[53] O luto.

480 54 47
                                    

Ilha de Paradis, ano 848.

Com o castiçal em mãos, sua única fonte de iluminação relampejava transportando sua sombra para os papéis de parede velhos do palácio que lhe abrigava jazia longos meses. Naquele ponto, descer de fininho aquelas escadas de madeira tornara-se algo costumeiro, movendo seus pés levemente pelas tábuas de forma quase que inconsciente enquanto dirigia-se até o refeitório.

Seu ponto de encontro.

Era como um ritual passar suas madrugada naqueles bancos do exército tomados por cupins, bebendo uma xícara de chá de camomila quente, feito pela pessoa que mais amava naquele mundo. Seu coração acelerou ao perceber que, ele finalmente estava lá, possivelmente lendo o seu jornal ou algum manual estúpido pela terceira vez seguida na tentativa de manter-se são naquele universo caótico.

Naturalmente, ao perceber o reflexo da luz das velas na mesa do refeitório invadindo o seu campo de visão, não conseguiu conter o impulso de abrir um pequeno sorriso ao se deixar levar com rapidez para aquela porta do saguão, apoiando-se nela para inclinar-se de forma sutil com o objetivo de visualizá-lo.

Até que, seu mundo desabou. Ele não estava lá.

Fazia semanas que evitavam um ao outro. Não! Exatamente um mês e meio que não conversavam de forma mais íntima, fora dos treinos exaustivos. Ele não queria vê-la, ao menos, tentava se convencer de que não queria - sempre trazendo desculpas sobre estar ocupado demais por medo de magoa-la ainda mais com a verdade, ou simplesmente não fazia questão de faze-la companhia em seu tempo livre.
Desde então, repetia todas as madrugadas a mesma rota; como fazia no passado, para encontrar-se com ele. E em todas as vezes, seu coração era esmagado contra seu peito apenas com o pensamento - não, a ansiedade, dele ter reconsiderado sua decisão e estar a esperando também, na busca de um pequeno alento pela noite.

Não precisavam necessariamente conversar, mas apenas uma oportunidade de maneira informal em sua companhia era o suficiente, contanto que dividissem a mesma xícara de chá. Para torná-la viva, que tivesse certeza de que, independente de tudo;

Ainda era dele.

Ela o queria de volta. Ela só o queria de volta.

Isso era tudo o que Stella Thompson desejava, enquanto encarava o semblante de Armin Arlet. Seu corpo estava encurvado sobre a mesa, braços envolvendo a cabeça, enquanto soluços abafados preenchiam o silêncio noturno, escapando de sua boca de forma descontrolada.

- Armin..? O que houve? - Perguntou preocupada, enquanto atravessava o refeitório.

Armin ergueu o rosto, os olhos inchados e vermelhos. Ele tentou falar, mas as palavras se perderam. Tudo o que fazia era chorar.

- Está doendo tanto, Stella. Não consigo respirar direito. - Disse com dificuldade, em um tom baixo que misturava-se aos soluços. Ele puxava o ar para dentro dos pulmões freneticamente e não durava sequer um segundo antes de soltá-lo.

Sabia muito bem o que estava acontecendo com Arlet. Situações como aquela se tornaram comuns, acontecendo ao menos duas ou três vezes por semana.

Ansiedade. Ela era a culpada.

Stella sentou-se ao lado de Armin, buscando acalmar o rapaz. Notou a agonia em seus olhos e a dor profunda que parecia atingi-lo.
Uma enorme ferida havia sido aberta em seu coração, latejando como lâminas perfurando sua pele repetidas vezes. A sensação era de um peso em seu peito, impossível de se carregar, acompanhado do vazio gélido que restou após sua partida.

- Respira devagar, Armin. Vai passar. Estou aqui. - Repetia baixinho, envolvendo seus braços ao redor de seus ombros e depositando seu rosto na volta do pescoço, se segurando para não chorar ao seu lado. Mas sabia que precisava ser forte se quisesse ajudá-lo, ao menos, demonstrar-se forte.

PURE BLOOD | Levi Ackerman Onde histórias criam vida. Descubra agora