20 | There You Are

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— Então aqui estou já faz alguns anos, porque como você acabou de escutar, não tinha como eu continuar lá servindo de saco de pancadas para aquele homem. Eu comecei a perceber que merecia mais. Que merecia ser o que eu quisesse e fazer o que eu quisesse. A vida é minha, no fim das contas.

— Você fez o certo. — Disse Yuna, mordendo o que deveria ser seu terceiro espetinho de frango. — Eu teria feito o mesmo. Somos mulheres, e a época em que mulheres se curvavam para homens de merda já passou. Temos que deixar claro que esse mundo também é nosso, e que nossos desejos são nós quem fazemos, não eles. Nenhum deles.

Eu assenti. Yuna estava certa, mais do que certa. Eu ainda estava assustada pelo confronto que dividi com meu pai, mas contar tudo para ela foi libertador de certa forma.

— Agora que eu entendi a história toda, acho que posso dizer que você foi bem lá dentro. Deixou claro que ele não pode mais te controlar. — Disse ela, me observando daquele seu jeito impassível e avaliador que eu temia, mas também admirava.

— Sinceramente? — Eu devolvi seu olhar de forma hesitante. — O tempo todo eu só queria correr. E às vezes socar a cara dele.

— Aquele homem bem que merecia alguns socos. — Disse Yuna, torcendo o nariz.

Eu tomei um gole do meu suco, e ri pra não chorar.

Estávamos sentadas na beira da orla, comendo os espetinhos de frango que compramos numa barraquinha urbana e bebendo suco de laranja em copos recicláveis.

A maresia era fresca e tocava minhas bochechas com dedos gentis. Reconfortantes. Eu gostei daquele momento que dividi com Yuna. Ela não era tão temível como parecia e também sabia escutar e aconselhar.

— Eu sinto muito por ter te arrastado comigo pra mesa. — Falei, olhando-a de lado. — Mas eu entrei em pânico na hora que o vi e...

—Tudo bem. — Yuna assegurou, fitando o mar lá na frente. — Eu também teria levado quem estivesse por perto se meu pai fosse como o seu. Algumas vezes as garotas precisam unir forças, certo?

Eu sorri. Gostava da maneira como ela pensava.

— Tem razão. — Concordei. — E obrigada. Só espero não ter interrompido seu jantar.

— Não interrompeu. Na verdade, você me salvou de um encontro horrível.

Ergui uma sobrancelha inquisitiva e ela apenas deu de ombros, ainda focada no espetinho que tinha em mãos. Eu estava no meu primeiro, que por sua vez estava praticamente intocado.

— E eu prefiro mil vezes comer no meio da rua do que no barulho de um restaurante. — Disse Yuna, retribuindo meu olhar por alguns instantes. — Você até que não é uma companhia tão terrível.

— Então essa era a sua visão de mim? — Fiz uma careta. — Uma companhia terrível?

Yuna mordeu seu frango, despreocupada.

— Você me culpa? Depois de Mia, eu julguei como fato imutável que Ryujin tem dedo podre pra escolher seus acompanhantes.

— Bem, olhando por esse ângulo... Eu não posso discordar.

Yuna assentiu e então me lançou outro olhar breve.

— E vocês? Como estão indo?

A pergunta me pegou desprevenida. Eu precisei limpar a garganta pra tirar alguma palavra pra fora dela.

— Nós?

— Sim, vocês. — Yuna confirmou, toda séria. Bebi um pouco de suco pra tentar limpar a secura da garganta. — Eu fui até o apartamento pegar um casaco e vi vocês por lá. Do jeito que estavam, eu espero que não tenham transado em cima de todos os móveis da minha casa. Espero mesmo.

You Give Love a Bad Name | RYEJI Onde histórias criam vida. Descubra agora