33 | From This Moment On

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Existem momentos na vida que, basta um olhar, e você sabe que é demais pra você. Você sabe que ir em frente em vez de recuar vai tirar um pedaço seu.

Era o que eu sentia com os olhos pregados no rosto de Ryujin, que estava mortalmente pálido, completamente tomado de lágrimas, de pálpebras inchadas e pesadas, testa franzida e olhos terrivelmente vermelhos, com tons arroxeados nas laterais. Mas a dor que torcia suas feições... Enxergar aquela dor era a pior parte.

Senti meu coração cair do peito e se partir em milhões caquinhos pelo chão daquele quarto, se juntando aos cacos das garrafas de bebida que ela havia estourado ali dentro. Senti as palavras morrerem na minha boca e um nó enorme e terrível se enraizar na minha garganta, quase me impedindo de respirar.

Eu sabia que, à partir do momento que eu desse um passo adiante, não teria mais volta. Algo seria tomado de mim e era inevitável.

Mas eu realmente não me importe quando avancei até ela. Minha garota estava mal, e eu só queria que aquilo parasse. Eu só queria que ela parasse de chorar, que sorrisse, que fosse a Ryujin de sempre. E se era necessário tirar um pedaço meu pra tapar as rachaduras dela, então ou estava mais do que disposta a fazê-lo.

Eu a abracei apertado, sentindo as lágrimas quentes escorrerem pelas minhas bochechas, e senti o corpo de Ryujin desabar contra o meu. Ela chorou ainda mais, chorou violentamente. Eu sentia seu corpo tremer sob meus braços. Sentia suas mãos agarrando minha blusa por trás, segurando tão forte como se aquito fosse tudo o que tinha entre ela e a dor que a consumia por dentro. Deslizei minhas mãos com suavidade em suas costas febris, tentando acalmar aqueles tremores que balançavam seu corpo com
tamanha brutalidade.

O rosto dela estava afundado em meu ombro e ela chorava sem parar ali. Seus soluços preenchiam o quarto, se enraizando nas paredes e nos móveis. E em mim. Meu choro era silencioso, mas doía. Apenas vê-la naquele estado tão brutal doía. E doía muito forte.

— E-eu ma-matei... — Ela soluçava abafado contra mim, a voz úmida e arrastada, quase impossível de entender. — Ma-matei mi-minha m-mãe...

Eu franzi o cenho, me esforçando muito pra compreeder suas palavras completamente embargadas e entrecortadas.

— Mi-minha m-mãe, Ye-Yeji...

Tentei engolir aquele nó que impedia minhas palavras de sairem diversas vezes, mas parecia impossível. Cada esforço fazia doer, e cada soluço
de Ryujin aumentava a dor.

A apertei mais contra mim, colando seu corpo trêmulo completamente no meu, e subi as mãos até sua nuca, passando as unhas com suavidade por entre os fios finos de seus cabelos.

O choro de Ryujin aumentou ainda mais em meu ombro, e suas mãos na minha blusa se apertaram com mais força do que já apertavam.

Fechando bem os olhos, concentrei minha respiração e obriguei o nó em minha garganta a descer.

Desceu rasgando e doendo, mas desceu. Novamente capaz de falar, sussurrei:

— Estou aqui com você, ok? Você vai ficar bem, bebê. Eu prometo.

— Mi-minha m-mãe. — Ela soluçou de forma falha e chorosa, parecendo não ter me escutado.

Meu coração estava em cacos. Cacos extremamente afiados que me rasgavam por dentro. E a maneira como ela falava, como expressava sua dor, me matava. Me matava de dentro pra fora, arrancando à força o que me mantinha de pé. Eu estava quase desabando, mas precisava ser forte por ela. Sabia que precisava. Então tomei fôlego.

— Olha pra mim. — Pedi num sussurro torturado.

Eu pousei as mãos delicadamente em suas bochechas geladas, afastando-a de meu ombro para que ela pudesse me olhar.

You Give Love a Bad Name | RYEJI Onde histórias criam vida. Descubra agora