55 | Evelyn, Evelyn

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Minha cabeça estava um caos. Doía de todas as formas possíveis, assim como centímetro por centímetro do meu corpo. A musculatura estava rígida pela falta de uso, os nervos tensionados por conta das cargas elétricas periódicas, e meu estômago se encontrava pesarosamente dolorido por causa dos chutes.

Mas o pior de tudo nem era isso.

O pior de tudo era não fazer qualquer ideia de como Yeji estava. Se ela estava conseguindo se virar bem no meio daquela ilha, se estava segura e longe de perigo, se estava conseguindo fugir do Segurança...

Com certeza é melhor lá fora do que aqui dentro, Ryujin. Pelo menos não usaram essas correntes malditas nela.

Aquele era meu único consolo, porque de resto...

Meus olhos vagaram pelo cômodo iluminado por luz do dia, pousando em Sunghoon.

O garoto estava esticado ali no meio, incapaz de se levantar e indo e voltando da insconciência. Se os hematomas em meu corpo eram terríveis, os dele eram ainda piores.

Braços, pernas, rosto, coluna... Cada parte do pobre rapaz estava corrompida de alguma forma. Sunghoon estava tão roxo e cheio de cortes, que parecia uma massa irreconhecível repousada naquele chão frio. Sempre que eu o olhava, uma terrível vontade de vomitar escalava minha garganta. Não pela aparência, mas sim por repassar na cabeça tudo o que fizeram com ele enquanto eu e Hyunjin assistíamos impotentes, incapazes de impedir.

O Chefe vinha durante as duas refeições que nos ofereciam, uma na hora do almoço e a outra quando a luz do dia dava lugar à escuridão da noite. Esperava Sunghoon comer a dele com a ajuda de Cachorrinho e então, cheio de fúria, começava a bater no garoto outra vez. De novo, de novo e de novo, com tanto ódio e raiva que em inúmeras ocasiões foi possível ouvir o barulho de ossos estalando dentro do melhor amigo de Yeji. Quando a tortura chegava ao fim, Sunghoon usava o resto de suas forças pra colocar pra fora o pouco que havia conseguido comer, então basicamente ele voltava ao nada e ia enfraquecendo mais a cada dia que passava.

Estava lá deitado no chão, seus pulsos e seus tornozelos amarrados com força. Gemidos irregulares escapavam de seus lábios rachados junto com murmúrios baixos e inteligíveis, mas até mesmo isso cobrava demais dele.

— Devemos nos preparar. — Hyunjin sussurrou bem baixo, numa distância de mais ou menos dois metros de mim.

Eu estava tão atordoada com tudo, tão presa nas imagens de Sunghoon sendo espancado, que eu o escutei por alto. Nem sequer me virei em sua direção, nem sequer tirei meus olhos do garoto que agonizava diante de mim.

— Ryujin? — Hyunjin murmurou, a voz saindo quase como um chiado.

Deslizei o olhar perdido até ele, e mesmo virar o pescoço fez meus nervos se contraírem. Hyunjin estava tão terrível quanto eu. Olheiras e hematomas definiam seu rosto.

— Preparar pra quê? — Eu perguntei. Minha voz escapou rouca e de forma dolorosa. Minha garganta pareceu arder por dentro.

Vi o pomo de Adão de Hyunjin oscilar. Como eu, ele estava circulado por uma pesada corrente de ferro. Toda a extensão de seu tronco, a volta dos tornozelos e os pulsos atrás das costas. Existiam grossas argolas de aço rente ao piso, e era nelas que as correntes estavam travadas.

— Pra quando... Pra quando ele... — Hyunjin sussurrou bem baixinho, apontando com o queixo pra Sunghoon. Limpou a garganta outra vez e vi a empatia franzir sua testa e umedecer seus olhos. — Você sabe...

Eu sabia. Mas preferia não saber.

Voltei a fixar a atenção no melhor amigo de Yeji. Sua vida seria sugada por inteiro a qualquer instante e não havia nada, nada que pudéssemos fazer pra impedir.
Senti as lágrimas fazerem pressão pra fora dos meus olhos. Senti quando elas escorreram pelas minhas bochechas, abrindo caminho pela sujeira, pelo sangue e pelo suor. Pareciam queimar fosse lá onde passavam. Queimavam e me tiravam arquejos que logo se transformaram em soluços.

You Give Love a Bad Name | RYEJI Onde histórias criam vida. Descubra agora