Siberia

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Assim que o avião tocou o solo gelado da Sibéria, um silêncio sepulcral pareceu envolver tudo ao nosso redor

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Assim que o avião tocou o solo gelado da Sibéria, um silêncio sepulcral pareceu envolver tudo ao nosso redor. Fomos recebidos por um coronel de olhar vazio, que nos informou com frieza o destino final: uma base militar abandonada há anos, esquecida pelo tempo e pela própria memória da guerra. Price contestou, mencionando o estranho sinal que havíamos captado — algo persistente, insistente, como um eco vindo das profundezas. Mesmo sem garantias de vida ou resposta, decidiu que seguiríamos.

Recebemos um veículo velho, roncando como se fosse feito de ossos moídos e ferrugem. A jornada duraria cerca de duas horas, atravessando um território hostil e coberto por uma neve quase eterna. Um guia calado nos acompanharia — um homem magro demais, de olhos opacos, como se já tivesse visto o que aguardava no cume da montanha.

O tempo dentro do carro era uma tortura silenciosa. Meu peito se estreitava a cada quilômetro, como se algo invisível me enforcasse devagar. A possibilidade de reencontrar minha mulher me dilacerava com igual porção de esperança e medo. John tentava puxar conversa, mas minha mente vagava em um único pensamento sombrio: eu mataria Nikolas com minhas próprias mãos.

Na pressa da partida, esquecemos de avisar Michael. Só consegui enviar-lhe uma mensagem breve, fria, enquanto embarcava — como quem deixa uma última confissão antes do desconhecido.

Quando enfim nos aproximamos da base, o guia apontou uma trilha que serpenteava pela montanha. A entrada estava no alto, incrustada como uma cicatriz na pele da rocha. Não havia outro caminho. Nos armamos com pressa e começamos a subida. Foi rápida, mas cada passo parecia ecoar nos ossos.

Ao alcançar o topo, fomos tomados por um silêncio insuportável. Nenhuma presença, nenhum som. O mundo ali parecia suspenso entre o tempo e o nada. Decidimos entrar. O interior estava limpo — limpo demais. O pó havia sido afastado, as pegadas eram recentes. Alguém estivera ali.

Caminhávamos com passos contidos, como se o próprio ar ali carregasse o peso de um segredo mal enterrado. Vasculhamos cada canto com olhos inquietos, abrindo portas que rangiam como sussurros de fantasmas. Aquele que estivera ali partira com pressa, disso não havia dúvida — pertences estavam espalhados, abandonados como se a fuga tivesse sido forçada ou repentina. Mas o silêncio gritava que algo ainda permanecia. Algo que nos observava das sombras ou dos ecos.

Cheguei ao fim de um estreito corredor, onde repousava uma porta entreaberta, como se aguardasse minha chegada. Ao empurrá-la, me deparei com um cômodo modesto, quase claustrofóbico. Havia apenas uma cama de ferro, uma escrivaninha manchada pelo tempo e uma cadeira torta. No chão, jogadas como vestígios de uma presença interrompida, estavam algumas peças de roupa feminina.

Meu coração falhou um compasso. As reconheci de imediato — eram as mesmas roupas que Alice usava no vídeo que havia me enviado. A mesma camisa preta, a mesma delicadeza moldada em tecido agora sujo de poeira e abandono.

Ajoelhei-me com mãos trêmulas. Quando toquei a camisa, um espasmo atravessou meu peito como uma lâmina enferrujada. Eu a havia perdido. Eu a deixei escapar. Meus dedos se fecharam ao redor da peça como se pudessem reter algo do passado, alguma partícula viva de sua presença. Levei o tecido ao rosto. O perfume dela ainda estava ali — doce, familiar, quase cruel em sua persistência. Ao menos isso Nikolas permitia que ela mantivesse: sua essência.

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