57 | Again

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O faról lançava um feixe de luz amarelada sobre o oceano, tingindo suas ondulações enquanto girava num padrão semicircular ao redor do rochedo onde se encontrava.

Eu e Mia estávamos observando a construção antiga do topo de um pequeno monte cheio de floresta. Nossa intenção era descer e libertar Ryujin, Sunghoon e Hyunjin sob a luz da lua, ou, no mais tardar, no começo da manhã seguinte, logo depois que tivéssemos um plano pra colocar em ação.

Mas desde aquela tarde, quando tudo aconteceu...

Engoli em seco, fechando os olhos por alguns instantes quando meu coração se contraiu no peito. Desde tudo, era raro que falássemos sobre qualquer coisa além do básico e necessário. Ambas estávamos sem palavras, concentrando todas as nossas energias em manter nossas mentes longe de pensamentos perigosos ou dolorosos. O olhar de Mia andava perdido desde que saímos daquele bunker.

Mas precisávamos ser fortes. Pelo menos aguentar até que pudéssemos desabar sem medo, sem que sombras espreitassem por todos os lados, prontas pra atacar a qualquer instante.

— Mia. — Eu murmurei.

Ela, que estava fitando o faról em silêncio, pareceu despertar de um transe. Seus cabelos negros voavam enlouquecidos pela força do vento, e sujeira se misturava à lágrimas secas em suas bochechas.

— Hum? — Ela pigarreou, Sua voz saiu rouca, um tanto falha.

Nada havia da sagacidade que costumava cintilar em seus olhos azuis.

Apenas... Vazio.

— A única coisa que a gente têm é um revólver. — Me esforcei a dizer. Afinal, precisávamos falar sobre aquilo em algum momento. — O que nos iguala aos sequestradores em poder de fogo. Mas como vamos entrar lá? Como vamos tirar os três daquele lugar?

Dali podíamos ver a pequena garagem que saía na água, logo onde o mar se unia à terra. Ficava cravada no faról, e podíamos ver a traseira do barco que supostamente nos levou até a ilha. Era um pesqueiro, ou algo assim. Tínhamos decidido entrar por lá, mas depois disso, não tinhamos nada mais traçado.

— Se vamos fazer algo — Disse Mia, a voz quase inaudível sob os assobios do vento. —, temos que fazer antes que eles dêem falta do homem que a gente.... Do outro cara.

Do homem que a gente matou...

Eu limpei a garganta, confirmando com um aceno brusco de cabeça. Tínhamos trazido do bunker alguns kits de primeiros socorros, mas principalmente um walk talk que Segurança levava junto a si. Tivemos a esperança de que talvez fosse possível nos comunicar com o mundo exterior através dele, mas depois de muitas tentativas falhas, percebemos que não. Era uma rede que só funcionava dentro de um limite específico.

Como os sequestradores até então não tinham entrado em contato com aquele walk talk, imaginamos que eles ainda não haviam dado falta do homem. O que nos dava certo tempo pra invadir o faról sem que eles estivessem esperando por tal invasão. A supresa seria nossa vantagem.

— Vamos entrar pela garagem e torcer para que o Chefe não apareça? — Ergui uma sobrancelha. — Da última vez que depositamos a fé na sorte, as coisas não saíram muito bem.

— Daquela vez, não tinhamos isso. — Retrucou Mia, erguendo o revólver. Vi o leve tremor em seus dedos e o quanto ela parecia se esforçar pra segurar aquilo.

— Eu ach...

Fui interrompida pelos ruídos de estática que deixaram a saída de áudio do walk talk. Me sobressaltei com o barulho inesperado e meus olhos foram de imediato ao encontro dos de Mia. Notei o leve oscilar em sua garganta.

You Give Love a Bad Name | RYEJI Onde histórias criam vida. Descubra agora