You Give Love a Bad Name | RYEJI

07 | Body Heat

A chuva começou meia hora depois que deixamos a residência dos Shin no litoral da Califórnia. Já eram quase seis da noite, e minha previsão era a de chegar em casa um pouco antes das oito.

Após mais vinte minutos, porém, toda a previsão foi por água abaixo quando um pesado temporal retumbou no céu. A chuva era tão intensa que batia forte contra o para-brisa e obstruía constantemente a visão de Ryujin. Em inúmeras ocasiões ela precisou reduzir a velocidade para conseguir enxergar a pista novamente.

Em um momento muito específico, o Porsche derrapou no concreto molhado e meu coração quase saiu pela boca durante os segundos que Ryujin não conseguiu recuperar o controle.
Eu gritei mais alto que a tempestade do lado de fora pra ela parar. Com uma risada nervosa, ela encostou na beira da estrada tão logo recuperou a direção do conversível.

Eu não podia negar, a desgraçada tinha impressionantes habilidades automobilísticas.

Mas tentei não pensar muito nas habilidades de Ryujin.

Afinal, eu tinha uma tempestade inteira do lado de fora daquele carro com a qual me preocupar.

— Isso só piora. — Resmunguei, estreitando os olhos pra tentar decidir se o que havia à nossa esquerda era um galho que se mexia incontrolavelmente por conta da ventania, ou alguma criatura das sombras.

— Eu não vou me importar de passar a noite aqui com você, Ji. — Ronronou Ryujin. — Essa chuva, esse temporal... Tão romântico.

Eu não fiquei surpresa com seu comentário idiota. Estava prestes a retrucar quando um raio cruzou o céu e seu estrondo fez tremer meus ossos.

Dei um pulo em meu assento, e mesmo sob o barulho infernal, pude ouvir a risada de Ryujin aos fundos.

— Tem medo de temporal, Hwang Yeji? — Ela zombou.

— É claro que sim! Você não?

Tudo ficou claro por alguns instantes quando outro raio cortou o céu negro, e então a escuridão voltou a preencher o ambiente. Os faróis ligados do carro criavam feixes do lado de fora, mas os mesmos eram quase engolidos pelo paredão de chuva que despencava do céu.

— Eu realmente adoraria passar a noite aqui com você, mas se não me engano, — Ryujin coçou o queixo levemente. —há um hotel de beira de estrada a mais ou menos um quilômetro à partir deste ponto. Quer tentar a sorte?

Pensei por alguns instantes. Colocar o carro em movimento debaixo daquele apocalipse era arriscado, mas era uma opção melhor do que passar a noite com Ryujin num ambiente pequeno e fechado, sem qualquer escapatória.

Pelo menos no hotel eu me sentiria mais segura, e também teria um quarto apenas meu.

Não era tão difícil decidir.

— Tudo bem. — Falei num suspiro. — Mas vá devagar. E pare sempre que achar que está perigoso demais.

Ryujin manteve aqueles olhos intensos durante alguns segundos sobre mim, e então pisou no acelerador outra vez, voltando a enfrentar a tempestade.

— Seu desejo é uma ordem, Hwang Yeji. — Ela murmurou, o sorriso largo sendo reduzido a um leve curvar de canto de boca.

Foi daquele jeito, entre paradas e velocidade mínima, que chegamos ao hotel que Ryujin citou. Havia um estacionamento na frente de um edifício de dois andares, com fileiras de quartos em cima e embaixo. O corredor não era fechado, portanto as portas eram visualizadas de onde estávamos.

A demanda do hotel parecia grande, já que o estacionamento estava praticamente todo lotado com carros.

Ryujin achou uma vaga péssima num canto escuro e afastado, e com menor cobertura, e foi ali mesmo que ela estacionou.