Simon Riley e Alice Walker, amigos de infância, se reencontram como sargentos no exército britânico, lutando juntos nos campos de batalha do Afeganistão. Porém, após seis anos de casamento, o relacionamento é abalado quando Alice desaparece durante...
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Assim que abro os olhos, dou de cara com o olhar atento de Ghost. Os olhos azuis fixos em mim, calmos, intensos. Seus dedos traçam carícias suaves no meu rosto, e fecho os olhos novamente, não para dormir, mas para continuar sentindo aquele toque — leve, quase reverente.
—Precisamos levantar — ele diz com a voz grave, arrastada pelo cansaço — você tem o treinamento com o pirralho e eu preciso entregar o relatório da missão para o seu pai.
Ele se senta na cama e dá leves tapinhas na minha bunda, como se me chamasse de volta à realidade.
Ainda não havia apresentado Ghost a John. Ele não me deixou sair do quarto ontem — por motivos óbvios — e o momento de apresentação ficou adiado. O que eu ainda não sabia era como dizer a ele que, de certo modo, nos tornamos pais do garoto. Que a ligação entre nós três era agora mais do que circunstancial: era oficial.
—Já pensou em ter um filho... grande? — provo, com um sorriso enviesado.
Ghost arregala os olhos e passa a mão pelos cabelos, confuso.
—Do que você tá falando?
—Temos a guarda do garoto — respondo, com calma. — Somos os guardiões legais dele.
—Eu não lembro de ter assinado nada — a voz dele carrega indignação, quase como se eu tivesse cometido algum sacrilégio burocrático.
—Eu assinei — digo, firme. — Ele era órfão. Não tinha ninguém.
O carinho que sinto por John cresceu em silêncio, como uma planta em meio a escombros. Eu não desistiria dele. Não o abandonaria como seu pai o fez. Eu cuidaria dele como gostaria que minha mãe tivesse cuidado de mim. E o treinaria como meu pai, com toda sua rigidez e amor silencioso, um dia me treinou.
Se Ghost não quisesse esse tipo de laço com o garoto, eu entenderia. Não o forçaria. Mas não abriria mão do que senti ser certo.
Sei que quase o fiz passar mal ontem — e, sim, fui dura. Mas ele me desobedeceu. Meu pai já havia feito muito pior comigo, e eu sobrevivi. Ghost também sobreviveria. Esse era meu jeito torto de dizer que me importo. Que quero protegê-lo. Que quero que ele fique.
E, mais do que tudo, quero que ele entenda que, mesmo sem sangue, somos uma família. À nossa maneira — marcada, ferida, mas profundamente nossa.
—Então você adotou um adolescente enquanto eu estava em missão? — ele pergunta, se aproximando de mim. Suas mãos envolvem meu rosto com uma delicadeza que quase me desarma. — Amor... você tem ido às sessões de terapia?
A pergunta veio como um soco no estômago. Rápido, preciso, doloroso. Ele achava que eu adotei John... por causa do bebê?
—Sim, Simon — rebati, engolindo a raiva que começava a subir como fogo pela garganta — estou indo a todas as malditas sessões de terapia. E não, não adotei John por causa do bebê. Eu o adotei porque ele precisava de alguém. Porque ele estava sozinho. Porque Price, por mais que tentasse, não podia treiná-lo, não podia cuidar dele como ele merece.