o assassino das crianças do bairro Mesquita era nada menos que Jenny, a irmã do garoto. Até chegamos a capturá-la, e caímos numa armadilha, mas por fim Jake acabou vendo sua irmã-zumbi e sofreu muito por isso.

Fomos embora calados, cada um para a sua casa, e foi difícil para mim conseguir dormir aquela noite. Agora era difícil levantar... Aliás, foi a Zoe quem nos caguetou. Mas eu não estava com raiva nem nada, talvez tenha sido melhor assim.

- Bom dia, filho - disse minha mãe, quando cheguei à cozinha. Ela já terminava de fazer o café e me sentei à mesa, onde havia uma cesta de madeira repleta de torradas com manteiga.

- Bom dia, mãe - falei.

- Está ansioso?

- Pra quê?

- Como "pra quê"? - ela me fitou por alguns segundos, surpresa. - A final de amanhã!

- Ah é, a final... - eu já tinha até esquecido. Minha mãe continuou a me fitar, mas permaneci calado, pensativo. Parecia que eu carregava uma cruz em minhas costas. Uma cruz de uma tonelada.

Na escola, não se falava de outra coisa, literalmente! Desde o campus até a sala de aula. Até a professora de Sociologia tinha dificuldades para manter silêncio na sala. Os garotos estavam muito animanos e ansiosos, quase todos. Sim, quase.

Jake ainda estava abalado - e eu não sabia o que dizer. Pensei em conversar com ele, mas acho que não adiantaria. Quando perdi meu pai a única coisa que eu queria era ficar sozinho. Natsuno e Joe também estavam preocupados, mas assim como eu entendiam o garoto. Decidimos, por fim, nos descontrair falando do jogo. Admito que passávamos dos limites.

- Por favor, garotos, façam silêncio! - a professora gritava, irritada, mas ninguém a ouvia. Até mesmo as meninas faziam barulho conversando entre si, e cheguei a ouvir que estavam organizando alguma coisa. A professora Kátia estava vermelha de raiva, gritando a toda hora, inutilmente, e então todos nos assustamos após alguém chutar a porta com força e a mesma bater na parede fazendo um barulho entrondoso.

A sala ficou em extremo silêncio, e todos olhamos para a entrada, onde o que apareceu arrepiou a cada um ali. Era mais feio que um vampiro. Usava óculos enormes que não combinavam com o seu porte físico, que era redondo. Piorava tudo a camisa branca que a mulher vestia por dentro da calça jeans, sem falar a gravata verde-limão e as botas marrons. Mas Abigail estava diferente, um pouco mais... feia. Ela usava um batom vermelho muito forte que a deixava ainda mais assustadora e sua peruca tinha um novo penteado: chegava até metade do pescoço e tinha as pontas repicadas.

Sinceramente, não sei se me assustei mais com o barulho da porta batendo na parede ou com a aparência da inspetora, só sei que todos estavam paralisados de medo.

- QUE PALHAÇADA É ESSA?! - ela gritou, pisando no chão com força; e por um momento pensei que haveria um terremoto ali.

A sala inteira estava em torturoso silêncio, enquanto a senhorita Abigail olhava no rosto de cada um, fazendo o coração de todos acelerarem imediatamente.

Era um clima muito tenso.

- NINGUÉM VAI DIZER NADA?! - ela gritou novamente; Natsuno e eu nos entreolhamos. - DIOGO E NATSUNO!! - senti meus braços tremendo.

- Oi, senhorita... Abigail - falei, hesitante.

- O que fizemos? - Natsuno completou. Abigail parecia querer nos engolir, nos fitando com olhos pequeninos e raivosos.

Caçador Herdeiro (3) - Relâmpago Vingativo | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora