Spotter

2.2K 175 74
                                        

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.


Sebak, 20 de dezembro de 2004

Já se passaram dois anos desde que Ghost e eu nos tornamos parceiros, e, com o tempo, mudanças silenciosas começaram a brotar entre nós — como rachaduras invisíveis que só se notam quando já é tarde. Durante boa parte desse período, Ghost pouco me dirigia a palavra, a não ser quando o assunto envolvia operações ou treinamento. Gradualmente, tornei-me indiferente. Se ele não queria manter a amizade como antes, tampouco me esforçaria para resgatar o que, claramente, estava afundando no esquecimento. O tempo nos moldou, e com ele nossa dinâmica também se transformou.

Aos poucos, no entanto, ele passou a se abrir mais — especialmente quando tentava me convencer a aceitar o treinamento de sniper. Mas havia algo que me repelía naquilo. Detestava atirar à distância; preferia o confronto direto, os tiros curtos, o combate físico, o coração disparado. Ficar escondida em um arbusto, esperando o momento certo para eliminar um alvo, era algo que me causava repulsa. Simon, por outro lado, parecia encontrar prazer exatamente nessas situações. Éramos distintos até mesmo nas nossas preferências de combate: enquanto eu fortalecia as pernas carregando parceiros nos treinos, ele se aperfeiçoava nos tiros de longa distância.

No dia anterior, Jones me chamou para uma conversa. Queria que eu atuasse como Spotter para Ghost durante um disparo que ele faria hoje. Nunca havia desempenhado essa função, tampouco treinado para ela. Teria que aprender tudo em menos de vinte e quatro horas. Um desastre anunciado.

Informou-nos também que, após essa missão final em Sebak, entraríamos em período de férias. Não tínhamos os detalhes da operação, mas sabíamos que envolvia a Al-Qatala — uma organização criminosa em crescente expansão.

— Eu acho que vou enlouquecer — murmurei, batendo com os papéis contra a cabeça, frustrada.

Jones me entregara um resumo detalhado das responsabilidades de um Spotter, e agora eu me xingava mentalmente por não ter aceitado o convite de Ghost para treinar com a sniper meses atrás.

— Jones me avisou que você vai ser minha Spotter — Ghost disse, sentando-se na cama e tirando os papéis das minhas mãos. — Tem certeza de que não vai atrapalhar?

— Juro que, se pudesse, dava um tiro bem no meio da sua cara — resmunguei, atirando-me na cama com força e escondendo o rosto no travesseiro.

— Você nunca pegou numa arma de longo alcance, Alice. Essa é nossa última missão antes das férias, e eu só quero ir pra casa logo.

— Sua namorada deve estar morrendo de saudade, já são o quê... três anos longe dela? — provoquei, só para ouvi-lo se engasgar com o próprio ar.

Tirei o travesseiro do rosto para encará-lo, e aquele velho sentimento, abafado por dois longos anos, me atravessou como uma lâmina. Eu precisava saber. Precisava entender se Ghost tinha alguém. Especialmente agora, tão perto de voltarmos para Manchester.

The Ghost's NightOnde histórias criam vida. Descubra agora