53 | Say You Won't Let Go

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TW: VIOLÊNCIA.

ALERTA DE DESGRAÇA.

Novamente me vi despencando na escuridão do pânico.

Ele parecia mais agressivo ali, mais intenso. Era quase como se algo afiado rastejasse sob minha pele, um nó doloroso de choro que praticamente impedia minha respiração de vazar pra fora de mim.

Além de imagens dos últimos momentos de vida da omma, Ryujin também ocupava minha mente. O sangue espesso pingando de seus lábios enquanto ela gemia de dor. O corpo jogado agressivamente pra trás sempre que um novo chute lhe era desferido. Ou mesmo a maneira como ela me olhou depois que tudo acabou e disse que estava bem. As lágrimas preenchendo seus olhos, um sorriso débil curvando seus lábios.

Aquelas lembranças apenas engrandeceram o no que obstruía minha garganta. O ar entrava e saia pesado, difícil, e parecia ficar mais raro à cada segundo que se arrastava.

Meus olhos estavam atados, novamente um ataque de pânico no sono. Mas, por mais que eu soubesse que estava lidando com um, a agressividade do mesmo era demais pra mim. Tão forte que eu estava desistindo de lutar contra. Estava desistindo de tentar conter sua força, sua potência, tentada a apenas esperar que ele passasse enquanto sentia o sofrimento me escalando.

Até que eu senti algo vago, bastante distante em mim. Era uma espécie de toque.

Aquilo me concedeu alguma pouca sanidade, permitindo que uma luz emocional bem frágil iluminasse uma pequena quantidade da escuridão pesada que assolava meu raciocínio lógico.

Tive a sensação de unhas se afundando na pele do meu antebraço, e a dor emocional de repente virou física. Fez o bolo que obstruia minha garganta se desfazer de forma dolorosa para que eu pudesse arquejar.

Acorde.

A voz era autoritária, firme. Parecia ecoar pela minha cabeça e eu não conseguia definir ao certo à que género pertencia.

Senti quando o aperto das unhas em meu braço se intensificou, os dedos cravando-se fundo em minha pele, e arfei novamente, recuperando os sentidos e as sensações do meu corpo por inteiro. Uma vez que a sensação de pânico ia sendo reduzida gradualmente e minha respiração ia saindo mais livremente, os sentidos iam retornando.

Vamos, acorde!

O tato veio primeiro e totalmente de uma só vez. Eu senti aquelas unhas em mim apertando mais forte, senti os tecidos rasparem minha pele por toda a sua extensão, senti a textura dos meus cabelos fazendo cócegas em meu rosto, senti o vento gelado atravessar minhas roupas e arrepiar meu corpo, e senti a leve dorzinha que latejava em minha testa.

— Vamos. Acorde!

Com aquelas palavras, minha audição retornou. Não mais embaçada, ou me dando a sensação de estar debaixo d'água. Pude escutar o ressoar das ondas aos fundos, chocando-se contra alguma superfície rochosa. Pude escutar a maresia que assobiava do lado de fora daquele lugar, chiando enquanto entrava pelas seteiras e invadia o cômodo. E, mais perto, pude escutar respirações pesadas, respirações de sono. Uma em particular saía dificil, quase como se fosse um esforço respirar. Ryujin. E a voz que falava comigo, naquele momento limpa, eu já podia definir como feminina. Mia.

Quando finalmente abri os olhos, de início o que enxerguei foi escuridão. Negra e profundamente espessa. Mas fui piscando e me acostumando, e logo fui capaz de definir formas sombreadas ali dentro.

Perto da porta estreita que era da mesma cor branca metálica das paredes, vários caixotes de madeira envelhecida estavam empilhados e lacrados.

Deslizei meu olhar por todo o cômodo, captando o brilho frágil da lua que invadia o recinto pelas seteiras. Vi Ryujin dormindo tão distante de mim, os olhos fechados e a respiração difícil. Sangue havia pingado na gola de sua blusa, deixando em evidência os rastros secos. Ver aquilo fez meu coração se
contrair com força.

You Give Love a Bad Name | RYEJI Onde histórias criam vida. Descubra agora