11 | Scar Tissue

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Franzi a testa, vendo de perto o rosto de Yeji ficar ainda mais pálido e sombrio quando a figura de Yejun Hwang resolveu apontar para ela e revelar aos presentes que a mesma era sua filha.

Acho que Peter Edge e meu pai ficaram chocados, especialmente o último, já que o mesmo buscou meu olhar atrás de explicação. Mas eu estava tão perdida quanto ele.

Nem em mil anos eu chutaria que Yeji era filha de Yejun Hwang, rival do meu pai nos negócios e CEO da principal companhia de carros elétricos da Ásia, chegando a liderar as vendas de automóveis e peças automobilísticas em todo o continente asiático. Não chegava a se expandir para o Ocidente como a SMC, mas isso não tornava a empresa menos impressionante ou menos lucrativa do que era de fato. E voltando a Yeji e ao homem, eles podiam ter sobrenomes iguais, mas por serem coreanos, isso não mudava muita coisa e nem significava que tinham algum parentesco. Assim sendo, minha surpresa era válida.

Se Yeji tivesse usado o nome de seu pai para conseguir mais oportunidades como cantora, ela já estaria nos pódios há anos. Mas algo me dizia que, até aquele momento, ela estava decidida a se distanciar o máximo possível do parentesco que tinha com ele, não importando o quanto a influência de seu pai fosse ajudá-la a alcançar os próprios objetivos. Infelizmente, tudo tinha caído por terra em segundos quando calhou de ele estar na mesma festa que ela.

Lá no palco, Yejun Hwang continuava seu discurso:

— Minha Yeji veio para a América atrás de seu sonho como cantora, e eu fico extremamente alegre de vê-la esbanjando seu dom numa festa como a Monopoly Party. É por isso que o recebimento desse prêmio é duplamente mais gratificante pra mim e...

Vislumbrei a mandíbula de Yeji se contrair firmemente quando ele fez uma pausa e sorriu diretamente pra ela. O salão explodiu em palmas meio confusas, e eu tive a impressão de que as mesmas só aumentaram a clara agonia que Yeji parecia sentir enquanto estava estacada ao meu lado, mortalmente pálida. Yejun prosseguiu falando, mas eu parei de escutar.

— Ji? — Eu a chamei, tentando ganhar sua atenção.

Ela piscou algumas vezes, como se minha voz a tivesse feito despertar de um sono profundo. Lá na frente, seu pai ainda falava.

— Eu... — Vi a garganta de Yeji oscilar. Ela deslizou os olhos por mim durante alguns segundos, e eu captei os brilho das lágrimas que ela parecia com muito esforço reprimir. — Eu preciso ir.

Ela me entregou o champanhe pela metade e meio andou meio correu pelo salão e pelos convidados até os fundos.

Eu respirei fundo, sacudindo a cabeça de um lado para o outro enquanto colocava ambas as nossas taças em uma mesa qualquer e me lançava atrás dela.

Eu tinha uma única fraqueza: ver lágrimas. Eu simplesmente não conseguia não me apiedar caso alguém chorasse na minha frente. E, por mais que ela tivesse corrido justamente para evitar que eu a visse em prantos, eu sabia que chorar era tudo o que ela queria e eu sentia - quase como um instinto, que deveria estar lá pra ajudá-la de alguma forma. Isso se ela não me expulsasse quando eu me aproximasse.

Desviei dos convidados e das mesas acompanhando seu vestido vermelho com os olhos, até sair para o lado de fora do salão pela porta de emergência. A brisa gelada me cumprimentou e senti meus braços nus estremecerem de frio.

Havia um gramado excepcional ali fora e, mais aos fundos, o estacionamento. Tudo estava coberto por uma manta de escuridão congelante e parcas luzes que vinham dos muitos postes espalhados.

Avistei Yeji sem muito esforço correndo pelos carros estacionados. Ela parecia disposta a chegar no limite da propriedade, que era cercada por uma cerca de alta voltagem.

You Give Love a Bad Name | RYEJI Onde histórias criam vida. Descubra agora